A TSF ouviu as expectativas de três investigadores do IPRI, Ana Santos Pinto, Carlos Gaspar e Patrícia Daehnhardt sobre o julgamento que hoje começa no senado dos EUA.
Corpo do artigo
"Com ou sem impeachment, o saque do Capitólio por incitação do presidente Donald Trump, é a marca histórica do seu mandato". Assim, numa frase, o professor catedrático Carlos Gaspar, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa e professor convidado da Universidade Autónoma (UAL), sintetiza a expetativa e a importância em relação ao julgamento do ex-presidente americano no Senado, a partir de hoje.
Para Patrícia Daehnhardt, doutorada em Relações Internacionais pela London School of Economics, e também investigadora do IPRI, é importante que o julgamento envie um sinal para que Donald Trump não volte a exercer cargos públicos: "esperemos que (o julgamento) envie um sinal porque o que aconteceu há um mês é algo que a democracia não pode permitir que volte a acontecer, e nesse sentido esperemos que tenha consequências, nomeadamente quanto a impedir que Trump possa vir a candidatar-se à presidência daqui a três anos ou que, noutra altura que seja, possa vir a exercer um novo cargo público. Mas isto revela que não só o sistema político norte-americano tem elementos de disfuncionalidade, mas revela também como está dividida a sociedade norte-americana". Dai esta investigadora esperar que o resultado deste processo seja "um resultado que restabeleça e fortaleça as bases da democracia norte-americana, se bem que não tenho dúvidas que pode vir a não contribuir para o suavizar das divisões entre os próprios norte-americanos".
Já na opinião de Ana Santos Pinto, igualmente professora da Universidade Nova de Lisboa e investigadora do IPRI, é duvidoso que Trump venha a ser condenado neste processo e pensa que "o mais grave já está feito. Não só a polarização nos EUA, é uma crise gravíssima dentro do partido republicano, e é o mundo ver a cena que passou em todas as televisões, com a invasão do Capitólio e a impunidade com que essa invasão foi realizada". E, depois, aquelas imagens que não se podem esquecer: "Eu continuo a dizer que ver a imagem da bandeira da Confederação (símbolo da América racista do tempo da escravatura, ou seja, Durante a guerra civil americana, os Estados Confederados procuraram a independência para impedir a abolição da escravatura.) passear nos corredores do Capitólio, é algo que jamais iremos esquecer. Aquelas pessoas a entrarem por aquelas portas, essa é a marca do impeachment". Se Donald Trump se recandidata em 2024, entende que é muito cedo para se pensar nisso: "a sociedade norte-americana tem dinâmicas muito próprias. Mas a marca é aquela, a imagem daquele dia. Não só o que Donald Trump disse, mas essencialmente as pessoas que foram para o Capitólio, entraram e desfilaram no Capitólio. Enquanto alguém que olha para a sede da democracia nos vários países do mundo, eu devo dizer que fiquei em choque com aquelas imagens, porque acho que é colocar tudo em questão".
Três investigadores do IPRI, ouvidos para o programa Mapa Mundo da TSF, no ar depois das 13h e das 24h e que vai incidir nos desafios da segurança internacional.