Líder do partido, Michele O'Neill, fala de uma "nova era" e de um "momento muito importante de mudança".
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O partido nacionalista da Irlanda do Norte, Sinn Féin, conseguiu uma vitória histórica nas eleições do país e tornou-se, pela primeira vez, no maior partido da Assembleia Nacional, elegendo 27 deputados contra apenas 24 do Partido Democrático Unionista (DUP).
O antigo braço político do Exército Republicano Irlândes (IRA) vai agora poder nomear um primeiro-ministro e chefiar o governo de Belfast, situação inédita desde que o país foi fundado, já que há quase um século que todos os governos regionais têm sido liderados por unionistas, que se consideram britânicos.
Esta vitória do Sinn Féin torna mais real a possibilidade de uma futura Irlanda unida, algo que só seria conseguido com um referendo nos dois territórios, como se estipula no Acordo de Sexta-Feira Santa, que pôs fim a anos de conflito entre nacionalistas católicos e unionistas protestantes.
O grande desafio do partido é agora o de formar Governo dado que, por causa do Acordo de Paz de 1998, nacionalistas e unionistas são obrigados a partilhar o poder.
Nessa dimensão, o DUP - que tem vivido um período de instabilidade, dispersando o eleitorado para os outros três partidos unionistas - já reconheceu a derrota mas informou que poderá boicotar um governo liderado por um primeiro-ministro nacionalista e republicano e sem mudanças no estatuto pós-Brexit da província.
"Parece certo que o Sinn Féin vai surgir como o principal partido", afirmou o líder do DUP, Jeffrey Donaldson, à Sky News, citado pela agência France-Presse (AFP).
A líder do Sinn Féin da Irlanda do Norte, Michele O'Neill, afirmou que a província britânica está a entrar "numa nova era" com a vitória histórica do seu partido.
"Hoje é um momento muito importante de mudança", disse, citada também pela AFP.
"Irei oferecer uma liderança inclusiva, que celebre a diversidade, que garanta direitos e igualdade para aqueles que foram excluídos, discriminados ou ignorados no passado", acrescentou O'Neill.
Com a vitória do Sinn Féin, Michelle O'Neill concorrerá ao cargo de ministra-chefe, funções nunca ocupadas por um político nacionalista nos cem anos de história daquela província britânica.
Após assegurar o cargo, Michelle O'Neill reiterou, na sexta-feira, que quer "trabalhar em cooperação com os outros" grupos políticos para resolver problemas que afetam a cidadania, como "o custo de vida ou a saúde".
O Sinn Féin falou durante a campanha eleitoral destes assuntos, mas a questão da reunificação da Irlanda chamou mais uma vez a atenção do sindicalismo num momento em que o Brexit ameaça colocar em risco a união com a coroa britânica.
O Partido Unionista Democrático, maioritário nos últimos 20 anos, tinha já dito na sexta-feira que não fará parte de um governo de coligação se as conversas mantidas por Londres e Bruxelas não levarem à eliminação do protocolo do Brexit para a região.
O Partido Unionista forçou a queda do governo em fevereiro último e agora não tem intenção de apresentar, no caso de ficar em segundo lugar nestas eleições, um candidato ao cargo de vice-ministro-chefe de Michelle O'Neill.
A Aliança pode agora firmar-se na terceira posição, não muito distante do Partido Unionista, para entrar com força no próximo executivo -- contando, agora, com 15 lugares.
O Brexit, rejeitado pelo eleitorado da Irlanda do Norte no referendo de 2016, teve consequências negativas no resultado do Partido Unionista, que continua a defender o Brexit, o que provocou a "divisão" do bloco protestante, segundo Jeffrey Donaldson.