Somália faz história. Pela primeira vez, há uma acusação contra mutilação genital
Uma menina morreu dois dias depois de a mãe a ter levado a fazer uma mutilação genital. A Procuradoria-Geral da Somália vai levar o caso à Justiça.
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A Somália anunciou, esta quarta-feira, a primeira acusação contra mutilação genital feminina na história do país, na sequência da morte de uma menina de 10 anos.
O Procurador-Geral da Somália, Ahmed Ali Dahir, decidiu enviar uma equipa de investigadores para averiguar as circunstâncias da morte da menina, que sofreu de graves hemorragias, depois de ter sido levada pela mãe a um mutilador genital. A prática é tida como uma importante tradição religiosa no país muçulmano, embora não seja mencionada no livro sagrado da religião, o Corão.
A menina, chamada Deeqa, morreu no hospital, dois dias depois da mutilação.
"Estamos prontos para levar o caso a tribunal", garantiu o procurador, que pretende levar a família da menina à Justiça.
A morte da menina suscitou uma campanha por uma lei contra a mutilação genital feminina, que afeta 98% das mulheres na Somália - a maior em todo o mundo, segundo as Nações Unidas. É que apesar de a Constituição da Somália proibir a mutilação genital feminina, a legislação não prevê punições a quem a cometer este ato - embora possa ser acusado por ofensa à integridade física, ao abrigo do Código Penal do país.
Estima-se que a mutilação genital feminina afete cerca de 200 milhões de raparigas e mulheres, em todo o mundo.