"Têm medo." Sobreviventes que desembarcaram em Cabo Verde recusam falar de custos da viagem
Em declarações à TSF, a presidente da Cruz Vermelha em Cabo Verde conta que os migrantes "nem conseguiam ficar de pé" quando chegaram à ilha do Sal.
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Os sobreviventes que desembarcaram na segunda-feira na ilha do Sal, em Cabo Verde, recusam falar da viagem que durou mais de um mês e onde pelo menos 56 pessoas morreram.
Ivanilda Vaz, presidente da Cruz Vermelha em Cabo Verde, assistiu à chegada da embarcação com 38 sobreviventes. "Seguiram para o hospital 16 que necessitavam de cuidados mais sensíveis. Os demais seguiram para o alojamento. Pela falta de água e de alimentos que eles tiveram, nem conseguiam ficar de pé, mesmo quando foram tirados da embarcação", conta à TSF.
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Dois dias depois de terem chegado ao país insular, os sobreviventes já apresentam melhorias, estando apenas quatro pessoas internadas: "Hoje nós conseguimos vê-los de pé a circular no espaço, o que para nós já é já um enorme alívio. Em termos de psicológicos, os desafios são maiores, porque, como disse muito bem um dos sobreviventes, só deus e ele sabem o que eles passaram em cima da água do mar."
A viagem, que tinha como destino as ilhas Canárias, durou várias semanas, mas os problemas começaram logo ao segundo dia no mar.
"Até aí estava tudo bem, mas depois começaram a ter problemas. Um primeiro de alimentação, a partir do segundo dia já quase não tinham nada. Depois é que começaram a ter problemas com a embarcação e com as correntes", explica a presidente da Cruz Vermelha em Cabo Verde.
Alguns migrantes confessaram que pagaram pela viagem, mas há algo que os impede de falar mais: "Eles falam de tudo, mas quando nós chegamos a essa questão, creio que eles têm medo. Alguns até quando começam a falar, mas os outros: "Não fala, não fala." Dizem isso mesmo para não falar."
Os sobreviventes estão alojados numa escola na ilha do Sal transformada em centro de acolhimento. Enquanto lá estão, a Cruz Vermelha tenta contactar as famílias.
"Procurando em contacto com o país, quem é que tem pessoas que saíram do país e que ainda não tiveram nenhum contacto nos últimos dias ou nos últimos meses, nessa tentativa. Hoje já vimos, logo de manhã, o pessoal a dizer: "Sim, sim, muito obrigada. Nós estamos a conseguir falar com os nossos familiares." Isso para nós é gratificante", revela.
A maioria dos migrantes eram senegaleses, mas também havia guineenses a bordo: "99 eram senegaleses. Apenas dois eram da Guiné-Bissau, mas também pareciam do Senegal, porque os sobreviventes da Guiné, disseram-nos, já estavam há dois meses no Senegal para passar por todo esse processo e embarcar."
Eram sobretudo jovens. Segundo Ivanilda Vaz, dois eram adolescentes e os restantes tinham "entre os 20 e os 48" anos.
"No espaço de quatro anos, nós já vimos três episódios já ocorrendo e, este ano, dois episódios. Nós não estamos o destino, mas a rota, muitas vezes, para levá-los pelas nossas água", revela a líder da Cruz Vermelha em Cabo Verde.
