Oliver Röpke alerta UE sobre impacto da seca considerando que “não se pode deixar os países sozinhos com os problemas da escassez de água”.
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O presidente do Comité económico e social da União Europeia, Oliver Röpke defende a criação de um pacto europeu para a água, com uma estratégia para lidar com os problemas como as cheias ou as secas.
Dentro do conjunto de medidas que quer ver aplicadas já na próximo executivo comunitário, que será formado a seguir ao verão, Oliver Röpke defende a criação de uma pasta específica para água, na futura configuração do colégio de comissários, ou seja, com a nomeação de um comissário europeu da Água. Mas também a atribuição de verbas comunitárias para lidar com o problema que afeta o sul da Europa.
Entrevistado, em Bruxelas, pela TSF, o austríaco chama a atenção para a para o impacto social que a escassez de água tem nas populações dos países mais atingidos, dando o exemplo de Portugal, onde classifica a situação “como muito grave”.
Alertando que os problemas relativos à gestão da água já “afetam toda a Europa”, o presidente do Comité Económico e Social espera que a Comissão Europeia coloque as medidas para lidar com a escassez de água entre as prioridades políticas do próximo mandato.
“Não podemos deixar os países sozinhos com os problemas da escassez de água e do impacto na sua indústria, mas também nos cidadãos, quando se trata de acesso à água potável, gerido de forma segura e a preços acessíveis”, afirmou, esperando que seja adotada uma abordagem abrangente, para lidar com o problema a nível europeu.
“Atualmente, já temos algumas medidas políticas em vigor, mas não uma estratégia abrangente para a gestão sustentável da água. Por isso, temos esta proposta de um acordo azul da UE com uma série de propostas concretas, incluindo a nomeação de um comissário europeu específico que deverá ser responsável pela água”.
O plano assenta em três eixos, a começar por uma avaliação detalhada sobre a escassez de água no espaço europeu, para responder a uma falta de “conhecimento” geral a nível europeu. “Como não dispomos de dados comparáveis de todos os países, precisamos de ter uma imagem clara da situação nos diferentes países. Sabemos que em alguns países mediterrânicos - ou em Portugal a situação é muito, muito grave -, mas também vemos noutros países muitos problemas com a água. Por isso, precisamos de dados, precisamos de conhecimento”, detalhou.
O segundo pilar passa pelo “investimento na melhoria da eficiência da rede de distribuição de água”, sendo o terceiro relativo ao financiamento. “Estamos a pedir um fundo específico para a transição azul. Quem deve ajudar e quem deve ser o ponto de acesso único a nível europeu para investimentos em infraestruturas hídricas”, afirmou, admitindo que "quando todos os dados estiverem reunidos", e dependendo “da política em vigor”, se serão precisos “recursos adicionais”.
No plano que defendem constam “15 princípios orientadores”, entre is quais se defende que “os preços, custos e impostos sobre a água devem ser justos e transparentes e os preços baseados no princípio da recuperação total dos custos”.
No plano internacional, defende-se que “é imperativo” desenvolver políticas para promover o “uso parcimonioso e eficiente da água em todos os setores da economia e da sociedade”, tendo em vista “reduzir a poluição das águas subterrâneas e superficiais, bem como para restaurar águas poluídas e degradadas”.
De acordo com os dados mais recentes, recolhidos pelo nos primeiro dez dias de janeiro, pelo Observatório Europeu da Seca, 13% do território da União Europeia - excluindo a Madeira, os Açores e as Ilhas Canárias -, está em condições de Aviso, que é acionado quando é detetado “défice de humidade do solo”, e uma percentagem de 0,8% do território está em condições de Alerta, ou seja, quando é detetado impacto para vegetação, por via da falta de precipitação e do défice de humidade do solo.
“Verificamos que em toda a Europa há problemas e questões relacionadas com a água: vemos escassez de água, vemos secas, vemos também chuvas intensas”, afirmou Oliver Röpke, sublinhando que existe por esta via “um impacto nos cidadãos, nas infraestruturas, nas indústrias e na agricultura” que “é enorme”.
A agricultura é identificada na declaração para o Blue Deal da UE “como uma grande causa” da escassez de água, mas também como “uma vítima”. Por essa razão, apelam que a UE garanta “através de um plano estratégico, acesso a água de qualidade suficiente e a sua gestão sustentável na agricultura para possibilitar uma produção alimentar adequada e sustentável na UE”.
O presidente do Comité Económico e Social defende agora que “a UE, a Comissão Europeia, e também o Parlamento Europeu, coloquem o Blue Deal da UE como uma prioridade fundamental para o próximo mandato”.
Esta quinta-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen esteve reunida com representantes do sector agrícola, numa iniciativa a que chamou de Diálogo Estratégico sobre o Futuro da Agricultura, porém, sem qualquer menção direta à seca ou aos problemas relacionados com a água.
O discurso foca um conjunto de questões mais amplas relativas à agricultura europeia e à resiliência do setor agroalimentar, assim como os desafios que a agricultura enfrenta, nomeadamente a sustentabilidade, ou as necessidades dos agricultores.
Já o Parlamento Europeu alertou no verão para a crise relacionada com a água na Europa, abordando, em particular, a escassez de água e secas sucessivas, que afetam principalmente Portugal e Espanha, mas também França e o Norte da Itália.
Esta situação está a suscitar preocupações quanto ao abastecimento de água para uso humano, agricultura e produção de energia. A crise da água na Europa é agravada pela dependência de importações de alimentos, que também dependem da gestão da água em outras partes do mundo, e pela crescente pressão sobre os recursos hídricos devido ao aumento da população mundial.