"Setor da saúde à beira do colapso." Cruz Vermelha alerta que situação em Gaza é "quase catastrófica"
A porta-voz da Cruz Vermelha no Próximo e Médio Oriente confirma à TSF que estão em contacto com Israel e o Hamas para tentar libertar reféns.
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A porta-voz da Cruz Vermelha no Próximo e Médio Oriente, Imene Trabelsi, alerta na TSF que a situação é alarmante e catastrófica. O setor da saúde está à beira do colapso e nas próximas horas também não existirão geradores.
"Em Gaza, a situação neste momento é bastante crítica, quase catastrófica. O setor da saúde está à beira do colapso. As necessidades da população estão a aumentar a cada minuto, enquanto os recursos nas unidades de saúde estão a diminuir de forma dramática. A principal central elétrica de Gaza deixou de funcionar completamente. As pessoas têm de recorrer a geradores, mas as reservas de combustível estão a diminuir muito depressa. O que quer dizer que nas próximas horas, até essa opção deixará de estar disponível", conta Imene Trabelsi.
A responsável confirma que estão em contacto com Israel e o Hamas para tentar libertar reféns.
"Estamos em contacto com todas as autoridades relevantes, incluindo Israel e o Hamas, para garantir que os reféns podem ser libertados, mas também para garantir que as pessoas têm resposta sobre o destino dos seus familiares. Saliento que a tomada de reféns é proibida pela lei humanitária internacional e renovamos o apelo a todas as partes do conflito para que respeitem as suas obrigações legais", salientou à TSF a porta-voz.
A Cruz Vermelha palestiniana perdeu na quarta-feira dois trabalhadores que estavam a prestar cuidados de saúde. Do lado israelita também morreu um elemento parceiro da Cruz Vermelha.
"Há cenas de horror e medo permanente, entre famílias e crianças. Quero também dizer que os trabalhadores humanitários, equipas de primeiros socorros estão a trabalhar em circunstâncias muito difíceis. Ontem, os nossos parceiros da Cruz vermelha palestiniana perderam duas pessoas. Morreram quando estavam a tentar entregar ajuda humanitária e já tinham perdido mais duas pessoas, esta semana. Do lado israelita, a organização equivalente à Cruz vermelha tb perdeu um elemento do staff quando estavam a tentar ajudar a população", relatou.
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"Ouvimos bombas durante as chamadas"
O relato de Muna Odé, que pertence à SAUA, uma organização não governamental palestiniana baseada na Cisjordânia que apoia mulheres e crianças, relatou à TSF que têm recebido centenas de chamadas de Gaza que dão conta de muitas necessidades.
"As chamadas que estamos a receber de Gaza são sobre medicação, abrigos, comida. Nestes casos tentamos juntar recursos em Gaza e referenciar estas pessoas. Outras chamadas são de pais a perguntar como podem lidar com os filhos durante a guerra. Esta é uma das preocupações principais, não só na Faixa de Gaza, mas também aqui na Cisjordânia. Aqui estamos sentados à espera do que vai acontecer. Sei que vem aí alguma coisa, mas não sei bem o quê", afirmou de Muna Odé.
Em Gaza vive-se na expectativa de um ataque terrestre das tropas israelitas.
"Ouvimos as bombas durante as chamadas. Ontem telefonaram de uma escola da ONU que está a servir de abrigo e disseram que não sabiam o que vai acontecer, se vão ficar ali. Têm medo que a escola seja bombardeada. A situação é muito, muito difícil, mas recebemos mais chamadas depois do choque inicial, depois do trauma, por exemplo, sobre crianças que fazem xixi na cama, que têm ataques de pânico ou pesadelos durante a noite", acrescentou à TSF a responsável da organização não governamental palestiniana.
Acredita-se que dezenas de israelitas e estrangeiros, soldados, civis, crianças e mulheres, estejam nas mãos do Hamas na Faixa de Gaza, desde o início da ofensiva. As autoridades israelitas identificam 150 reféns, enquanto centenas de pessoas continuam desaparecidas e corpos continuam a ser identificados.
O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, também lançou um processo de negociações com o Hamas para obter a libertação dos reféns, disse uma fonte oficial à agência de notícias France-Presse na noite de quarta-feira.
O Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007, lançou a 7 de outubro um ataque surpresa contra o território israelita, sob o nome de operação "Tempestade al-Aqsa", com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de rebeldes armados por terra, mar e ar.
Em resposta, Israel bombardeou a partir do ar várias instalações do Hamas naquele território palestiniano, numa operação que batizou como "Espadas de Ferro". O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que o país está "em guerra" com o Hamas, que foi internacionalmente classificado como movimento terrorista não só por Israel, como pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) e por outras nações.
Israel, que impôs um cerco total à Faixa de Gaza e cortou o abastecimento de água, combustível e eletricidade, confirmou mais de 1200 mortos e 3700 feridos desde o início da ofensiva do Hamas, apoiada pelo Hezbollah libanês e pelo ramo palestiniano da Jihad Islâmica.