"Todos os relatórios estratégicos da União Europeia ignoraram a economia do Atlântico"
Eurodeputado espera que o discurso de von der Leyen coloque “pela primeira vez” Atlântico e a economia azul no centro da agenda europeia
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O eurodeputado Paulo Nascimento Cabral critica a ausência da dimensão atlântica nos documentos estratégicos da União Europeia, considerando que só agora a Comissão Europeia começa a reconhecer a centralidade do Atlântico e da economia azul na sua agenda política.
“Até agora, todos os relatórios estratégicos da União Europeia ignoraram esta dimensão. O Atlântico, a economia azul e a própria noção de transatlantismo estavam ausentes”, afirmou o deputado, considerando que “agora, pela primeira vez", existe "uma visão clara para esta área”
O eurodeputado social-democrata antecipa que este tema estará em destaque no discurso da presidente da Comissão Europeia, sobre o Estado da União. Paulo Nascimento Cabral salienta que os documentos preparatórios para o discurso sobre o Estado da União, que Ursula von der Leyen apresentará em Estrasburgo, introduzem pela primeira vez um “cluster atlântico”.
“É uma mudança histórica, muito importante para Portugal e para a União Europeia. Falamos de acesso ao espaço a partir do Atlântico, da relação transatlântica com os Estados Unidos e da valorização do oceano como ativo estratégico”, frisou.
Clima
Questionado sobre a reversão de algumas políticas ambientais, pela Comissão Europeia, o eurodeputado defendeu uma abordagem “ambiciosa, mas pragmática”.
“A União Europeia é a potência mundial mais avançada na transição climática, mas só é responsável por 7% das emissões globais”, sublinhou, considerando que o bloco não pode "sacrificar a competitividade das nossas empresas e o bem-estar dos cidadãos, quando países como a China, a Índia ou a Rússia não partilham os mesmos compromissos".
Para o eurodeputado, o mandato anterior da Comissão foi “excessivamente radical” na linha ambiental liderada por Frans Timmermans.
A urgência é real, mas não podemos impor medidas de forma isolada, nem penalizar os europeus. As metas para 2040 – como a redução de 90% das emissões – têm de ser trabalhadas de forma construtiva e gradual, com investimentos robustos.
“Temos de olhar para a biodiversidade, sim, mas também para a pesca sustentável, para a produção de energia, para os cabos submarinos de fibra ótica e para o transporte marítimo de mercadorias, que representa 60% do comércio mundial”, defendeu Nascimento Cabral, apontando que “o oceano como a espinha dorsal da economia global”.
Desafios
Entre os problemas mais urgentes, enumerou “a acidificação das águas, o aumento da temperatura e a proliferação de microplásticos”, considerando que se tratam de “ameaças concretas, que já afetam ecossistemas e comunidades”.
O eurodeputado considerou ainda que é “preciso agir com urgência e com capacidade de investimento (...) não basta vontade política, é preciso financiamento”, disse, salientando a importância da presença do Banco Europeu de Investimento na conferência em que participa a partir de desta terça-feira, em Lisboa, organizada pele revista The Economist, dedicada ao tema dos oceanos, e reúne decisores políticos, empresários, investigadores e organizações internacionais.
O eurodeputado participará no painel de abertura, dedicado à implementação do Pacto Europeu para o Oceano. “O oceano é o nosso futuro. Este debate é decisivo para garantir que a União Europeia assume essa visão de forma consistente e duradoura”, frisou.