"Tenta destruir qualquer pensamento independente." Martin Baron alerta que democracia está em perigo com Trump
O alerta é feito por Martin Baron, antigo editor-chefe do Washington Post, que urge todos os que "acreditam na democracia" a fazer "tudo" o que estiver ao seu alcance para "defender as instituições necessárias à sua manutenção"
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O antigo editor-chefe do Washington Post Martin Baron, um dos mais conceituados jornalistas norte-americanos, confessa temer que a política do Presidente dos EUA, Donald Trump, possa destruir a democracia do país.
O jornalista admite, num encontro entre pares, que o fascínio de Trump por autocratas e pelo poder ficou bem visível no primeiro mandato. Na campanha para as eleições do ano passado, não escondeu os planos que tinha, mas mesmo assim ninguém podia imaginar o que ia acontecer.
"É muito difícil estar preparado para alguém como Donald Trump. Durante a campanha, conhecemos alguns traços da personalidade dele, das intenções e das políticas que queria seguir, o desejo de vingar-se dos inimigos políticos. Mas era difícil prever que ele ia fazer isso e muito mais. Por exemplo, apesar de dizer que queria Elon Musk no Governo, não pensamos que o fosse transformar em co-Presidente e na pessoa mais poderosa na Administração, além de Trump", explica.
Martin Baron admite, por isso, preocupação com o que se tem vindo a passar desde 20 de janeiro de 2025, dia em que Trump venceu as eleições. Assume que os EUA estão a atravessar uma "situação arriscada" e urge todos os que "acreditam na democracia" a fazer "tudo" o que estiver ao seu alcance para "defender as instituições necessárias à manutenção da democracia".
"Ele está a minar as instituições democráticas que temos. Tenta destruir qualquer pensamento independente - e não estou a falar só da comunicação social, mas dos juízes dos tribunais, cientistas, qualquer pessoa que possa apresentar a verdade, que não seja ele próprio", alerta.
O antigo editor-chefe sublinha que a situação pode mesmo escalar. Baron, como tantos outros norte-americanos, teme pelas próximas eleições, mas acredita que a avalanche de políticas e ordens executivas pode fazer Trump derrapar.
"Se o resultado for o do aumento da inflação, se acabarmos por ter uma economia a falhar, se dermos por nós em conflitos desnecessários, então Trump vai pagar o preço. Isto assumindo que, daqui a dois a quatro anos, as eleições vão ser livres e justas e isso, para ser honesto, é uma suposição"
Em 2020, Donald Trump tentou, mas não conseguiu subverter o resultado das eleições que deram vitória a Joe Biden, mas nada o impede de tentar outra vez. Neste segundo mandato, o poder de Trump aumentou e os republicanos não parecem querer contrariá-lo.
"Eles controlam o Congresso e o Senado e Trump controla o Partido Republicano. Deviam mudar o nome do partido para Trump ou MAGA [Make America Great Again], porque já não é o Partido Republicano que conhecemos. Atualmente, eles juram lealdade tanto a Trump como à Constituição. Na verdade, não sei qual pesa mais para eles, mas, neste momento, por causa do medo, não estão disponíveis para desafiar Trump, seja no que for porque têm medo de ficar sem emprego", refere.
Martin Baron considera curioso a luta que existe por cargos sem qualquer poder, já que o deram todo a Donald Trump. Se a conjuntura atual se prolongar por todo o mandato, o antigo editor-chefe do Washington Post acredita que daqui quatro anos a realidade que conhecemos terá mudado bastante. A experiência mostra que é fácil destruir a democracia, mas é muito difícil recuperá-la.