Tribunal absolve antigo ativista estudantil sul-coreano erradamente condenado em 1992
Um antigo ativista estudantil sul-coreano, condenado em 1992 por ter ajudado um colega a suicidar-se num protesto contra o regime do ex-presidente Roh Tae-woo, foi hoje absolvido das acusações.
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Kang Ki-hoon foi condenado por alegadamente ter ajudado o ativista Kim Ki-sul a lançar-se, em chamas, do topo de um edifício de uma universidade, num protesto contra o Governo do então presidente Roh Tae-woo, apoiado pelos militares.
Kang também foi considerado culpado de ter forjado o testamento de Kim e foi condenado a três anos de prisão.
O processo ficou conhecido como o "Caso Dreyfus" sul-coreano - numa referência ao famoso caso francês do século XIX - por se considerar que Kang, agora com 51 anos, foi falsamente acusado pelo Governo de Roh, para desacreditar o crescente movimento de protesto no país.
Depois de cumprir a sentença, Kang, que negou sempre as acusações, pediu um novo julgamento.
Este pedido foi aceite no âmbito da Comissão da Verdade e Reconciliação, criada em 2005 para rever violações dos direitos humanos no passado.
Ao anunciar o novo veredito, o Tribunal de Seul afirmou que as provas forenses, apresentadas na altura pelos procuradores para mostrar que Kang tinha escrito o testamento de Kim, "não tinham credibilidade".
A imolação de Kim, em maio de 1991, foi a quarta em menos de duas semanas, ao mesmo tempo que decorriam manifestações em massa, por todo o país, a exigir a demissão de Roh e amplas reformas democráticas.
Em 2007, a Comissão da Verdade e Reconciliação decidiu que a condenação de Kang tinha sido um erro judicial, mas o novo julgamento foi pedido para dar peso legal à decisão.
O "Caso Dreyfus" foi um escândalo político francês, no final do século XIX. Em 1894, um oficial do exército francês, de origem judaica, Alfred Dreyfus, foi condenado por traição, num processo fraudulento, baseado em documentos falsos.
O caso tornou-se público, através da denúncia do escritor Emile Zola, no manifesto "J'accuse!" (Eu acuso, em francês), em 1898.