"Situação está a ficar extremada." Como um português em Hong Kong vive a violência dos protestos
Fernando Dias Simões, um português que dá aulas em Hong Kong, relata à TSF a situação vivida no território autónomo chinês, atingido por uma onda de manifetsações violentas.
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Há uma escalada da violência em Hong Kong. Na última madrugada, a polícia invadiu a Universidade Politécnica, onde centenas de manifestantes antigovernamentais se mantinham concentrados com bombas incendiárias artesanais e outras armas caseiras. A imprensa local adianat que há ainda cerca de 500 pessoas barricadas na instituição, muitas delas gravemente feridas. E apesar do acordo de cessar-fogo alcançado entre o diretor da universidade e as autoridades, a polícia disparou gás lacrimogéneo contra manifestantes que tentavam escapar, temendo ser detidos.
A TSF ouviu um cidadão português que vive em Hong Kong e está a acompanhar a situação no local. Fernando Dias Simões, professor da Faculdade de Direito da Universidade Chinesa de Hong Kong, garante que a situação está a piorar e que os protestos estão a afetar a segurança e o dia-a-dia de quem vive na cidade.
"A situação está a ficar extremada; já vem crescendo há bastantes meses, mas agora está a chegar a um ponto em que está a perturbar a vida diária das pessoas", explica o português. "Nas zonas que estão a ser mais afetadas pela violência, os negócios fecham (...) e há muito maior bloqueio de estradas", relata.
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O professor universitário conta que o principal rosto dos protestos são os estudantes, mas que há também muitos trabalhadores que não se reveem na política de Pequim.
"A maior parte das pessoas que vemos nos protestos são jovens, mas é difícil ter um barómetro para perceber que percentagem da população está com os estudantes", indica Fernando Dias Simões. "Há diversos setores de protesto. Durante a semana, na zona financeira, também há pessoas que trabalham em escritórios e aproveitam a hora de almoço para se manifestarem pacificamente", aponta.
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Uma vez que grande parte dos protestos mais violentos estão a acontecer em universidades, as instituições de ensino superior estão já a tomar medidas para tentar lidar com o problema a longo prazo.
Fernando Dias Simões conta que as aulas foram canceladas "até ao final de dezembro" - vão ser "gravadas em casa" pelos professores e depois "disponibilizadas aos alunos na internet".
"As universidades estão a lidar com o problema, estão a monotorizar a situação conforme ela vai evoluindo", refere. "A longo prazo, ninguém pode dizer quanto tempo isto vai demorar ou qual vai ser a saída para este impasse (...). Nada dá a entender que esta perturbação desapareça de um dia para o outro."
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A contestação social em Hong Kong foi desencadeada pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial chinesa a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
A proposta foi, entretanto, formalmente retirada, mas as manifestações generalizaram-se e reivindicam agora a implementação do sufrágio universal no território, a demissão da atual chefe do Governo, Carrie Lam, uma investigação independente à violência policial e a libertação dos detidos ao longo dos protestos.