Tensão com polícia, tratores à porta do Parlamento. O terceiro dia de luta dos agricultores espanhóis
Pedem menos burocracia, preços mais justos e proteção perante a concorrência desleal de outros países.
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Pelo terceiro dia consecutivo, os agricultores espanhóis saíram à rua em vários pontos do país e cortaram as estradas e autoestradas de oito comunidades autónomas: Andaluzia, Aragão, Catalunha, Comunidade Valenciana, Castilla y León, Castilla La Mancha, Extremadura e Navarra.
Os protestos têm sido maioritariamente pacíficos, mas em algumas localidades viveram-se momentos de tensão entre os agricultores e a polícia, que deteve mesmo dois manifestantes em Burgos por não permitirem a passagem do resto de veículos numa autoestrada da comunidade. Na Catalunha, o Parlamento amanheceu com cerca de 50 tratores estacionados nas imediações.
Os agricultores reuniram-se esta manhã com a presidente do Parlamento catalão, Anna Erra, e com os diferentes grupos parlamentares para explicar as suas reivindicações: pedem menos burocracia, preços mais justos e proteção perante a concorrência desleal de outros países.
“Os principais problemas prendem-se com os baixos preços que cobramos pelas nossas produções, os altos custos das nossas produções, pelos preços do combustível, dos fertilizantes e os custos energéticos derivados da situação geopolítica que vivemos coma guerra na Ucrânia”, explica José Manuel Roche, responsável de relações internacionais da União de Pequenos Agricultores (UPA).
Além disso, os agricultores queixam-se dos acordos existentes com terceiros países que provocam uma concorrência desleal: “Não há leis de espelho ou reciprocidade e esses países produzem de forma muito mais económica do que nós e os nossos produtos acabam por ser menos competitivos”.
Roche chama ainda a atenção para a nova Política Agrária Comum “que introduziu uma carga burocrática enorme, que nos exige muito tempo que não é remunerado”.
Dentro da normativa europeia, os agricultores queixam-se ainda das exigências a nível ambiental. Dizem que não está em causa a necessidade de produzir de forma sustentável, mas pedem tempo de adaptação e alternativas viáveis para o fazer.
“Nós somos os que vivemos em primeira pessoa as consequências das alterações climáticas e do aquecimento global: secas mais seguidas, chuvas torrenciais mais seguidas, geadas tardias que acabam com os nossos cultivos... De forma que nós não nos opomos a avançar para um modelo de produção mais sustentável”, explica. “Mas temos de procurar alternativas. Se nós não temos alternativas como vamos produzir alimentos?”
As principais associações agrárias do país têm manifestações convocadas até ao final do mês e prometem não desistir dos protestos. “Nós vamos continuar a convocar manifestações”, diz Roche, “porque a pressão faz-se com os agricultores e os tratores na rua”. Consciente de que “isso gera uma série de incómodos, pelos cortes de estradas e autoestradas” frisa que o objetivo é também “alertar a sociedade para estes problemas, porque os consumidores também são afetados por eles de forma indireta”.
Ao Governo espanhol pedem que “transmita à União Europeia as preocupações dos agricultores” e que “se abra a negociar determinadas normativas ambientais e os acordos bilaterais com terceiros países”.
