"Situação é bastante caótica." Português descreve uma Venezuela sem luz há mais de 24 horas
Serviços de água, telefone e Internet estão a ser fortemente afetados.
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A Venezuela vive horas difíceis, com constantes falhas de energia. Grande parte do país está há mais de 24 horas sem luz e os serviços venezuelanos ainda não conseguiram garantir o abastecimento regular de eletricidade.
Fernando Campos, um português em Caracas, conta à TSF que a situação no país ainda não está estável e difere de região para região.
"A luz voltou à cidade de Caracas e a outras cidades do interior, mas durou apenas umas horas e voltou a cair o sistema elétrico nacional praticamente na sua totalidade. Neste momento, são 19h45 na Venezuela [23h45 de sexta-feira em Lisboa], a cidade de Caracas continua com muitas zonas sem luz. Logicamente, isso afeta muitos outros serviços: água, serviços telefónicos - sobretudo móveis -, a Internet está muito instável também. A situação é bastante caótica, os transportes públicos praticamente não funcionaram durante todo o dia, foram muito escassos. Muita ausência laboral, poucos negócios abertos", explicou.
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O português acrescenta que "as horas têm sido bastante difíceis. Há várias zonas da cidade com luz, mas os telefones públicos continuam sem funcionar." Este corte ocorreu após uma avaria na central hidroelétrica de Guri, situada no Estado de Bolívar, no sul do país, e que abastece de energia cerca de 70% do país.
Uma das principais preocupações dos habitantes de Caracas é, neste momento, assegurar a conservação da pouca comida que têm em sua posse.
"A comida é difícil de adquirir, neste momento, na Venezuela, seja pela pouca quantidade que há em oferta, seja pela dificuldade que as pessoas têm, do ponto de vista económico, em adquirir os bens de primeira necessidade. Temos uma moeda muito desvalorizada, um salário mínimo não compra absolutamente nada. Compra três quilos de batatas, para terem uma ideia. Perder comida por uma situação como está é realmente complicado", lamenta.
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Essa perda de comida está, aliás, a acontecer, como relata. "Com certeza que haverá muita gente a perder comida. No dia dois viu-se, nos supermercados - quando alguns estavam abertos - que as pessoas iam comprar muito gelo para tentar conservar a comida que tinham. Com esta situação, é normal que muita gente tenha perdido muita comida", explica o português.
Sabotagem ou um problema anunciado?
O presidente do parlamento venezuelano, Juan Guaidó, que se autoproclamou em janeiro Presidente interino da Venezuela, apontou esta sexta-feira a inépcia e a corrupção, e não a sabotagem, como as causas da crise elétrica que se vive no país.
"Estão a desculpar-se, como sempre, com a sabotagem, [mas] não existe sabotagem, é simplesmente a corrupção, a falta de manutenção, a falta de técnicos especializados", disse Guaidó à imprensa, após presidir a um ato de comemoração do Dia Internacional da Mulher, no leste de Caracas.
Fernando Campos explica que "o Governo Nacional continua a falar de sabotagem. Contudo, há informação de pessoas que entendem do assunto e que continuam a falar de uma grande falta de manutenção do sistema elétrico nacional que tem levado a esta situação. O país tem uma energia elétrica que é quase dada, o que se paga de luz aqui na Venezuela é praticamente nada. Os investimentos nos últimos anos têm sido muito escassos. Isto, também com o problema de seca que aconteceu, sobretudo, no ano passado", relembra.
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Ainda assim, Fernando Campos fala de uma situação que já se adivinhava. "Sente-se que a falta de manutenção oportuna dos equipamentos do sistema elétrico nacional levou a esta situação. É uma situação já anunciada há muito tempo por várias pessoas, não só da oposição mas também do Governo."
Para já, fica a apreensão quanto ao que se vai passar nas próximas horas. "Muitos setores de Caracas e da Venezuela continuam sem sistema elétrico. Das partes altas dos prédios veem-se zonas com luz, outras sem luz. Esperemos para ver o que vai suceder."