Tiananmen/25 anos: Um aniversário tabu que o governo chinês quer esquecer (video)
A imagem de um jovem estudante, sozinho, contra os tanques do exército chinês ficou para sempre como o símbolo daquela que foi a primeira contestação estudantil na China. 25 anos depois, autoridades chinesas continuam a referir-se à revolta estudantil como o incidente de Tiananmen.
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A China prepara-se para assinalar em segredo mais um aniversário da repressão militar do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, evidenciando o empenho do governo chinês em fazer esquecer o 4 de junho de 1989.
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«Já tirámos as pertinentes conclusões acerca do referido incidente», disse um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hong Lei, ao ser questionado sobre os dramáticos acontecimentos ocorridos naquele dia.
A resposta é quase igual, palavra por palavra, à que o mesmo porta-voz deu em 2013 e, mais uma vez, o governo chinês procurou apagar a memória do 4 de junho com «os notáveis progressos» sociais e económicos alcançados entretanto pelo país.
Centenas de pessoas morreram e milhares de outras foram presas ou exilaram-se. Os números oficiais nunca forma divulgados pelas autoridades chinesas que, 25 anos depois, continuam a referir-se à revolta estudantil como o "incidente" de Tiananmen.
Maria João Belchior, ex-correspondente da TSF em Pequim, diz que passados todos estes anos, a política da China continua a mesma, tentando apagar da memória do mundo o que de facto aconteceu.
Uma política de imposição do silêncio que, nos últimos dias levou a novas detenções. Jornalistas estrangeiros foram, inclusive, advertidos pela polícia que não deviam fazer reportagens ou entrevistas de rua acerca da efeméride. E mesmo evocações privadas do 4 de junho, feitas em casa, são punidas.
Apesar dos esforços de Pequim para apagar a revolta de 89, Tiananmen parece resistir. Para além da lembrança da memória internacional, também em Hong Kong está marcada uma vigilia para esta noite na qual vão participar várias organizações não governamentais.
Helen Kwong uma das activistas que vai estar presente nesta vigília diz que o objetivo é mostrar a Pequim que é preciso esclarecer o que de facto aconteceu. Esta vigilia é uma iniciativa que se realiza todos os anos. No ano passado participaram cerca de 150 mil pessoas.
A União Europeia e os Estados Unidos manifestaram profunda preocupação pela detenção de ativistas dos direitos humanos, nomeadamente advogados e professores, que se reuniram em meados de maio para debater a efeméride.
O número exato de mortos continua a ser segredo de Estado, mas as Mães de Tiananmen, grupo fundado por mulheres que perderam os filhos há 25 anos, já identificaram 202.
Cerca de um terço da população chinesa nasceu depois do 4 de junho de 1989. Em quatro das principais universidades de Pequim, o berço do movimento que abalou a China há 25 anos, em cada 100 estudantes apenas quinze disseram reconhecer a imagem do 'Homem Tanque', contou a jornalista americana Louisa Lim num livro publicado o mês passado com o título "The People's Republic of Amnesia".