Sebastião Bugalho alerta para "cenário desafiante" na relação entre a UE e os EUA
Eurodeputado antecipa impacto direto dos cortes da USAID, na Europa, e questiona Bruxelas sobre os planos da UE perante os cortes à ajuda externa norte-americana
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O eurodeputado social-democrata Sebastião Bugalho alerta para um “cenário desafiante” nas relações transatlânticas. Em entrevista ao programa Fontes Europeias, da TSF, o eurodeputado enfatiza os efeitos do regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, destacando o impacto dos cortes na ajuda externa norte-americana, em particular na Ucrânia e em África.
“Para ser eufemístico, o cenário tornou-se mais desafiante do que aquilo que esperávamos”, afirma Sebastião Bugalho, durante a entrevista. “A nova administração americana trouxe um conjunto de desafios significativos para a Europa e naturalmente para Portugal como Estado-membro”, sublinhou.
Como resultado dessas preocupações, a delegação do PSD no Parlamento Europeu enviou, ainda na quarta-feira, uma pergunta formal à Comissão Europeia e ao Presidente do Conselho Europeu, António Costa, sobre os planos da União Europeia perante os cortes orçamentais da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).
No documento, os eurodeputados do PSD questionam se foram realizadas avaliações de impacto e de que modo a UE pode colmatar esta redução de fundos “essenciais para a estabilidade, saúde e sobrevivência de tantas populações”. Referem, por exemplo, que, só na Ucrânia, mais de um milhão de deslocados perderam abrigo e 2,7 milhões de pessoas deixaram de ter acesso a cuidados médicos nos últimos três meses. Em África, recordam que metade da população do Sudão sofre de insegurança alimentar aguda, alertando para o risco de uma nova crise migratória comparável à de 2015.
Os deputados afirmam “valorizar a relação transatlântica”. Porém, questionam se estão a ser consideradas parcerias com países terceiros e apelam ao alargamento do debate europeu para preparar uma eventual crise com dimensão “migratória e sanitária”.
Na entrevista, Sebastião Bugalho insistiu na gravidade das consequências do desinvestimento americano, alertando que “neste momento morrem 103 pessoas por hora no mundo devido ao desfinanciamento da ajuda externa norte-americana”. O eurodeputado admite um impacto direto para a Europa, como consequência de um cenário em que múltiplas crises se conjugam “em simultâneo”.
“Quando as pessoas estão doentes, migram. Quando têm fome, migram. E isso terá impacto direto na Europa”, alertou o eurodeputado, sem esconder a sua preocupação parando uma possibilidade que admite como uma realidade já “em 2026”, com uma coincidência de várias crises – migratória, sanitária, de segurança e de abastecimento – que podem ocorrer em simultâneo: “Estamos num ambiente de policrise. O problema é quando essas crises coincidem no mesmo ano e no mesmo continente – o nosso.”
Bugalho defendeu uma abordagem despartidarizada à gestão das fronteiras e à política migratória, considerando que “já há consenso europeu sobre a necessidade de ir além do Pacto de Asilo e Imigração”, mas que “faltam soluções”.
Resposta da UE
A propósito da resposta europeia à nova realidade política nos EUA, o eurodeputado elogiou a Comissão Europeia, pela sua atuação “proativa e dialogante (...) e mesmo irrepreensível”.
“À ameaça de tarifas respondemos na manhã seguinte, com uma resposta também tarifária que proteja o nosso mercado interno e a nossa economia, as nossas empresas e os nossos trabalhadores; à possibilidade de levantamento de sanções dos EUA à Federação Russa, a Europa respondeu na mesma semana, como se sabe, com a aprovação do 16.º pacote de sanções a Moscovo; e quando vimos que o apoio militar e a partilha de informações entre os Estados Unidos da América e a Ucrânia estava a ser ativamente reduzido, a Europa respondeu com o programa de investimento e de reindustrialização da área da defesa europeia, o ‘Rearm Europe”, detalhou.
Autonomia
Sobre a autonomia europeia na área da defesa, defendeu uma estratégia de reforço gradual da capacidade europeia, “sem romper com os Estados Unidos”, considerando seriam necessários que “cerca de 30 anos, ao ritmo atual de investimento, para nos autonomizarmos totalmente”.
“Seria impensável romper politicamente com quem representa 60% das vendas de armamento à NATO e 40% do pessoal militar destacado”, sublinhou.