Traficantes aproveitam rota de exportação de bananas para esconder droga no Equador
Em 2021, quase um terço da cocaína apreendida pelas autoridades aduaneiras na Europa Ocidental e Central veio do Equador. Em agosto, as autoridades europeias fizeram apreensões recorde após inspecionarem contentores que transportavam bananas do país sul-americano.
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O Equador tornou-se num ponto de convergência para dois negócios globais: a exportação de bananas e cocaína, gerando uma onda de violência sem precedentes no país e fazendo disparar o número de apreensões na Europa.
Apesar de o país sul-americano não ser um dos maiores produtores de cocaína, está rodeado por dois Estados que o são - o Peru e a Colômbia - e, enquanto maior exportador mundial de bananas, possui algo que os traficantes consideram o veículo perfeito para contrabandear o produto: contentores cheios de bananas.
Além da proximidade com alguns dos maiores cartéis de droga do mundo, o Equador tem sido a nação escolhida por estes criminosos pelo facto de utilizar o dólar americano, pelas leis e instituições cada vez mais enfraquecidas, bem como uma vasta rede de gangues, explicou esta segunda-feira a Associated Press.
Os traficantes têm explorado esta janela de oportunidades e procuram, sobretudo, as caixas onde seguem as bananas para esconder a droga que pretendem traficar, fazendo disparar o número de apreensões, especialmente na Europa.
Após ser encaixotado nas plantações, o fruto é carregado em camiões em direção a enormes armazéns sediados em Guayaquil e arredores e transferido para contentores marítimos conduzidos para um porto da zona. Depois, os navios dirigem-se para nordeste, para o Canal do Panamá, atravessam o Mar das Caraíbas e seguem para leste, atravessando o Atlântico.
Aproveitando esta rota, alguns criminosos criam empresas falsas de exportação de bananas, ao passo que outros preferem encontrar empresas legítimas dispostas a serem cúmplices do narcotráfico. Ainda, alguns camionistas e trabalhadores de plantações são ameaçados, pagos ou raptados para ajudarem a colocar o estupefaciente nestes carregamentos.
Outros traficantes corrompem ou intimidam a polícia, os agentes aduaneiros, os seguranças e os trabalhadores portuários para ajudar - ou ignorar - a manipulação de contentores nos portos.
Atualmente, menos de 30% dos contentores são inspecionados nos portos equatorianos, um processo feito manualmente, muitas vezes com recurso a cães farejadores. O Governo do Presidente equatoriano, Guillermo Lasso, diz que quer usar scanners em todos os contentores. Doze dessas máquinas já deveriam estar em funcionamento, mas até à data não estão disponíveis.
Ainda assim, este é um trabalho que se tem verificado frutífero: em 2021, quase um terço da cocaína apreendida pelas autoridades aduaneiras na Europa Ocidental e Central veio do Equador - o dobro da quantidade registada em 2018. Desde então, as grandes apreensões de droga tornaram-se mais frequentes, sendo que em agosto as autoridades europeias fizeram apreensões recorde após inspecionarem contentores que transportavam bananas do país sul-americano.
Os dados da polícia equatoriana revelam que, em 2022, um recorde de 47,5 toneladas métricas de cocaína foi encontrado em carregamentos de bananas, apesar de as exportações da fruta terem caído 6,4% em relação a 2021.
Para a população local isto tem consequências imediatas, que se têm traduzido numa onda de violência sem precedentes na nação outrora pacífica. Tiroteios, homicídios, raptos e extorsões tornaram-se parte da vida quotidiana, em especial na cidade portuária de Guayaquil, no Pacífico, centro do comércio de bananas.
O assassínio do candidato presidencial conhecido pela sua posição firme contra o crime organizado e a corrupção - Fernado Villavicencio -, mortalmente baleado no final de um comício de campanha a 9 de agosto, abalou o país. Dias antes, Villavicencio acusou o gangue equatoriano Los Choneros e o seu líder preso, de o ameaçarem, bem como à sua equipa.
O narcotráfico tem contribuído igualmente para o aumento do número de mortes violentas no Equador, que duplicou de 2021 para 2022, quando morreram 4600 pessoas, o maior número alguma vez registado num ano. Ainda assim, o país está a caminho de bater novamente o recorde anual, com 3568 mortes violentas registadas no primeiro semestre de 2023.