Álvaro Carmo Vaz, professor universitário que vive em Maputo, considera que não houve capacidade de prevenção nem de reação à tragédia.
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"Onde é que está o nosso exército?" É esta a pergunta que Álvaro Carmo Vaz, especialista em recursos hídricos, faz, uma semana depois do ciclone Idai destruir a cidade da Beira. O engenheiro moçambicano não consegue perceber como é que o exército do país só chegou à Beira esta sexta-feira.
"Onde é que está o nosso exército? Onde é que estão os helicópteros do nosso exército? A gente não os vê. Passam as imagens na televisão e a gente não vê exército, não vê a polícia. Isto é uma situação dramática, isto é uma tragédia como nós nunca tivemos em Moçambique e aquilo que é talvez a instituição que podia intervir - porque tem gente e tem, ou devia ter, camiões, barcos, helicópteros e unidades de engenharia - não está lá. Se já passou uma semana e só hoje, segundo o ministro da Defesa, é que vamos ter o exército na Beira? Eu penso que a resposta é muito muito fraca."
Álvaro Carmo Vaz considera que não houve capacidade de prevenção nem de reação à tragédia.
"Não é só decretar o alerta vermelho, não basta dizer às pessoas para tomarem precauções. O que é isso de tomar precauções? Temos que dar orientações muito concretas às pessoas. Temos que dizer "as coberturas vão voar, guardem água, etc.". Têm que ser orientações muito concretas."
O professor da Universidade Eduardo Mondlane critica a lentidão com que a ajuda está a chegar à população.
"Era previsível que tivéssemos cortes de água ou cortes de eletricidade e é necessário fazer chegar alimentos, é necessário fazer chegar água. O primeiro barco que vai sair de Maputo para a Beira sai daqui no sábado, amanhã, e vai ser descarregado no domingo. Isto é, dez dias depois de o ciclone ter afetado a Beira. Eu acho que isso é imenso tempo. Para as pessoas que estão naquela situação de aflição é imenso tempo."
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