As forças do Azerbaijão dizem ter conquistado novas posições no enclave.
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Um soldado azeri e um combatente arménio foram hoje mortos perto do Nagorno-Karabakh, o enclave separatista do Cáucaso do sul apoiado pela Arménia e que permanece instável após uma guerra em finais de 2020, indicaram as duas partes.
Na manhã desta quarta-feira, "intensos disparos" foram dirigidos contra posições do exército azeri no distrito de Latchin, uma zona tampão entre a fronteira arménia e o Nagorno-Karabakh, indicou em comunicado o ministério da Defesa do Azerbaijão.
Um soldado azeri foi morto por disparos "provenientes de formações militares arménias ilegais", precisou.
Por sua vez, os separatistas arménios do Nagorno-Karabakh anunciaram a morte de dois dos seus soldados num ataque efetuado ao início da tarde por um 'drone' azeri.
O exército separatista também indicou em comunicado que 14 dos seus combatentes ficaram feridos.
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Forças azeris conquistam novas posições, enclave decreta mobilização parcial
O Azerbaijão afirmou ter assumido o controlo de diversas posições e destruído alvos arménios no Nagorno-Karabakh, numa nova escalada que provocou três mortos neste enclave montanhoso do Cáucaso do sul e reacendeu os riscos de guerra.
"O controlo foi garantido em diversas zonas importantes", incluindo colinas, declarou o Ministério da Defesa azeri, num comunicado, acrescentando que as suas forças estavam em vias de fortificar essas posições.
Previamente, os dois campos antagónicos tinham-se referido à morte de pelo menos dois combatentes arménios e de um soldado azeri em confrontos nos arredores do Nagorno-Karabakh, o território separatista de maioria arménia situado em território do Azerbaijão, e que fez reacender o espetro de uma nova guerra após o sangrento conflito de 2020.
Os incidentes arriscam-se a comprometer as conversações de paz que decorrem há vários meses entre o Azerbaijão e a Arménia, duas ex-repúblicas soviéticas rivais do Cáucaso, com mediação da União Europeia (UE).
Num sinal sobre a escalada da tensão, o dirigente dos separatistas do Nagorno-Karabakh, Arayik Harutyunyan, assinou um decreto que proclama uma mobilização militar parcial no território, segundo a página digital da Presidência.
Rússia acusa Azerbaijão de violação do cessar-fogo
A Rússia acusou o Azerbaijão de ter violado o cessar-fogo no disputado enclave do Nagorno-Karabakh, acrescentando que os seus soldados de manutenção da paz deslocados na região procuravam "estabilizar" a situação.
Em paralelo, a União Europeia (UE) pediu o "fim imediato" das hostilidades, apelando às duas partes que regressem "à mesa das negociações" para encontrar soluções de consenso.
"Na zona de Saribaba, o regime de cessar-fogo foi violado pelas Forças armadas do Azerbaijão", declarou em comunicado o Ministério da Defesa russo, para acrescentar que "o comando russo das forças de manutenção da paz, com representantes do Azerbaijão e da Arménia, estão a tomar medidas para estabilizar a situação".
Em Bruxelas, Peter Stano, porta-voz do chefe da diplomacia europeia Josep Borrell considerou essencial "recuperar e respeitar plenamente o cessar-fogo e regressar à mesa das negociações para procurar soluções negociadas".
O texto acrescenta que a União Europeia "permanece determinada em ajudar a ultrapassar as tensões e prosseguir o seu compromisso em favor de uma paz e de uma estabilidade duráveis no Cáucaso do Sul".
A Arménia e o Azerbaijão, ex-repúblicas soviéticas do Cáucaso do Sul, declararam a independência em 1991.
O Nagorno-Karabakh, uma região em território azeri, hoje habitada quase exclusivamente por arménios (cristãos ortodoxos), declarou a independência do Azerbaijão muçulmano após uma guerra no início da década de 1990, que provocou cerca de 30.000 mortos e centenas de milhares de refugiados.
Na sequência dessa guerra, foi assinado um cessar-fogo em 1994 e aceite a mediação do Grupo de Minsk (Rússia, França e EUA), constituído no seio da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), mas as escaramuças armadas continuaram a ser frequentes, e implicaram importantes confrontos em 2018.
Cerca de dois anos depois, no outono de 2020, a Arménia e o Azerbaijão enfrentaram-se durante seis semanas pelo controlo do Nagorno-Karabakh durante uma nova guerra que provocou 6.500 mortos e com uma pesada derrota arménia, que perdeu uma parte importante dos territórios que controlava há três décadas.
Após a assinatura de um acordo sob mediação russa, o Azerbaijão, apoiado militarmente pela Turquia, registou importantes ganhos territoriais e Moscovo enviou uma força de paz de 2.000 soldados para a região do Nagorno-Karabakh.
Apesar do tímido desanuviamento diplomático os incidentes armados permanecem frequentes na zona ou ao longo da fronteira oficial entre os dois países.