Os líderes europeus regressam este domingo a Bruxelas, para tentar desatar o nó que impede, até agora, a escolha do presidente da Comissão Europeia.
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Há três nomes que, formalmente, continuam em cima da mesa. O conservador Manfred Weber, o Socialista Frans Timmermans e a liberal Marghrete Vestager são o Spitzenkandidaten - cabeças de lista - nas eleições europeias.
Mas, a ausência de um entendimento entre governos e famílias políticas, pode deitar por terra o processo que, em 2014, levou à nomeação do presidente do executivo de Bruxelas, de uma forma que muitos consideram mais democrática.
À esquerda e à direita a dúvida é perceber se ainda é possível salvar o processo de escolha do presidente da comissão através dos cabeças de listas nas eleições europeias. O socialista Carlos Zorrinho não esconde a incerteza, mas acredita que tudo "é possível".
"Acho que é possível salvar o processo do Spitzenkandidat", afirma o eurodeputado, apontando que "sempre" interpretou este processo "um pouco na perspetiva daquilo que está referido na conversão portuguesa".
Quer isto dizer que "aquele que preside à comissão não é necessariamente aquele que consegue mais votos [nas eleições europeias]", mas antes "aquele que consegue mais votos no Parlamento Europeu e que consegue uma maioria viável para ser eleito", considera Carlos Zorrinho.
Mas, agora é necessário que, na cimeira desta noite, os líderes consigam ultrapassar o impasse das negociações, entre governos, no Conselho Europeu. Zorrinho considera que "a solução para este imbróglio (...) é perceber como é que constitui uma maioria, que permita por em prática aquilo que a maioria dos europeus escolheu".
Por outro lado, o social-democrata Paulo Rangel considera pouco provável que os 28 apresentem um dos nomes das listas do parlamento europeu, embora "tecnicamente e teoricamente", ainda "é possível" que a escolha "recaia em algum dos spitzenkandidat", pois nenhum deles foi "rejeitado formalmente".
No entanto, "não parece provável", a nomeação de um dos spitzenkandidaten, "tendo em conta aquilo que foi dito por vários primeiros-ministros e até pelo presidente Macron, e tendo em conta aquilo que se ouve aqui, um pouco, nos corredores", afirma o deputado Paulo Rangel, identificando ainda "uma hipótese remota, mas não excluída" do nome de Angela Merkel poder vir a fazer parte da solução.
Contradição
A nomeação de um presidente da Comissão fora do conjunto de candidatos cabeças de lista, nas eleições europeias colocaria o Parlamento Europeu perante uma contradição, já que a instituição sempre reforçou a ideia de que rejeitaria um nome que não tivesse sido spitzenkandidat.
"Os grupos - em particular os socialistas e o PPE - têm um grande apreço com o processo do spitzenkandidat [e] querem que seja um dos candidatos [a ser nomeado]", afirma Rangel, acreditando que os deputados daqueles grupos "vão manter-se nessa posição".
Porém, "se houver um candidato que tenha tido ligações muito fortes ao Parlamento, seria difícil ao Parlamento vir dizer que não. Portanto eu acho que, sinceramente, há algumas condições para ser um candidato que seja um destes. Mas isso é algo que depende muito da pessoa que foi escolhida", afirma Rangel.
Com as negociações num impasse, reina a incerteza sobre o futuro das lideranças institucionais na União Europeia, à espera que os 28 consigam desatar o nó.
Processo
De acordo com o Tratado de Lisboa, o Conselho Europeu nomeará um presidente, baseando-se nos resultados das eleições europeias, depois de realizar as consultas adequadas.
Estas consultas podem ser levadas a cabo pelo presidente do Conselho Europeu, o que explorará as diferentes sensibilidades, entre governos e famílias políticas, procurando as bases para um consenso em torno de um potencial nomeado.
O nome que for escolhido pelo Conselho, através de uma maioria qualificada, será apresentado ao Parlamento. Nesta instituição, os Eurodeputados podem confirmar ou rejeitar o nome proposto, através de um voto por maioria simples.
Se for rejeitado, todo o processo de nomeação do presidente da Comissão Europeia recomeça.
Impasse
A nova configuração política do Parlamento Europeu, significa também uma dificuldade acrescida, para a formação de maiorias. No Conselho Europeu é necessária uma maioria qualificada, entre os governos, e a dificuldade também não tem sido menor.
Por essa razão, nos corredores europeus há quem admita que não é de excluir a possibilidade dos líderes não chegarem a acordo em torno de um nome. Outros considera muito improvável a ausência desse acordo.
Em qualquer dos casos, a cimeira, vai pelo menos dar uma resposta sobre quem tem o poder de decisão dos cargos de topo na União Europeia. Os quatro lugares mais importantes serão distribuídos com critérios, respeitando equilíbrios entre as famílias políticas, mas também geográficos e demográficos e, este ano, ganha ainda mais força a ideia de garantir aquilo que, há cinco anos, não foi conseguindo, ou seja o equilíbrio de género.
Pontapé de saída
Com os lugares mais representativos do poder institucional decididos em conjunto, o encontro dos 28 vai, por isso, definir quem dá o pontapé de saída, para a repartição do poder institucional, em Bruxelas.
O Conselho europeu não quer abrir mão desse papel, pois se não apresentar um nome para a presidência da Comissão, deixará caminho livre para que os eurodeputados avancem com a nomeação do presidente do Parlamento, condicionando todas as decisões sobre cargos, a partir daí.
Mas, dentro do Conselho há uma clara noção da urgência para apresentar um nome. Em primeiro lugar, como já vimos, para garantir que tem a primeira palavra, em segundo, mas particularmente importante, para fechar todas as decisões, enquanto Theresa May ainda chefiar o governo britânico. É que não é certo que as decisões sejam mais fáceis com o sucessor.
Vários nomes
Entre os vários nomes que estão em cima da mesa e os que, ainda, podem aparecer, para desatar o nó, a dúvida é saber se ainda é possível salvar o moribundo processo do Spitzenkandidat.
Alguns líderes admitem que sim. Outros já afastaram a hipótese de qualquer um dos nomes apresentados como cabeças de lista nas eleições europeias, poder vir a ser escolhido para liderar a comissão europeia.
O conservador Marfred Weber, o Socialista Frans Timmermans e a liberal Margrethe Vestager são sempre, até ao último momento, os potencialmente nomeados.
Mas, fora das listas, têm surgido nomes alternativos. Citando apenas alguns: o conservador francês, negociador do brexit Michel Barnier, a socialista Francesa que dirige o Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, ou a socialista dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt são nomes falados nos corredores de Bruxelas.
Mas, de uma forma que alguns consideram romanceada, há quem admita que Angela Merkel poderia ser o nome que desbloquearia uma decisão, facilitando o consenso entre governo e famílias políticas.