Trump e Musk são desafio "tão ou mais perigoso do que Putin" com fim de verificação de factos nas redes sociais
A importância do fact-checking deve-se à existência de "alcateias que atacam pessoas específicas" nas redes sociais e perde-se espaço para "perspetivas rivais". Pede-se uma postura "firme" à UE, composta por líderes que parecem "galinhas tontas" sempre que Trump ou Musk falam
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Após a Meta decidir seguir a política do X (antigo Twitter) e deixar de verificar o conteúdo distribuído no Facebook, Instagram e WhatsApp, passando a existir notas de contexto acrescentadas pelos utilizadores, em nome da liberdade de expressão, é a democracia que sai prejudicada, como explicaram vários especialistas no Fórum TSF desta quinta-feira.
À União Europeia exige-se "uma firmeza e uma clareza absolutamente excecionais", porque Elon Musk e Donald Trump compõem um "desafio enorme", sendo "diferente, mas tão ou mais perigoso do que o próprio Vladimir Putin". O alerta foi do antigo secretário-geral adjunto da ONU Victor Ângelo.
"Muita gente, em toda a parte do mundo, está todos os dias à espera dos títulos dos jornais, à espera das informações que aparecerão nas plataformas sociais, que irão mostrar quais foram os anúncios e as loucuras que Donald Trump e Elon Musk inventaram."
Desinformação à parte, para o jornalista Paulo Querido, o papel destes dois magnatas mostra o "excesso de poder de influência" que uma pessoa pode ter. A investigação fica aquém, porque "os jornalistas já não têm o poder que tinham antes e, neste momento, não há capacidade de escrutínio para alguém como Elon Musk", justifica.
Revelando-se "descrente" na procura de uma solução, o especialista em novas tecnologias e redes sociais caraterizou os líderes europeus como "galinhas tontas a andar em círculos" cada vez que aqueles multimilionários se pronunciam sobre determinado assunto. O dono da Tesla já fez interferências diretas, por exemplo, na política alemã e a reação foi "fraca".
Preocupação é o sentimento do professor de Ciência Política da Universidade de Aveiro Carlos Jalali perante "a mudança na dinâmica das redes sociais" e, consequentemente, "no padrão do debate político em contextos democráticos".
"A democracia implica confronto de ideias", ou seja, "transmitir e receber ideias divergentes", apontou ainda. "A partir daí, [é] tentarmos, de alguma forma, chegar a uma decisão coletiva, a algum grau de consenso, nem que esse consenso implique aceitarmos que uma ideia perde e outra ganha. O que as redes sociais fazem é subverter esta forma de interação entre aquilo que são perspetivas rivais", argumentou.
Por sua vez, o investigador do ISCTE Miguel Crespo considerou que as comunidades virtuais têm "virtudes", mas, ao mesmo tempo, têm algoritmos, "a coisa mais opaca com que se lida todos os dias".
Além disso, são comandadas por pessoas que têm objetivos políticos e, por isso, acabar com o fact-checking é "gravíssimo". "Há alcateias organizadas para atacar pessoas em específico", que não permitem uma opinião contrária e "destroem" quem a tem.

