Em entrevista à TSF, D. Luiz Fernando Lisboa acusa o Governo de não ter pedido ajuda mais cedo e de ter tentado negar a violência que não tem fim à vista no norte de Moçambique.
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O povo de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, continua a ser vítima de ataques de grupos armados e "a situação não está nada boa". A revelação é do antigo bispo de Pemba, D. Luiz Fernando Lisboa, que, em entrevista à TSF, fala num povo assustado, como medo e fome.
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"A situação não está nada boa. Os insurgentes ou os terroristas têm um problema de abastecimento, falta-lhes comida e eles têm atacado as aldeias em busca de comida. Mas eles continuam ainda atacando as casas e matando pessoas, infelizmente", revela.
Para Luiz Fernando Lisboa, o "ano de 2020 foi talvez o pior de todos porque atacaram, desde o início do ano, as cidades". "No início, atacavam aldeias pequenas, mais no interior, depois começaram a atacar nas estradas e depois começaram a atacar as cidades. Por isso, uma grande parte das cidades da região norte estão praticamente desocupadas porque a população toda saiu", refere.
Num relatório divulgado no início do mês, a Amnistia Internacional acusou os grupos armados e também as forças governamentais de violação dos direitos humanos. Luiz Fernando Lisboa considera que há uma certa "impunidade", acusando o Governo moçambicano de inação perante a gravidade desta guerra que já provocou milhares de vítimas.
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O antigo bispo de Pemba concorda com as afirmações da Amnistia, dizendo que foram cometidas "injustiças contra a população, como agressões, abuso de autoridade, invasão da vida das pessoas e também uso da violência".
"O povo de Cabo Delgado é um povo muito simples que vive da agricultura. O povo não precisa de muito, não tem grandes aspirações, quer ter a sua vida normal do dia-a-dia, quer alcançar o mínimo para viver, quer ter as suas crianças, os seus filhos brincando e estudando e esse direito está a ser negado por esta guerra", explica o antigo bispo de Pemba. Nascido no Rio de Janeiro, Luiz Fernando Lisboa, que chegou a Moçambique em 2001, diz que a solidariedade do povo de Cabo Delgado foi o que mais marcou.
"Os pobres acolhendo os pobres, os pobres repartindo o que têm com os mais pobres. É uma solidariedade impressionante do povo de Cabo Delgado, acolhendo famílias nas suas casas, repartindo o seu pão. O Povo de Cabo Delgado ensinou muito para o mundo nesse tempo todo."