Eurodeputado do PCP critica UE por não ter uma atuação “mais frontal” no Médio Oriente, nomeadamente, sobre a atuação de Israel
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O eurodeputado João Oliveira (PCP) expressa “muita preocupação” face aos mais recentes acontecimentos na Síria, após a queda do regime de Bashar al-Assad, considerando tratar-se de uma situação que só agrava a instabilidade no Médio Oriente.
“Quem tiver ainda uma memória fresca daquilo que aconteceu na Líbia, só pode olhar com preocupação para a Síria”, afirmou o eurodeputado, frisando que já “aconteceu o mesmo na Líbia”, onde “a propósito do derrube do pretenso ditador, a Líbia, neste momento, é um Estado falhado, que não existe”.
“É um território onde grupos da mais variada proveniência se degladiam numa guerra interminável, com situações de escravatura humana que julgávamos impensáveis no século XXI, e que voltaram àquele território”, afirmou o eurodeputado, entrevistado pela TSF, no programa Fontes Europeias.
O eurodeputado salienta que “aquilo que aconteceu” na Síria resulta da “ocupação de uma grande parte do território por forças diversas, grupos terroristas que há muitos anos andavam a ser mobilizados e armados, precisamente para desenvolverem este tipo de operação”.
“Alguns têm como proveniência a antiga Al-Qaeda”, afirmou João Oliveira, sustentando que “aquilo a que estamos a assistir na Síria é parte de um projeto mais global de redefinição de todo o contexto político e social daquela região, de maneira a conformar aquele território em função dos interesses dos Estados Unidos e do seu principal aliado naquela região, que é Israel”.
Citando ainda o caso do Iraque e o derrube de Saddam Hussein, João Oliveira afirmou que o discurso foi o mesmo: “Há sempre um bom pretexto para esconder péssimas políticas e péssimas orientações do ponto de vista do desrespeito pela soberania dos Estados e dos povos, pela ingerência nos assuntos dos povos e dos países."
“A pretexto do ditador e a pretexto da defesa da liberdade e da democracia, conduziram aqueles países à desgraça que nós conhecemos. Encontramos sempre o mesmo denominador: a pretexto da defesa da liberdade, a pretexto da democracia, a pretexto da luta contra qualquer ditador, desmembram-se países, desagrega-se o território, desagregam-se Estados, de maneira a que, no meio daquela confusão e do caos, alguém, naturalmente, pela força, vai tirando os benefícios que quer tirar daquela situação”, comentou.
O eurodeputado considera que a União Europeia, “em vez de funcionar como agente instigador e agente de promoção deste tipo de destabilização e de ingerência”, deveria “atuar no sentido contrário, de defender a soberania dos povos, defender a soberania dos Estados, de defender soluções políticas para conflitos”.
Segundo o eurodeputado do PCP, a situação na Síria vem acrescentar preocupações, face à “frágil” situação no Médio Oriente, “particularmente em relação à Palestina e àquilo que está a acontecer na Faixa de Gaza, ininterruptamente, há anos”.
“É uma política que é verdadeiramente uma política de genocídio”, critica o deputado, dando a entender que esperava uma atuação “mais frontal” da parte da União Europeia.
“Estamos a assistir a genocídio diante dos nossos olhos. Uma coisa que nós pensávamos impossível de acontecer no século XXI, mas a verdade é que está a acontecer diante dos nossos olhos, e, eu diria, com o risco de muita gente se arrepender eventualmente no futuro, de não ter tomado uma posição mais ativa e mais frontal, não só na denúncia, mas na exigência, sobretudo quando se está a falar do conflito israelo-palestiniano."