Galyna Akhmadzai fugiu da guerra e vive há mês e meio em Portugal. No início do conflito falou com a TSF a partir de Kiev, quando teve que passar vários dias num abrigo, e depois a partir da Polónia.
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A 7 de março, Galyna Akhmadzai dizia na TSF que não sabia se algum dia iria voltar a conseguir ter o sono descansado. Agora está em Portugal e conta que as imagens dos dias de guerra ainda a fazem acordar a meio da noite. "Já estou em Portugal desde 11 de março, a última vez que falamos eu ainda estava em Kiev e depois tive oportunidade para sair e acompanhar crianças num comboio humanitário para a Polónia. Fiquei dois, três dias em Varsóvia e consegui uma viagem de avião para o Porto."
A viagem de avião foi oferecida por amigos portugueses, que têm ajudado Galyna na nova vida. "A vida aqui para mim é quase fácil, eu falo bem português e tenho muitos amigos aqui. Mas com aquele sentimento de saudades da minha terra, sempre preocupada pelo meu país. É triste."
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Ao ouvir o som de um avião, Galyna hesita... as marcas dos dias vividos em guerra continuam bem visíveis. "Sempre estou atenta aos barulhos de aviões, sempre. Ontem à meia-noite ouvi foguetes e todos nos levantamos da cama. Ficamos assustados. É daquelas coisas que não vão desaparecer tão rápido. Aqui já durmo melhor, mas muitas vezes acordo a meio da noite e não sei onde estou. Isso começou depois das noites que passamos no abrigo em Kiev. Qualquer barulho que ouça fico sempre... Acho que isso vai ficar sempre na memória de todos nós que passamos por isso".
Galyna Akhmadzai deixou família na Ucrânia, fala como eles todos os dias. "Tenho primas, tias, estão bem... Estão na parte oeste da Ucrânia e estão bem. Mas também tenho primas que já voltaram para Kiev e até já estão a trabalhar."
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Saiu de Kiev com apenas uma mochila. Em Portugal, Galyna está a receber apoio da segurança social, um cabaz alimentar mensal, frequenta um curso através do Centro de Emprego. "Quando cheguei a Portugal isto ainda não estava muito preparado ou organizado, mas agora está tudo muito organizado e é muito fácil. Tenho uma amiga que chegou há duas semanas e já tem toda a documentação, é muito fácil conseguir documentação, ir ao centro de emprego ou ter ajuda da câmara municipal".
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Neste momento partilha casa com duas amigas ucranianas, uma chegou com a filha de 4 anos, que já está na pré-escola, mas para ambas o português é uma língua desconhecida. "Pelo que vejo os ucranianos que chegam a Portugal e não falam português, e têm dificuldade em falar inglês, têm dificuldades para ter emprego. Para trabalhar tem que saber pelo menos português básico ou inglês... Mas eu acho que o curso de português que temos através do centro de emprego ajuda muito, é um curso intensivo, são duas aulas por semana mas é quase o dia todo."
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Galyna Hackmadzay acaba de conseguir emprego numa empresa de seguros, uma área nova, começa a trabalhar no próximo mês. O regresso à Ucrânia não faz parte dos planos a curto prazo. À noite quando se deita faz sempre o mesmo pedido. "Só quero que na minha terra haja paz e acabe esta guerra e o meu país comece a viver a vida normal. Que não haja crianças a sofrerem, a morrerem, famílias... eu só quero paz na minha terra. Não peço nada para mim, tenho tudo!".