Gunter tem 78 anos e foi refugiado durante a Segunda Guerra Mundial. Zaher fugiu da guerra na Síria e é refugiado na Jordânia. A separar estas histórias estão 70 anos, agora juntas por cartas.
Corpo do artigo
"Tenho 78 anos e vivo nos Estados Unidos. Há 70 anos, quando tinha 8 anos como tu, também era um refugiado. Escrevo para partilhar a minha história contigo e para te dizer que mesmo com todas as coisas más, há pessoas boas no mundo que podem tornar tudo melhor".
As palavras são de Gunter Nitsch, um consultor de marketing reformado a viver em Chicago, e abrem a carta destinada a Zaher, um menino sírio de 8 anos, refugiado na Jordânia. Durante a Segunda Guerra Mundial, Gunter e a família viveram num capo de refugiados na Alemanha e foram dos primeiros a receber os pacotes CARE - caixotes de cartão com mantimentos que chegavam dos Estados Unidos e que muitas vezes significavam a sobrevivência.
Setenta anos depois, é ele quem envia um caixote. Lá dentro, cadernos e canetas, um gorro de lã, chocolates e fotografias - de hoje e dos tempos em que estava do outro lado. A encomenda completa-se um avião de papel feito por Gunter, onde escreveu "Linhas Aéreas Zaher" e a carta, onde também deixa conselhos.
"Espero que a tua vida mude para melhor em breve. Onde quer que estejas, tenta aprender o mais que possas lendo livros. Vai chegar o dia onde esse esforço vai ser compensado".
Uma semana depois, em Irbid, na Jordânia, Zaher recebeu a embalagem. Viu as fotografias e encontrou semelhanças com o avô. Disse que se algum dia conhecer Gunter, vai falar-lhe da escola, dos amigos, da professora favorita. Partilhar também com ele a sua história.
Zaher e Gunter são um exemplo das ligações criadas pela CARE, que quis assinalar os cinco anos de guerra na Síria chamando a atenção para as crianças refugiadas e levando palavras de esperança de quem já passou pelo mesmo. Há também o caso de Sajeda e Helga, de Shadi e Joe ou de Duha e Renata. "Entrega Especial: Cartas de Esperança" é o nome desta iniciativa.
[youtube:i0vMUkHLsfw]
A CARE permite a qualquer pessoa enviar uma mensagem de esperança para a Síria através do site. "Lembre-lhes que não estão esquecidos, que o mundo se importa", diz a associação, "pode fazer toda a diferença saber que não se está sozinho".
Os pacotes CARE: uma história de solidariedade que atravessou o oceano
A história começa há 70 anos. No final da Segunda Guerra Mundial surge a CARE (Cooperative for American Remittances to Europe, em português, Cooperativa de Remessas Americanas para a Europa), uma associação que tinha como objetivo ajudar famílias europeias que tinham sofrido consequências da guerra.
A ajuda chegava por correio. Aproveitando o que tinha sobrado dos caixotes enviados pelas Forças Armadas norte-americanas para os soldados no Japão (conhecidos como "10-in-1"), a CARE cria pacotes de cartão com mantimentos para entregar a famílias na Europa.
Carne enlatada, bacon, margarina, frutas em conserva, mel, chocolate, açúcar, ovos em pó, banha, uvas passas, leite em pó e café. Mais tarde, as embalagens passaram a levar também cobertores, ferramentas, roupa, livros, medicamentos.
Pacotes de cartão que muitas vezes significavam a sobrevivência. Os norte-americanos que quisessem ajudar compravam o pacote e o destinatário recebia-o em quatro meses.
A primeira remessa de 20 mil caixotes chegou a 11 de maio de 1946 ao porto de Le Havre, em França. Quase 70 anos depois, a CARE continua ativa com a missão de combater a pobreza em todo o mundo.