TSF em Israel. A cadeira de Yosef é a porta de embarque numa Ashkelon onde os táxis quase voam
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Yosef está sentado numa antiga cadeira de escritório junto a um parque de estacionamento a céu aberto. Destaca-se nas ruas quase paradas de Ashkelon, uma cidade com mais de cem mil habitantes no sul do Israel.
A cidade parece ter sido atingida por uma qualquer substância misteriosa que fez desaparecer a vida e os seres humanos. Não há sequer crianças e nem atrás das janelas se ouve ruído.
O trânsito também quase não existe, passa um carro muito de vez em quando, mais raro é ver um autocarro, embora a TSF esteja na estação que fica mesmo no meio da cidade. As lojas estão praticamente todas fechadas e os táxis também são pouquíssimos, mas foi através de um deles que foi possível aqui chegar.
A viagem foi muito, muito rápida. A acelerar o que mais conseguia, o taxista parava apenas nos sinais vermelhos porque, havendo pouco trânsito, sempre há algum. Fora esse cuidado, a velocidade foi enorme em todo o percurso. Mas durou tempo suficiente para se barbear enquanto conduzia.
É uma pressa que contrasta com a de Yosef. Do alto dos seus 80 anos de idade, este ex-polícia vai fumando calmamente com um ar quase refastelado.
Explica à TSF que está a tentar arranjar transporte - táxis, no caso - para quem chega à cidade sem meio de circular para outra zona de Israel. O destino mais procurado por estes dias é Telavive.
Foi esse o caso de um rapaz que por ali passou esta manhã. Com a mãe num bunker, ia à cidade abastecer-se de bens essenciais que só se conseguem em Telavive, mas levava na cabeça o futuro.
Pondera seriamente, contou, levar a mãe e a irmã para lá - as cidades distam perto de uma hora - para garantir que ficam mais seguras.
Yosef assiste a tudo no seu conforto aparente. A verdade é que vive sozinho e sente-se mais seguro na rua, onde apesar da pouca gente, ainda vai vendo alguma.
A velha cadeira está encostada a um de dois bunkers. Por ele, a situação é clara: "Aqui não passa nada."
*com Gonçalo Teles
