Com um enquadramento geológico "razoavelmente ativo", a Albânia está a ter dificuldades em resgatar as vítimas entre os escombros. As consequências das réplicas, explica o presidente do IPMA, devem-se à superficialidade do ponto onde são formadas.
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O presidente do IPMA e geofísico Miguel Miranda analisou os sismos que estão a atingir a região adriática e não tem dúvidas: o impacto destes fenómenos deve-se à superficialidade da atividade sísmica.
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Sismos "muito superficiais" provocam estragos elevados
Para compreender a forma como estes sismos estão a afetar a Albânia, é necessário, em primeiro lugar, compreender o enquadramento geológico do país, refere Miguel Miranda, geofísico e presidente do IPMA. "A Albânia faz parte da região do Adriático, que é uma região razoavelmente ativa do ponto de vista sísmico. Corresponde à zona de confronto entre a placa Africana e a placa Eurasiática", esclarece Miguel Miranda, ouvido pela TSF.
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No entanto, o que tem sido mais problemático nestes abalos é a superficialidade com que atingem a terra. "O que têm de especial estes sismos que têm atingido a Albânia é serem muito superficiais. As profundidades são da ordem dos dez quilómetros", aponta o presidente do IPMA. Por isso, Miguel Miranda teme que o número de vítimas ainda vai aumentar. "Um sismo de magnitude 6 muito perto de uma zona habitada e muito superficial gera sempre um efeito muito grande na construção", justifica.
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Relação "indireta" com crise sísmica nos Açores
Os mais recentes sismos na ilha do Faial têm uma relação apenas indireta com as ocorrências desta terça-feira na Albânia. "Não há uma relação direta, mas há uma relação indireta porque o movimento é o mesmo: entre o grupo central dos Açores desenvolve-se um conjunto de cristas. À medida que essas duas placas se vão afastando, vão nascendo cristas oceânicas, a sudoeste do Faial, e esse nascimento é sempre acompanhado de uma atividade sísmica e provavelmente vulcânica", analisa o geofísico.
Apesar de, de um ponto de vista global, haver uma redução da atividade sísmica, Miguel Miranda lembra que "os sismos são inevitáveis, e estão essencialmente localizados nas zonas de fronteira de placa". Portugal tem, de acordo com o presidente do IPMA, "uma configuração nacional que ocupa várias fronteiras de placas, e por isso é bom que nos preparemos para sermos capazes de ser resilientes à ação sísmica".
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E os sismos podem mesmo chegar a Portugal continental: "Lisboa ainda está ligeiramente distante da fronteira de placa, que passa mais junto ao sul de Portugal, apesar de haver estruturas tectónicas ativas muito perto da cidade de Lisboa."
Miguel Miranda lembra que "estamos a falar do mesmo segmento de fronteira de placas que atravessa o Mediterrâneo e os Açores" e deixa ainda o alerta: "Nós temos tido sismos com muita intensidade mas pouca frequência. No entanto, sabemos que os sismos não têm uma periodicidade propriamente dita e portanto o que sabemos é que eles irão seguramente acontecer."