O negociador da União Europeia para o Brexit lança um novo aviso: "Na situação em que nos encontramos, a opção do não-acordo é provável."
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Michel Barnier alertou, esta terça-feira, para o "possível" cenário de o Reino Unido deixar a União Europeia no dia 12 de abril "sem acordo" e de forma "desordenada". Em declarações perante o Parlamento Europeu, o negociador da União Europeia lamentou as abordagens do Parlamento Britânico à questão do Brexit.
"Não há, até hoje, qualquer maioria positiva. Há apenas maiorias negativas. Uma maioria negativa contra o acordo, uma maioria negativa contra o não-acordo, e maiorias negativas sobre todas as outras opções", afirmou, frisando que "mesmo que sejam pequenas maiorias negativas, como se viu ontem, sobre o objetivo de um acordo para uma união aduaneira. Essa proposta foi perdida por dois votos, mas foi perdida".
Além do mais, o negociador afirmou que não será este o caminho para uma retirada ordenada do Reino Unido da União Europeia, pois "para evitar um Brexit sem acordo, só há uma opção, que é votar sobre um acordo.
E sem margem para novas negociações, "se o Reino Unido quer sair da União Europeia de forma ordenada, não há mais do que um tratado possível. É este mesmo. Negociámo-lo com eles. E, abordámos todas - as matérias. São inúmeras - para encontrarmos respostas jurídicas, para todos os pontos de incerteza criados pelo Brexit", disse, apontando para o documento de 585 páginas.
No entanto, Barnier admite que o pior dos cenários é agora o mais provável. "Hoje, na situação em que nos encontramos, a opção do não-acordo é provável. Tenho de dizer a verdade, dentro das minhas responsabilidades".
Barnier falou no dia seguinte à rejeição no Parlamento Britânico de quatro alternativas à saída do Reino Unido da União Europeia.
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Barnier Presidente?
Durante o seu discurso, que visou mais do que o Brexit, indo até questões "muito mais importantes", como o "futuro da Europa", Barnier pareceu, por vezes, distanciar-se do papel de negociador, atirando certas passagens do discurso para a perspetiva de um futuro presidente da Comissão Europeia.
"O Brexit ocupou-nos a agenda, todos estes últimos meses. Muita energia, e muito tempo. Penso que essa energia e esse tempo deve ser consagrados a uma agenda positiva", defendeu, fazendo referência a uma proposta da chanceler alemã, Angela Merkel".
"Devemos, o mais rapidamente possível, olhar para os verdadeiros desafios. Espero concluir a negociação de maneira positiva, e fazer face aos tempos de desafio que são cada vez mais graves para nós", afirmou, dando, a título de exemplo, "as alterações climáticas, os desafios da economia, a guerra tecnológica, as migrações, a defesa europeia".
Barnier nomeou ainda "a proteção dos investimentos (...) a política industrial e as relações da União, com a China", considerando que estas são "as grandes questões estruturantes para os anos vindouros".
Num discurso de improviso, o homem cujo nome é apontado por líderes de vários quadrantes como um potencial "presidente da Comissão Europeia", referiu-se ainda à "proliferação de ameaças, cada vez mais intrusivas, o terrorismo, os ataques cibernéticos, as campanhas de propaganda e de desinformação, as ingerências externas".
"Observamos ainda que são postos em causa certos princípios fundamentais da nossa segurança coletiva, a viragem nos Estados Unidos, a Nato a vacilar - na mesma altura em que deveríamos celebrar o seu 70.º aniversário -, a contestação generalizada da discussão de todos os quadros multilaterais e, de uma maneira geral, o regresso da força em detrimento do direito e do multilateralismo", nomeou.
"Estou a pensar no protecionismo dos Estados Unidos, na reafirmação da Rússia ou nas grandes ambições da China", exemplificou Barnier, regressando ao seu papel de negociador, ao afirmar que "alguns que repararam", nestes "desafios", identificam no Brexit "uma forma de enfraquecer a União [Europeia]".