Testes científicos em laboratório alemão deixam animais em angústia "insuportável"
A Cruelty Free International e a organização alemã Soko Tierschutz publicaram o vídeo de um investigador infiltrado que está a gerar indignação e levou mesmo a que várias associações exigissem investigações ao laboratório, ou mesmo o seu encerramento.
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Macacos retidos em jaulas metálicas com áreas inferiores a um metro cúbico, alguns dos quais com ferros ao redor do pescoço, pernas e braços até à imobilização total dos movimentos, cães presos juntamente com as suas fezes e sangue, gatos igualmente sujeitos a agressões por parte dos técnicos e sinais visíveis de stress imputado a animais, com primatas a correr repetidamente em círculos.
O vídeo, com imagens chocantes, publicado por um investigador infiltrado num laboratório alemão denuncia condições de sofrimento "insuportável". A recolha de imagens levou meses. O infiltrado, envolvido na luta pelos direitos dos animais, detetou que os macacos, cães e gatos submetidos a testes e experiências sofreram maus-tratos no Laboratório de Farmacologia e Toxicologia, em Hamburgo, na Alemanha, como reporta o P3 esta quinta-feira .
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A instituição dedicada à ciência é também um dos maiores laboratórios privados na Alemanha, com 175 pessoas empregadas. É responsável, entre outros desenvolvimentos, pelo estudo da toxicidade, para apurar qual a dose letal de cada substância e a que, pelo contrário, o ser humano ainda é capaz de ingerir.
A Cruelty Free International e a organização alemã Soko Tierschutz publicaram o vídeo que agora está a gerar indignação e levou mesmo a que várias associações exigissem investigações ao laboratório, ou mesmo o seu encerramento.
Uma das organizações que mais se pronunciou sobre os abusos foi a Humane Society International, que, ao The Guardian , se revoltou contra a utilização de mecanismos de imobilização dos animais e disse mesmo que tal cenário de violentação era, para além de "eticamente insuportável" e "provavelmente ilegal", potenciador de alterar o resultado da investigação. Kate Willett, da organização ativista, refere ainda que estas práticas não se coadunam com o conhecimento do século XXI e que submeter os animais a este tipo de tratamento com a ciência em mente constitui um ato "imperdoável".
Já a Cruelty Free promoveu uma petição contra o sofrimento animal em contexto de pesquisa científica. São até hoje dez mil as assinaturas dos que concordam com uma revisão da diretiva 2010/63. Esta legislação europeia autoriza a utilização de primatas, que não humanos, dentro dos "parâmetros biomédicos essenciais ao bem-estar humano, em caso de inexistência de alternativas disponíveis". Contudo, consta do mesmo documento que a escolha dos métodos aplicados se deverá prender com os resultados mais "satisfatórios", mas com os "níveis mínimos de dor ou angústia".
Não é o que acontece no Laboratório de Farmacologia e Toxicologia, em Hamburgo, de acordo com o que já apuraram os responsáveis pela inspeção posteriormente realizada. Foi considerado que 44 dos primatas se encontravam em jaulas excessivamente pequenas, com feridas já antigas por tratar e "com um nível de sofrimento considerável".
As brechas na lei alemã foram apontadas em julho, quando a Comissão Europeia reportou diversas falhas na minoração dos animais sujeitos aos testes. Nessa altura, a a ministra alemã da Agricultura, Julia Klöckner, declarou ao Neue Osnabrücker Zeitung, que o Governo da Alemanha queria fazer cumprir as diretivas europeias e diminuir a utilização dos animais na ciência.
No entanto, desde 2018, a proteção dos animais nada conseguiu fazer quanto aos macacos, cães e gatos violentados no Laboratório de Farmacologia e Toxicologia de Hamburgo, e os ativistas prometem que não se calarão face aos gemidos de sofrimento das espécies.