Segunda volta com três candidatos, indicações de voto e desistências. Os cenários possíveis das legislativas francesas
Foram registadas mais de dois milhões de procurações, nove vezes mais do que nas últimas eleições legislativas
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Entre a possibilidade de a França cair num regime de extrema-direita por um lado e a perspetiva de uma Assembleia Nacional dominada por três pólos inconciliáveis, não só esta campanha inesperada de eleições legislativas fraturou o espaço político, como também mobilizou mais eleitores.
De acordo com as últimas sondagens, 63% dos eleitores inscritos vão votar na primeira volta deste domingo, 30 de Junho.Outro indicador da mobilização dos eleitores confirma-se pelo número de procurações: foram registadas mais de dois milhões de procurações, nove vezes mais do que nas últimas eleições legislativas.
Dois indicadores positivos do ponto de vista democrático e que podem vir a favorecer os triangulares para a segunda volta, isto é a passagem de três candidatos a concorrer nos círculos eleitorais na segunda volta. Um cenário que exige aos diferentes partidos políticos que se posicionem rapidamente sobre possíveis desistências ou dar indicação de voto. E particularmente no campo presidencial, que se apresenta nas sondagens como o mais enfraquecido dos três blocos políticos.
Nos últimos dias, os membros do partido presidencial estiveram reunidos em teleconferência com Emmanuel Macron, com o chefe de governo Gabriel Attal, ministros, e dirigentes partidários como Stéphane Séjourné, François Bayrou, Edouard Philippe, Hervé Marseille, e com o antiga presidente da Assembleia Yaël Braun-Pivet.
"A estratégia foi traçada, mas não foi conclusiva", resume um participante. "É impossível definir uma estratégia antes dos resultados de domingo ou conhecer a real dimensão do que vai acontecer",como por exemplo o número de círculos eleitorais onde possam passar três ou quatro candidatos à segunda volta.
Questionado sobre a indicação de voto entre extrema-direita, União Nacional e a nova frente popular, o presidente do Movimento Democrático (MoDem), François Bayrou, aliado do partido presidencial, não quis responder à pergunta. "Perguntam-me : 'François Bayrou o que escolher entre a peste e a cólera?' e eu respondo, estamos aqui para que os franceses não sejam obrigados a fazer esta escolha", defendeu François Bayrou.
Também o antigo primeiro ministro Edouard Philippe, candidato pelo partido horizonte, aliado ao partido presidencial, não respondeu e garantiu "responder a essa questão no momento certo"
No entanto, o antigo primeiro-ministro traçou um cenário possível: "Não existe nenhuma ilusão quanto às várias formações políticas, os candidatos, os eleitores, os militantes que fazem parte dos partidos socialista, ecologista, comunista... e a França Insubmissa ou o NPA, o novo partido anticapitalista, com o qual não partilho nem aceito posições radicais".
Uma postura diferente da do presidente que nunca se refere à Nova Frente Popular, mas sim "à França Insubmissa e os outros à esquerda". Uma posição perigosa alertou a líder dos ecologistas, Marine Tondelier. "O que estão a fazer é extremamente grave e triste. Quero que me expliquem, olhos nos olhos, o que não perceberam e quero que me expliquem também olhos nos olhos por que motivo não fazem a diferença entre a extrema direita e a esquerda", defendeu.
Em França já se pensa na segunda volta das eleições. Num abaixo assinado publicado no diário Le Monde, vários responsáveis de esquerda, entre eles Marine Tondelier, apelam a um acordo de desistência entre todas as forças políticas para fazer frente ao partido de extrema-direita na segunda volta destas eleições legislativas.
