Voou do Irão uma hora antes do abate do avião ucraniano, mas ainda teve tempo para assistir a uma "semana trágica" para o país. O sheik Munir, da Mesquita Islâmica Central de Lisboa, garante, no entanto, que o Irão é um país "seguro".
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"Depois de o general Soleimani ter sido assassinado, morreram 50 pessoas durante o funeral. Não foi possível fazer o funeral no dia em que queriam fazê-lo. Depois, num autocarro morrem 20 pessoas. Depois, num último episódio, para alastrar a desgraça, houve a queda do avião." O sheik Munir, líder da Mesquita Islâmica Central de Lisboa, esteve no Irão na última semana, a que considera ter sido "trágica" por uma sucessão inédita de eventos.
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O líder da mesquita lisboeta acompanhou alguns dos dias mais turbulentos da História moderna do Irão, mas não hesita em dizer que ainda se trata de um território onde se pode andar livremente e em segurança.
A imagem que tem é a de "um país seguro", onde " homens e mulheres andam normalmente, e há mulheres que andam sozinhas". O sheik faz por isso questão de frisar que "aqui no ocidente temos uma ideia completamente diferente daquilo que se passa no Irão".
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Afetado pelas tensões crescentes com os Estados Unidos e a crise política interna, o Irão é também um cenário de elevado interesse turístico e riqueza cultural, lembra o representante da mesquita de Lisboa. "Conheço portugueses, que não são muçulmanos, e, quando eles acabam a visita e regressam, ficam com uma ideia completamente diferente do Irão, das pessoas, dos lugares históricos, da tradição persa..."
A normalidade foi devolvida aos dias vividos no país do Golfo Pérsico, mesmo depois do violento impacto com que a morte do general Soleimani atingiu o território. No entanto, o sheik Munir considera que esta é sobretudo uma perda para o regime. "Eu estive lá. Quer dizer, não fui ao funeral porque era impossível. Era quase num canto de Teerão e, do outro lado, as pessoas conviviam normalmente..."
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"Claro que as fotografias dele eram expostas em todos os lugares públicos, mas um dos canais televisivos, depois de falar sobre a morte, falou sobre desporto, sobre o basquetebol iraniano, e depois ainda falou sobre a NBA", relata, em entrevista à TSF.
O sheik Munir, convencido de que esta "foi mais uma perda para o regime do que concretamente para o povo em si, e de que eles vão ter de suportar e ultrapassar todas essas crises, com o apoio da comunidade internacional", continua a acreditar que a "vida corre normalmente".
O "normal" não inclui o extraordinário dos últimos anúncios governamentais. O Governo iraniano garante não ter tentado ocultar a responsabilidade das autoridades no acidente com o avião abatido em Teerão, depois de no fim de semana ter assumido ter estado por detrás do lançamento do míssil de cruzeiro. Nem mesmo inclui a intervenção da polícia esta segunda-feira nas manifestações populares na capital iraniana.
Ainda assim, o sheik, que visitou há dias a cidade, admitiu ter tido sorte. O avião ucraniano que não chegou ao destino "por acaso saiu uma hora depois do nosso avião". Uma hora entre voos foi o suficiente para que o líder da mesquita lisboeta chegasse a Portugal em segurança.
"Um parque verde ao pé da mesquita agrada-me"
Chegado a Lisboa, o sheik recebeu a informação dos novos constrangimentos ao trânsito na zona onde se situa a Mesquita Islâmica Central de Lisboa. "Estou preocupado com a notícia, porque a mesquita está mesmo na Praça de Espanha. Esperemos que essas obras não dificultem ainda mais o acesso."
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Com mais trânsito junto à mesquita, o sheik Munir desvaloriza possíveis complicações, já que compreende a intenção da Câmara, de "remodelar a cidade".
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Além disso, a ideia de ter "um parque verde" na zona é do agrado do sheik. "Há uma cor que é a mais usada pelo islão. É o verde, portanto um parque verde ao pé da mesquita agrada-me", argumenta.