Troca de acusações na ONU: Hamas quer "assassinar todos os judeus", em Gaza só se "ouvem bombas"
O embaixador da Palestina na ONU lamenta a falta de empatia perante a morte de milhares de palestinianos. Israel afirma que o Hamas cometeu "atrocidades que não se viam desde o Holocausto" e mostrou vídeo de civis alegadamente assassinados neste conflito.
Corpo do artigo
A Assembleia-Geral das Nações Unidas reuniu-se esta quinta-feira, de emergência, para analisar uma resolução proposta pelos países árabes, que pedem um cessar-fogo imediato e a revogação da ordem para os palestinianos fugirem para o sul de Gaza. Presentes no debate, os embaixadores israelitas e palestinianos na ONU trocaram acusações.
O embaixador israelita junto da ONU, Gilad Erdan, comparou esta quinta-feira o Hamas ao regime nazi, enquanto exibia imagens de israelitas alegadamente assassinados neste conflito, tendo feito um minuto de silêncio pelas vítimas.
O responsável israelita lamenta igualmente que a resolução apresentada esta quinta-feira seja "uma ofensa à inteligência" dos Estados-membros.
TSF\audio\2023\10\noticias\26\margarida_serra_onu_medio_oriente
"O massacre de 7 de outubro e o que se seguiu não têm nada que ver com os palestinianos. Não tem nada que ver com o conflito israelo-árabe, nem com a questão palestiniana. Não se trata de uma guerra com os palestinianos. Israel está em guerra com a organização terrorista jihadista genocida Hamas. Só. É a democracia respeitadora da lei de Israel contra os nazis dos tempos modernos. Estes são os factos", assegura Gilad Erdan, que acrescenta que o grupo "não se preocupa com o povo palestiniano".
"Não se preocupa com a paz nem com o diálogo. O Hamas tem apenas um objetivo: aniquilar Israel e assassinar todos os judeus à face da Terra", atira.
O embaixador israelita critica o facto de a resolução "nem sequer mencionar" o Hamas, apontando que o documento "é uma ofensa à inteligência" dos Estados-membros e afirmando que é "incompreensível" que esta possa ir a votações.
"Os países árabes veem-vos como um fantoche. Escrevem uma resolução completamente desprovida de qualquer conteúdo relacionado com a situação. Partem do princípio de que já se esqueceram de quem é o responsável por esta violência desumana e esperam que a apoiem automaticamente", defende.
Já o embaixador palestiniano junto da ONU, Riyad Mansour, acusou esta quinta-feira Israel de usar todos os argumentos possíveis para atacar Gaza, sublinhando que, enquanto o conflito é debatido, os civis de Gaza continuam a ser mortos.
"Lembremo-nos todos que estamos aqui reunidos enquanto os palestinianos em Gaza estão sob as bombas. Lembrem-se que estamos a falar enquanto famílias são mortas. Enquanto os hospitais param, enquanto bairros são destruídos, enquanto as pessoas fogem de um lugar para outro, sem nenhum lugar seguro para ir. Apelo para que escolham as palavras com cuidado e ajam de acordo", começou por sublinhar Riyad Mansour.
O representante da Palestina falou das vítimas dos bombardeamentos e contou alguns dos dramas a que tem assistido, como o do homem abraçado ao corpo da mãe, pedindo-lhe para regressar, "como se fosse uma criança".
"Estamos aqui, nas Nações Unidas, para salvar as gerações futuras do flagelo da guerra. Israel diz para libertar os reféns, mas faz dois milhões de reféns palestinianos", acusa Riyad Mansour, que destaca que em Gaza "não há tempo para fazer luto".
"Porque é que alguns sentem tanta dor pelos israelitas e tão pouca dor por nós, os palestinianos? Qual é o problema? Temos a fé errada? A cor da pele errada? A nacionalidade errada? A origem errada?", questiona o embaixador palestiniano, que sublinha que, em Gaza, "não se ouvem os discursos dos políticos". "Apenas ouvem os bombardeamentos."
Riyad Mansour lamenta, por isso, que alguns representantes tentem explicar "o quão horrível é que mil israelitas tenham sido mortos e não tenham a mesma indignação quando mil palestinianos são mortos todos os dias", defendendo que "nada pode justificar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio".
Atormentando pela falta de empatia para com os palestinianos, Mansour aponta que mil civis morrem todos os dias, reforçando que "nada pode justificar o assassínio de uma única criança" da Palestina.
O embaixador de Israel na ONU avança, por outro lado, que as "atrocidades cometidas pelo Hamas não se viam desde o Holocausto".
"No entanto, ao contrário do Holocausto, em que as provas de que dispomos são sobretudo fotografias a preto e branco e filmagens sem som, aqui, as provas são em alta definição. Porque algumas são imagens de segurança, sim, mas muitas são de telemóveis e câmaras GoPro pertencentes aos próprios nazis", atira, explicando que o grupo faz isto porque o seu objetivo é "aterrorizar os civis israelitas".
"Já agora, é isto que os terroristas fazem. Eles aterrorizam", explica.
Gilad Erdan considera ainda que "não existem palavras para descrever o mal" que está a dominar o Médio Oriente e afirma que "a razão pela qual não é descritível é porque não tem lugar entre a espécie humana".
No final das intervenções, o representante palestiniano apelou à Assembleia-Geral das Nações Unidas para que a resolução, apresentada esta quinta-feira pelos países árabes e que vai a votos na sexta-feira, fosse aprovada, afirmando que o mundo não pode limitar as ações do país para se defender.
"Eles matam-nos a todos. Eles matam mil dos nossos e vocês dizem que eles estão a tentar minimizar o número de mortes civis. Como é que ia ser se eles estivessem a tentar maximizar a morte de civis palestinianos?", questionou.