Tsunami/10 anos: Tragédia continua bem presente na memória de quem estava na Tailândia
Dez anos depois de uma das maiores tragédias da Ásia, o sismo seguido de tsunami de 26 de dezembro de 2004 continua ainda bem presente na memória de residentes de Macau que estavam na Tailândia.
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Fátima Cid, antiga jornalista, e Irina Carvalho, funcionária da Administração de Macau, estavam em locais diferentes do país dos sorrisos, mas guardam na memória cenários idênticos: «destruição total» e uma tragédia que muito dificilmente alguém esquecerá.
«Lembro-me de tudo. Está tudo presente na minha memória», diz Fátima Cid recordando que estava num hotel na praia de Patong, em Puket, na Tailândia, mas naquele dia decidiu ir até à praia de Karon, na mesma zona, mas alguns quilómetros mais à frente.
À chegada à praia, Fátima Cid lembra-se «perfeitamente», uma frase muito repetida ao mesmo tempo que as lágrimas ainda correm no rosto, «de haver uma extensão enorme de areia molhada, portanto o mar tinha recuado».
De repente, continuou, ouve dois apelos em inglês, mas pensou que se tratava de uma brincadeira. Não era. Os pés ficam molhados e Fátima Cid é envolvida no turbilhão de água ficando submersa dentro de uma pequena casa na praia.
«Está tudo muito presente ainda», acrescenta emocionada e virando um pouco a página das horas que se seguiram. Fala do regresso a Macau e de ter acordado no chão num movimento como se estivesse a nadar. Tinham passado dois dias da tragédia em que se viu envolvida.
Não fossem assuntos que tem de tratar em Portugal e Fátima Cid regressaria este ano a Puket, para perceber como «enfrenta a situação» porque ainda fica bastante incomodada com notícias e imagens do desastre.
«Nunca mais consegui ler um livro na praia. Já estive na Tailândia, mas em Pataia, e no Algarve, na praia da Rocha, onde uma maré viva me assustou também», contou.
Horas depois do desastre, Fátima Cid regressou ao hotel onde estava alojada. Pelo caminho a «destruição era grande». Não encontrou pessoas com quem passava dias na praia. Voltou tão depressa quanto conseguiu a Macau e lembra-se de ser reconhecida no autocarro e de um amigo ourives, o senhor Lei, lhe dizer que era uma mulher de sorte porque Macau protegia a sua gente.
Já Irina Carvalho não foi apanhada no turbilhão das ondas que atingiram a costa tailandesa, porque estava a fazer um passeio de barco.
«O homem do barco estava muito nervoso, agitado, mas não percebíamos porquê. Mas quando íamos a regressar às ilhas Phi-Phi, onde estava com o meu marido, começamos a ver várias pessoas que surgiam do nada no meio do oceano», explica.
Do pequeno barco do passeio, onde não percebeu logo o que estava a acontecer, mas começava a imaginar algo de grave, Irina Carvalho passou para outro de maiores dimensões onde cada vez mais se juntavam pessoas recolhidas no mar.
«Quando estávamos a regressar vimos as ilhas Phi-Phi de uma ponta à outra e estava tudo completamente devastado, parecia que tinha sido bombardeado. Não vivi a sensação da onda a aproximar-se ou de ter sentido o tremor. Mas a sensação de ver pessoas a entrar no barco e a recordarem que estavam a tomar o pequeno-almoço com mulher e filhos e de repente desapareceu tudo», recorda.
Pelo menos cinco portugueses residentes em Macau morreram no tsunami que atingiu a Tailândia. Nos dias seguintes, e com a embaixada de Portugal em Banguecoque incapaz de responder a todos os pedidos de ajuda, vários familiares e amigos de vítimas da tragédia partiam para a Tailândia para ajudar.