"Tsunami da extrema-direita apanhou uma bofetada." Derrota "inequívoca" de Le Pen "alivia" franceses
No Fórum TSF, o filósofo José Gil destaca que "Putin não gostou" da queda de Le Pen nas eleições francesas. Já a jornalista Margarida Davim carateriza Macron como o "grande responsável pela ascensão da extrema-direita"
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A esquerda venceu as eleições francesas, elegendo 182 deputados para a Assembleia Nacional. O filósofo José Gil, que conhece bem a realidade francesa, admitiu "alívio" perante a "derrota inequívoca" do Rassemblement National, da extrema-direita. Os eleitores "não votaram só contra uma certa ideia antirrepublicana e antidemocrática, votaram positivamente por uma reformulação da democracia", considerou, em declarações no Fórum TSF.
"Putin, com certeza, não gostou nada dos resultados, Trump também não", assinalou, acrescentando: "A perspetiva que se tinha sobre as mudanças mundiais que vinham aí, que mostravam uma espécie de tsunami da extrema-direita a cobrir o planeta inteiro, ficou mal."
José Gil refletiu ainda sobre "as transformações extraordinárias na Europa e, por consequência, no mundo" que poderiam existir num cenário hipotético em que o partido de Marine Le Pen tivesse ganhado e obtido maioria absoluta. O filósofo enfatizou que essa vitória levaria "à aprovação de Trump, à aprovação de Putin, à aprovação de Órban e à do nosso Ventura". Em contrapartida, "toda esta gente apanhou uma bofetada".
O terceiro lugar da União Nacional mostra a construção de "uma espécie de fronteira, de limite para o crescimento" desta ideologia, concluiu.
Para Hermano Sanches Ruivo, é "absolutamente necessário reinventar uma parte da política francesa". O vereador português da Câmara Municipal de Paris prevê dificuldades para a formação do futuro Governo: "Como é que os deputados neste Parlamento, de tal maneira cortado em três, quatro espaços, podem imaginar trabalhar em conjunto?", questiona.
Já Macron "ganhou algum tempo", mas o Presidente francês não governa sem a Assembleia Nacional, "que pode demorar alguns meses a chegar a acordo".
Também ouvida no Fórum TSF, a jornalista Margarida Davim aconselhou "todos, em Portugal" - em particular, os partidos portugueses que "estão a pensar em possibilidades de coligação à esquerda" - a olharem para França com atenção. Indicou igualmente que o partido liderado por Jordan Bardella, apesar de ter ficado em terceiro lugar, conseguiu "subir bastante" o número de deputados eleitos.
"Aquilo a que estamos a assistir, no fundo, é o efeito da política de Emmanuel Macron", realçou a também comentadora de política da TSF. "Ele é o grande responsável pela ascensão da extrema-direita através das políticas que aplicou", afirmou, especificando aquelas "que beneficiaram os mais ricos com cortes fiscais, que foram ao encontro da extrema-direita no aperto da imigração, que fizeram disparar o défice e a dívida".

