Ana Santos Pinto, investigadora do IPRI, explica que o que está em causa nesta região da Síria é um conflito interno. O regime de Bashar Al-Assad está a eliminar todos os movimentos de oposição.
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Subiu para 296 o número de mortos desde domingo em Ghouta Oriental, junto a Damasco. A investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais, Ana Santos Pinto, considera que esta é uma tragédia inédita no século XXI e defende uma intervenção urgente da comunidade internacional para pôr fim ao conflito.
A investigadora salienta que muitos países não estão a ser coerentes com os seus princípios. "Não se consegue chegar a um consenso mínimo sobre a criação de corredores humanitários que permitam ajuda a esta população. Isto parece-me uma imagem incomportável para uma comunidade internacional e designadamente um conjunto de países que defende valores fundamentais como o direito à vida, o direito à sobrevivência, já para não falar do direito à comunidade. Toda a comunidade internacional deve estar profundamente chocada e exigir aos governos uma ação que coloque fim a esta absoluta tragédia que não conhece igual ao longo dos últimos 15 anos".
Ana Santos Pinto lembra que na situação em Ghouta, está em causa um conflito interno. "O regime de Bashar Al-Assad quer aniquilar todos os movimentos de oposição ao regime e a zona de Ghouta, onde assistimos a esta tragédia humanitária, é uma das áreas onde esses movimentos têm ainda alguma capacidade de mobilização. Isto é uma luta do regime contra os insurgentes, contra a oposição a esse mesmo regime".
Em entrevista à TSF, a investigadora explica que o conflito não está relacionado com a luta contra o Daesh, "O autoproclamado Estado Islâmico e a luta militar é um objetivo que é comum a boa parte dos atores internacionais. O conflito interno na Síria diz respeito, em primeiro lugar, à sobrevivência do regime e, em segundo lugar, às esferas de influência dos outros estados que apoiam o regime, designadamente o caso da Federação Russa e o caso do Irão".
Na opinião desta investigadora em relações internacionais, Bashar Al-Assad está aproveitar uma janela de oportunidade para combater a oposição ao seu regime.
"Bashar Al-Assad está a cumprir os seus objetivos. A luta contra o autoproclamado Estado Islâmico, do ponto de vista militar, está bastante consolidada no terreno. Ao mesmo tempo, por inércia e por ausência de ação do ponto de vista internacional, o regime encontra contexto para esmagar qualquer tipo de oposição, designadamente do ponto de vista político", explica.
"Não está a ser praticável a implementação do início de um processo de paz", conclui a especialista, "diariamente é esta população que é vítima de uma violência brutal".
Dos quase 300 mortos em Ghouta, desde o passado domingo, mais de 110 são mulheres e crianças. Outros 1400 civis ficaram feridos.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve votar esta quinta-feira um pedido para um cessar-fogo de 30 dias na Síria. A proposta foi apresentada pela Suécia e pelo Kuwait, para permitir a chegada de ajuda humanitária e a retirada de feridos do país.
A Rússia propôs também uma reunião de urgência nas Nações Unidas para analisar a situação em Ghouta.