"Sofrimento e raiva." Português a viver na Grécia descreve "inferno" na ilha de Rodes
Tristeza, frustração e raiva são os sentimentos dominantes na população com a destruição florestal.
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Hugo Vieira, um português que vive com a mulher na Grécia há cerca de seis anos, contou à TSF que a ilha de Rodes está a viver um "inferno" desde que os incêndios começaram, há sete dias. Esta segunda-feira o fogo continua a levar à retirada de pessoas. Já serão mais de 30 mil e tem havido cortes de energia.
"Estamos há cerca de duas horas com um corte de eletricidade e estamos também a ter problemas com ligação à Internet. Até há duas horas, as notícias que chegavam até nós não eram as melhores, ou seja, temos três frentes ativas no centro e sul da ilha. Foram dadas novas ordens de evacuação a mais aldeias. Tanto quanto temos conhecimento serão três a quatro aldeias no sul e, obviamente, toda a linha costeira e os resorts que estão perto dessas aldeias. Aos turistas foram dadas ordens de evacuação também para a capital", contou Hugo Vieira.
Tristeza, frustração e raiva são os sentimentos dominantes na população com a destruição florestal.
"Neste caso em particularonde estamos, na ilha de Rodes, que é um dos principais destinos turísticos não só da Grécia, mas também da Europa e do mundo, segundo o que nos contaram há cerca de 30 anos tinha havido também um incêndio florestal, mas felizmente foi possível ser contido. Se olharmos no mapa, toda a ilha a partir do centro e sul é verde, é de um verde esmeralda. Aliás, é um dos apelidos da ilha além de ilha dos cavaleiros, a ilha do sol. Posso garantir-lhe que o sentimento aqui é de sofrimento e raiva, frustração por aquilo que está a acontecer. Há mais perguntas do que respostas", afirmou à TSF o português.
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Hugo Vieira destaca que Rodes tinha uma das áreas de floresta virgem mais bem preservadas e antigas da Europa. Não há, até à data, registo de vítimas mortais, mas uma das preocupações é a população de veados na ilha grega.
"Dar graças, obviamente, por não haver vítimas mortais, mas em relação à enorme população de veados, que é única e nativa desta ilha, não sabemos o que é que se está a passar com os animais. Só podemos, nesta fase, esperar pelo melhor, mas temos que ser realistas e seguramente perceber que podemos estar perante uma tragédia de incalculável", alertou.
O português residente na Grécia adianta que continua a haver alimentos, águas nas lojas e que a população tem sido incansável nas ações de solidariedade. Hugo Vieira e a mulher têm prestado apoio desde o fim de semana e hoje vão voltar a levar água e mantimentos para os centros de acolhimento.
"Sempre que possível vamos outra vez para os centros de acolhimento temporários verificar o que é possível fazer, continuar a levar água e continuar a levar mantimentos. Em suma, nenhuma ajuda e neste momento é pequena. Todos os que vivem aqui na capital e têm essa possibilidade estão a fazer isso. Esta onda enorme e sinergia é mesmo orgânica. É algo que está a acontecer de forma voluntária, concertada", acrescentou Hugo Vieira.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal informou que tem estado em contacto com 19 portugueses na Grécia. Como únicos residentes na ilha de Rodes, Hugo Vieira e a mulher esperavam ter sido contactados pelas autoridades portuguesas, mas isso só aconteceu depois de Hugo Vieira ter escrito uma mensagem nas redes sociais da Embaixada de Portugal na Grécia.
As últimas informações dão conta de três frentes ativas e nenhuma controlada, neste incêndio florestal que arde há sete dias. O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, disse esta segunda-feira que a Grécia está "em guerra" contra os incêndios florestais que assolam o país, que tem "mais três dias difíceis" pela frente devido às altas temperaturas.