
Omar mostra uma fotografia de quando estava na cadeia
Foto do Facebook de Omar Alshogre
Omar Alshogre foi preso pela primeira vez aos 15 anos por ter participado numa manifestação pacífica. Dez anos depois, não esquece o que passou e ficou feliz com a decisão do tribunal alemão.
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Omar Alshogre acompanhou todo o processo, que decorreu num tribunal da cidade Koblenz e admite que o veredicto não podia ter corrido melhor.
O ex-militar foi condenado por crimes contra a humanidade. Os juízes não tiveram dúvidas de que ele foi o responsável pela tortura de cerca de 4 mil pessoas, por pelo menos 30 assassinatos extrajudiciais e por diversos crimes sexuais. Ele foi condenado a prisão perpétua, sem possibilidade de libertação antecipada.
Ouvido pela TSF, o jovem que sobreviveu às cadeias do regime de Bashar al-Assad, aplaude a decisão e diz que começou a ser feita justiça. "Senti-me muito aliviado, espantado, feliz e satisfeito porque, pelo menos uma das pessoas responsáveis pela morte e tortura de milhares de sírios, não vai poder fazer isso outra vez. Saber que a porta da justiça se abriu foi também muito importante. Vou poder dizer à minha mãe, aos meus amigos e ao povo sírio que a pessoa responsável pelo sofrimento de tantas famílias está presa," explicou Omar.
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O jovem de 25 anos, que vive agora na segurança do exílio na Suécia, acredita que um dia vai ver o presidente sírio no banco dos réus. Defende que este foi o primeiro passo, um passo importante para o povo porque cria esperança sobre o que se pode seguir: "Acredito que poderemos julgar o presidente pelos crimes que praticou e deixou acontecer."
Omar não esteve na cadeia dirigida pelo antigo militar, agora condenado, mas explica que o ramo dos serviços secretos em Damasco é semelhante aquele responsável pelos locais onde passou muito tempo. A tortura sistemática era a mesma, os guardas torturavam os detidos para conseguirem informações ou confissões forçadas. As condições de vida desumanas eram também iguais.
O jovem sírio lamenta que a cadeia de Al-Khateeb, que o antigo militar dirigia, e a de Sednaya, onde ele próprio esteve, continuem abertas e sejam a razão pela qual milhares de sírios e famílias continuem a sofrer. Para ele, só esse facto é um crime contra a humanidade.
Quanto ao facto de a Alemanha estar a dar passos importantes em defesa dos povos de diversas partes do mundo, Omar Alshogre diz que o país deve ser um modelo para outros estados que têm a capacidade de fazer justiça.
A Alemanha, numa decisão inédita, condenou no final do ano passado, um cidadão iraquiano que integrou o estado islâmico. Ele foi condenado a prisão perpétua por genocídio da minoria yazidi, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e tráfico humano. Agora, pela primeira vez, julgou e condenou um alto responsável do regime de Bashar al-Assad.
Omar elogia a coragem do país e agradece que os alemães tenham assumido a responsabilidade de garantir que a justiça seja cumprida. O jovem acrescenta que o povo sírio só pode estar grato também pelo facto de a Alemanha ter recebido milhares de refugiados sírios.
A primeira vez que a TSF falou com Omar Alshogree foi dois anos depois de ele ter conseguido escapar da cadeia. Quando fugiu tinha 18 anos e depois de anos de tortura e fome pesava 35 quilos. Em 2017 tinha chegado há pouco tempo a Estocolmo, falava mal inglês e estava claramente traumatizado. Tinha ainda dificuldade em descrever aquilo por que tinha passado. Desde aí Omar tornou-se um ativista conhecido em todo o mundo, tem viajado por vários países e ainda, no final do ano passado, esteve na ONU a acusar diretamente os embaixadores da Rússia e da China por ajudarem o regime de Bashar al-Assad e inviabilizarem, no conselho de segurança, qualquer moção que ajude o povo sírio.