"Sentimo-nos num campo de refugiados." Motoristas em Dover anteveem Natal "dentro do camião"
Milhares de camionistas aguardam num parque improvisado num aeródromo em Dover até fazerem o teste do coronavírus, para poderem atravessar o Canal da Mancha.
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No aeródromo de Dover, onde estão desde as 0h30 de segunda-feira, Joaquim Morais Félix e a mulher esperam para fazer um teste à Covid-19 para poderem seguir viagem para Portugal.
Não sabem ainda quando vão fazer o teste e, em declarações à TSF, afirmam sentir-se "enganados".
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"Estava parado a cerca de três quilómetros do porto de Dover e, entretanto, veio um carro da polícia inglesa ter connosco, a perguntar se a gente queria fazer o teste [à Covid-19], que depois de fazermos o teste e dar negativo, ainda poderíamos embarcar, nesse mesmo dia, para França. Fomos enganados", desabafa Joaquim Morais Félix. "Viemos para a tal morada que ele nos indicou - nós e uma vintena de camiões. Chegámos aqui e verificámos que tínhamos sido enganados."
Neste aeródromo local, os camiões estacionados na pista crescem, cheios de motoristas que aguardam pela hipótese de ser testados ao coronavírus, para depois poderem atravessar o Canal da Mancha.
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"Somos 22 filas e não para de crescer", contam Joaquim e a mulher Juliana, que dizem sentir-se como "refugiados".
"Parece que estamos num campo de refugiados. A única coisa que nos têm dado são garrafas de água pequenas, um pequeno livro com instruções do sítio e, de resto, não tem passado cá ninguém, queixa-se Joaquim, que condena a ausência dos representantes das autoridades inglesas e autoridades portuguesas"português. "Ninguém veio perguntar se precisamos de alguma coisa e se estamos bem."
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No local, foram, pelo menos, já tomadas medidas para garantir que há sanitários e comida disponível para os motoristas.
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"Quando aqui chegámos, na segunda-feira, as casas de banho eram só quatro. Entretanto, começaram a ficar sujas e o pessoal começou a reclamar. Então eles, ontem [terça-feira], ao fim da tarde, colocaram ao longo da pista wc portáteis. Em relação a comer, temos aqui duas rulotes, que ontem à noite estavam a dar hambúrgueres, cachorros quentes, sumos, batatas fritas, chocolate quente, café,...", detalha.
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Com a véspera de Natal a aproximar-se, Joaquim e a mulher anteveem já a hipótese de uma noite natalícia em Dover. Se não conseguirem passar a fronteira até lá, vão "desenrascar" uma ceia de Natal ali mesmo no camião.
"Se a gente não sair daqui antes do Natal, vamos passá-lo os dois aqui dentro do camião. Fazemos qualquer coisita para comer, abrimos uma garrafita de vinho e passamos assim a noite", explica.
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