Sucessor de Guterres diz que a UE "pode e deve fazer melhor" quanto aos refugiados
Filippo Grandi, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) foi ao Parlamento Europeu apelar à renovação do compromisso da Convenção de Genebra de 1951. E deixou críticas fortes.
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O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) quer ver a União Europeia (UE) reforçar e aumentar o apoio que dá aos refugiados. Ao discursar no Parlamento Europeu, em Bruxelas, numa cerimónia a assinalar o 70.º aniversário da Convenção de Genebra, Filippo Grandi, que há vinte anos trabalhava para a mesma agência das Nações Unidas em Cabul, no Afeganistão, sublinhou que a agência que dirige olha para a Europa em busca de liderança e apoio e manifesta gratidão por todo o apoio financeiro prestado pela UE, mas também não deixou de dizer que a UE "pode e deve fazer melhor".
O diplomata italiano lamentou, designadamente, a forma como muitos migrantes e refugiados são tratados nalguns Estados-membros do bloco comunitário. O Alto-Comissário afirmou-se plenamente consciente dos "muitos desafios que os movimentos de migrantes e refugiados colocam aos sistemas de asilo na Europa e no mundo, agravados muito frequentemente pela ação criminosa dos traficantes" e até "encorajados pelos Estados". Numa referência à Bielorrússia, o líder do ACNUR enfatizou, contudo, que "nada justifica as reações irracionais a que se assiste nalguns locais".
A respeito do apelo que lançou para o reforço e aumento do apoio da União Europeia (EU), na sequência dos exemplos com que procurou descrever os pontos críticos da atulal crise global de refugiados, Filippo Grandi deixa o aviso: "A UE deve prestar um apoio mais forte aos esforços para manter a paz caso queira prevenir uma crise com ramificações que serão sentidas por gerações vindouras através das regiões, dos continentes e além. "
A somar às preocupações que procurou demonstrar - e sem referir nomes -, o diplomata lançou algumas críticas às lideranças dos países europeus, "muitas vezes minadas por divisões" internas: "A liderança global, como sabem, começa em casa. E o quadro pintado recentemente pelo registo europeu sobre o asilo é lamentavelmente confuso. Enquanto muitos países têm e continuam a aderir às leis e princípios europeus fundamentais, as práticas atuais por parte de alguns Estados são seriamente preocupantes. E o resto da União Europeia não deve permitir que se vá ao fundo mas, antes, assegurar que essas leis e obrigações laças são cumpridas por todos."
No discurso, o líder do ACNUR que sucedeu no cargo a António Guterres, propôs duas soluções: "a primeira e melhor solução é, obviamente, garantir que as pessoas estão protegidas nos seus países de origem. É aí que o UE desempenha um papel importante. A segunda é através da disponibilização de melhor proteção em países onde a maioria dos refugiados procura por asilo, perto de casa. É aí que o apoio europeu robusto pode ajudar fortalecer a assistência ao asilo e proporcionar ajuda humanitária e de desenvolvimento que facilite a inclusão dos refugiados nos serviços sociais desses países e nas actividades económicas até se encontrar uma solução."
A terminar, Grandi encorajou todos os 27 países da União Europeia a apoiarem o novo pacto migratório proposto recentemente pela Comissão Europeia, instituição à qual, não poupou elogios pelos esforços que tem desenvolvido em busca de uma verdadeira política migratória europeia.
Números do próprio ACNUR referentes a junho do ano passado, davam conta de mais de 82 milhões de pessoas no mundo, na condição de refugiados ou deslocados internos.