TPI emite mandados de captura contra Netanyahu, Gallant e Deif. Decisão "isola ainda mais" Governo israelita
O antigo secretário-geral-adjunto da ONU Victor Ângelo nota, em declarações à TSF, que os EUA, ao apoiarem de forma "absoluta" Israel - que é acusado de cometer "os crimes internacionais mais sérios que possam existir" -, estão a cometer "um erro histórico"
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O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu esta quinta-feira mandados de captura para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, o ex-ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, e o chefe do braço militar do Hamas, Mohammed Deif.
"O tribunal emitiu mandados de captura contra dois indivíduos, o senhor Benjamin Netanyahu e o senhor Yoav Gallant, por crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos pelo menos desde 8 de outubro de 2023 e até pelo menos 20 de maio de 2024, dia em que o Ministério Público apresentou os pedidos de mandados de detenção", indicou o TPI em comunicado.
Num outro comunicado, o Tribunal anunciou ainda um mandado de captura contra Mohammed Deif, o líder das forças militares do movimento islamita Hamas.
Os mandados judiciais foram classificados como "secretos", de forma a proteger as testemunhas e garantir que as investigações possam ser conduzidas, de acordo com o comunicado, que ressalva que o tribunal "considera que é do interesse das vítimas e dos seus familiares que sejam informados da existência dos mandados".
O antigo secretário-geral-adjunto da ONU Victor Ângelo considera que esta decisão deixa Benjamin Netanyahu cada vez mais isolado, assim como o seu Governo.
"A grande consequência é a nível político na medida em que isto vai isolar ainda mais o regime que neste momento governa Israel e vai tornar a legitimidade das ações de Israel contra os palestinianos, contra o Hamas e contra o Hezbollah, ainda mais difícil de justificar", explica, em declarações à TSF.
Victor Ângelo sublinha ainda, que o Executivo israelita está a provocar "violações graves da lei da guerra e crimes contra a humanidade, que são os crimes internacionais mais sérios que possam existir".
Além disso, a decisão vai dificultar igualmente a tarefa dos diferentes países europeus, "que estão a fornecer apoio militar e até mesmo político" a Israel, de justificar "este tipo de ação perante as populações".
O antigo secretário-geral-adjunto da ONU assume então que a preocupação está na posição que a UE e os seus Estados-mebros "vão ou não tomar" perante esta situação.
"Os EUA têm sempre, de maneira absoluta, seguido e apoiado o regime israelita, mesmo quando há evidência muito clara - e essa evidência existe a partir de várias fontes -, de que o Governo de Israel está a cometer crimes que têm a configuração de genocídio ou de crimes de guerra ou contra a humanidade", nota.
Para Victor Ângelo, a posição de Washington parece ser "um erro histórico".
O procurador do TPI Karim Khan pediu, em maio, ao tribunal que emitisse mandados de captura para Netanyahu e Gallant (que foi demitido no início de novembro pelo primeiro-ministro israelita), alegando crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Gaza.
Khan solicitou ainda mandados de detenção para altos dirigentes do Hamas, incluindo Mohammed Deif, por suspeita de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Segundo Israel, Deif foi morto num ataque a 13 de julho no sul de Gaza, embora o Hamas negue a sua morte.
O Ministério da Saúde em Gaza atualizou esta quinta-feira o número de mortos para 44.056, em território palestiniano, desde o início da guerra com Israel, há mais de um ano.
Pelo menos 71 pessoas foram mortas nas últimas 24 horas, disse o Ministério, num comunicado, acrescentando que 104.268 pessoas ficaram feridas na Faixa de Gaza desde o início da guerra, desencadeada por um ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023.
