O mecânico Brian Willis não é nem democrata nem republicano, mas já sabe em quem vai votar.
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Se Trump fosse um carro, seria uma carrinha 'pick up' Chevrolet 3100 de 1954 com oito cilindros, disse à Lusa mecânico Brian Willis, que recupera automóveis de coleção em Elkmont, no estado norte-americano do Alabama.
A pouco mais de uma semana das eleições Presidenciais norte-americanas de dia 3 de novembro, em que o Presidente e candidato republicano, Donald Trump, enfrenta o candidato democrata, Joe Biden, o mecânico não tem dúvidas em quem votar.
"Eu não sou nem democrata nem republicano. Eu sou um trabalhador americano e nesta zona só não trabalha quem não quer trabalhar. Vou votar no (Donald) Trump porque ele é um empresário e não é um político. (Joe) Biden foi político durante 47 anos e só enriqueceu fazendo nada e não quer saber dos trabalhadores para nada", diz à Lusa o proprietário da oficina, onde recupera carros de coleção.
"Aqui o emprego aumentou. É verdade que ele (Donald Trump) devia estar calado muitas vezes, mas veja-se o que ele fez no Médio Oriente: pôs toda aquela gente a falar uns com os outros. Nenhum presidente conseguiu tal coisa e isso é bom para o negócio do petróleo. Nós somos uma sociedade que anda de carro. Isto é senso comum", acrescenta Brian Willis.
Ao fundo da Upper Elkton Road, a oficina Asset Auctions, LLC tem neste momento um Chevrolet Malibu amarelo; um Chevrolet Stringray vermelho; um Mustang para recuperar, vários Ford dos anos 1950 e uma 'pick up' Chevrolet pintada de preto baço e com um motor reluzente.
"Se Trump fosse carro seria uma Chevrolet 3100 de 1954 com estes oito cilindros", diz Brian Willis, enquanto abre o capot para mostrar as peças do motor novo que brilham como prata.
O mecânico, que fala quase sempre atrás de um cigarro, acompanha o processo eleitoral, acusa a comunicação social "de não estar a dizer a verdade sobre a América" e receia instabilidade política e social depois das eleições da próxima semana.
"O país está muito dividido e eu tenho receio do que pode acontecer depois das eleições porque seja quem for que ganhe, o resultado vai provocar distúrbios no país. Eu tenho 57 anos, andei em escolas que segregavam negros aqui no Alabama, mas eu não olho para a cor da pele, eu trato cada um da forma que quero tratar cada um. Não quero saber se são altos ou baixos e não quero saber da cor, mas não é assim que a maioria das pessoas deste país se comporta. Vai haver problemas", afirma.
"Eu falo com muita gente, mas não devemos deixar de ser amigos só porque votamos em partidos diferentes. É como nos carros: eu gosto de um carro vermelho, o outro gosta de carros verdes, não quer dizer que não possamos continuar amigos. Mas este país agora está assim, dividido", lamenta.
Willis, que trabalha sozinho "com a ajuda de dois pastores alemães", diz que já não "liga nada a carros" e que recupera os veículos "apenas por dinheiro".
Os carros chegam à oficina em muito mau estado e saem novos e a brilhar porque "na América existe a cultura dos motores" diz um cliente da oficina com barbas brancas até à cintura e que diz ter uma "enorme coleção".
"Eu sou um 'hillbilly' (termo para designar os habitantes das montanhas) do Alabama e gosto muito de carros, não quero saber de política", diz Jim Pearl que presentemente quer recuperar uma grua Chevrolet que se encontra totalmente enferrujada.
As conversas correm entre política e motores, mas apesar dos apelos ao "bom senso", a crítica contra "os do norte" é permanente.
"A verdade é que nós aqui ajudamos a mandar gente para a Lua. O condado de Madisom, aqui mesmo ao lado, tem mais engenheiros do que Silicone Valley, Califórnia. Eu conheço alguns tipos do ramo automóvel e da indústria espacial que são do norte e que dizem que nós do sul somos 'burros'. Deviam era ter senso comum e calarem-se e ver que aqui do Alabama ajudamos a mandar homens para a Lua", diz o mecânico de carros antigos enquanto arruma as ferramentas.
"Não faltam motores de grande cilindrada aqui no Alabama", conclui Brian Willis, enquanto aponta para o fim da rua e abre os braços na direção da povoação com casas térreas e jardins guardados por cães, plantações de algodão e um Saturn 1B, um foguetão não tripulado que está no fim da rua.