A cúpula da União Europeia reúne-se esta quinta-feira na Roménia, para discutir uma "agenda estratégica" para os próximos cinco anos.
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A Cimeira na Roménia deveria ser a primeira da União Europeia a 27. Mas, perante o impasse, com a saída do Reino Unido adiada para a noite das Bruxas, a cimeira de Sibiu, na Roménia, servirá para lançar as bases para um debate sobre o futuro da União, para transmitir uma "mensagem de unidade".
O bloco dos 27 vai finalizar um documento que se define a "agenda estratégica" que será "adotada no Conselho [Europeu] de junho", como espera o presidente do Conselho, Donald Tusk.
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A agenda assenta em quatro ideias, chave, com as quais, Donald Tusk quer lançar um debate para cimentar os laços entres os 27 e garantir uma União "mais sólida", apesar de contar com menos um Estado-Membro. Trata-se de uma carta de intenções, na qual a UE deverá propor-se a garantir "a proteção dos cidadãos e das liberdades", ao mesmo tempo que quer "desenvolver a base económica", assegurar que pode "construir um futuro mais verde, mais justo e mais inclusivo", sem esquecer de "promover os interesses e valores da Europa no mundo".
No documento a partir do qual será escrita a "Declaração de Sibiu", a União Europeia propõe-se a "proteger eficazmente as fronteiras externas" e a travar um combate ao "terrorismo e ao crime organizado". No âmbito da proteção civil, a UE deverá ser capaz de enfrentar e resolver ou suavizar as consequências de "desastres naturais e provocados pelo homem".
No capítulo que inclui a segurança e salvaguarda das democracias, a UE tem a intenção de "combater ameaças híbridas e garantir a segurança cibernética". O documento distribuído aos jornalistas detalha ainda aspetos como o combate a desigualdades regionais, o incentivo ao investimento público e privado, o desenvolvimento de uma agricultura sustentável.
Lendas e outras histórias
O encontro tem lugar em Sibiu, uma cidade medieval, do centro do país, situada a noroeste da capital, Budapeste, em plena Transilvânia. A região ficou célebre através do romance de Bram Stoker, o qual escreveu as lendas do famoso Conde que habitou um castelo não muito longe daqui.
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Era, portanto, na terra de Nosferatu, o Conde Drácula - um suposto vampiro ou um morto vivo -, que a União queria despedir-se do Reino Unido. Mas, como todos sabem, a caminhada cambaleante do Reino Unido vai continuar, pelo menos até à noite das Bruxas. É na data de 31 de outubro que o governo de Londres pensa ter condições para fazer tombar a guilhotina sobre os laços que prendem o Reino Unido à União Europeia.
Entretanto, Theresa May já convocou eleições europeias para daqui a poucas semanas, a 23 de maio. Os partidos eurocéticos lideram. De acordo com sondagens, com dados agregados apresentados, pelo Parlamento Europeu, Nigel Farage volta a liderar, agora com o seu novo Partido do Brexit, que reúne 30% das preferências do eleitorado britânico, podendo até reforçar a votação alcançada em 2014, quando era líder do Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP), que agora reúne 4% das intenções de voto. Juntos poderão alcançar mais de um terço do número de eurodeputados britânicos.
A ponte das mentiras
A cidade de Sibiu, como toda a região também está associada a várias lendas antigas, por exemplo a de uma ponte metálica, que tem sido atravessada por gerações e é conhecida como a ponte das mentiras.
Dizem as pessoas daqui que se ouve um ranger metálico quando é atravessada por quem tenha a mentira como hábito. Dizem também que era aqui que os jovens militares faziam juras de Amor e casamento que nunca pretendiam cumprir.
Nos pubs locais circula ainda uma outra versão do mito. Era ali, sobre a ponte que as jovens procuravam noivo, fazendo juras da sua condição de invictas. Outra história aponta a origem do nome na praça que fica ao lado, onde os mercadores "enganavam" os clientes.
É uma lenda, mas não deixa de ser curiosa esta associação, aqui às portas da cimeira, encostada ao centro de imprensa, numa altura em que crescem as preocupações da União Europeia face às chamadas "fake news".
Esta irónica coincidência podia até servir para lembrar os dados de um relatório divulgado há menos de 24 horas pelo jornal The Guardian que revela que quase metade da população europeia já foi exposta a campanhas de desinformação. A empresa que realizou o estudo de cibersegurança Safeguard Cyber detetou mais de 6700 perfis em redes sociais, com ligações à Rússia.
A poucas semanas das eleições europeias, o presidente Donald Tusk coloca também o "combate à desinformação" como uma das prioridades da declaração de Sibiu.