"Tornaram-se numa ameaça feroz." Hipopótamos de Pablo Escobar à solta na Colômbia
Cientistas consideram que a presença invasora dos animais é destrutiva para a biodiversidade local e até para as vidas humanas.
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Pablo Escobar. O nome é reconhecido internacionalmente como o de um dos maiores barões do mundo da droga. O que nem todos sabem é que o famoso narcotraficante tinha um estilo de vida excêntrico e bizarro e que estamos hoje a pagar o preço dessas mesmas aventuras exóticas de Escobar. O motivo? O jardim zoológico privado que construiu na sua fazenda, na Colômbia, na década de 1980.
Numa das suas muitas extravagâncias, Pablo Escobar decidiu importar animais selvagens como hipopótamos, cangurus, girafas e elefantes e criar o seu próprio zoo particular.
Acontece que, em 1993, o narcotraficante foi capturado e morto pela polícia, deixando os seus animais selvagens para trás. Do grande zoo, sobreviveram os hipopótamos, que começaram a reproduzir-se e a aumentar extensamente a sua população, desde aí.
De acordo com o jornal The Guardian, só nos últimos oito anos, a população local de hipopótamos passou de 35 a até 80 animais. Os cientistas acreditam que, se o ritmo de reprodução se mantiver, em 15 anos, o número de hipopótamos chegará a 1500.
A presença invasora dos animais tornou-se feroz e os cientistas defendem que é preciso abater os hipopótamos, para que estes parem de destruir as espécies animais e vegetais locais.
Os investigadores decidiram começar a estudar a população de hipopótamos em 2020, depois de um dos animais ter perseguido e causado ferimentos graves a um agricultor.
As conclusões do estudo foram publicadas este mês na revista científica Biological Conservation e revelam que os hipopótamos de Pablo Escobar se tornaram numa ameaça à biodiversidade local, podendo mesmo atacar mortalmente humanos que se cruzem com eles.
"É um dos maiores desafios de espécies invasoras em todo o mundo", afirma Nataly Castelblanco-Martínez, ecologista da Universidade de Quintana Roo, no México, e principal responsável pelo estudo, citada pelo The Guardian.
Outro estudo feito no mesmo ano por investigadores da Universidade da Califórnia em San Diego revelou que os hipopótamos estão também a alterar a qualidade da água, onde defecam e passam grande parte do seu tempo, naquela zona.
Os hipopótamos de Pablo Escobar ocupam a área fértil junto ao rio Magdalena, entre as cidades de Medellín e Bogotá. Ao contrário do que acontece no seu habitat natural em África, ali, na Colômbia, não têm predadores naturais.
O governo colombiano já tentou uma estratégia de esterilização dos animais, mas trata-se de um processo complexo e dispendioso.
A ideia de abater os animais é mal recebida pela população colombiana, que se afeiçoou aos animais e que faz dinheiro com as visitas turísticas ao local onde estes habitam.