Aleksandra Herasimenia, ex-nadadora, conquistou duas medalhas de prata nas Olimpíadas de Londres, em 2012. Oito anos depois, a luta é pela liberdade e direitos humanos na Bielorrússia.
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Tem assistido com preocupação à perseguição dos manifestantes por parte das autoridades na Bielorrússia?
As pessoas não são detidas apenas nas manifestações, é em todo o lado. É quando as pessoas vão às compras, quando estão a caminho de casa, quando estão nos carros, é em qualquer circunstância. Por exemplo, ontem uns amigos meus encontraram-se para tomar café, depois entraram no carro, de repente, a polícia apareceu e prendeu-os. Porquê? Claro que ninguém explicou nada. Simplesmente aconteceu e eles continuam detidos.
Ouça aqui a entrevista n'O Estado do Sítio de 21 de novembro de 2020
Portanto, pensa que a repressão por parte das autoridades está a aumentar?
Tudo o que está a acontecer na Bielorrússia é de loucos. As pessoas, em todo o lado, têm direito a exprimir as suas opiniões, a serem ouvidas. Se discordam têm de ser respeitadas, mas neste momento na Bielorrússia não temos nada. Temos de permanecer calados.
Se as eleições foram justas... porque é que as pessoas são espancadas? Repitam as eleições e se vencerem, se as pessoas escolherem o mesmo Presidente, tudo bem.
Foi por isso que decidiu falar? Normalmente, as pessoas do desporto não se envolvem em questões políticas? Porque é que decide falar?
A 9 e 10 de agosto, quando vimos o que aconteceu nas nossas ruas... Eu não estava no país, estava apenas a acompanhar pela internet. Via a forma como as pessoas eram espancadas, como eram usadas granadas, nem queria acreditar no que estava a acontecer. Senti medo, porque eu não estava em casa, não sabia se os meus pais podiam estar em perigo. Mais tarde, o meu pai contou-me que numa manifestação, as granadas de gás lacrimogéneo caíram a dois metros dele, houve espancamentos. Quando regressei, decidi que não podia permanecer em silêncio. Se as eleições foram justas... porque é que as pessoas são espancadas? Repitam as eleições e se vencerem, se as pessoas escolherem o mesmo Presidente, tudo bem, ninguém vai dizer mais nada, não haverá mais manifestações.
Há represálias, como ficar fora das seleções.
Quantas pessoas do mundo do desporto é que assinaram esse manifesto até agora?
Neste momento temos mais de mil assinaturas, mas sabemos que representam apenas 30% daqueles que estão connosco, mas que têm medo de assinar. Porque há represálias, como ficar fora das seleções.
Portanto, confirma que alguns atletas foram despedidos ou ficaram fora das seleções nacionais por terem participado nos protestos?
Sim. Cerca de 20 atletas perderam não apenas o lugar nas seleções, mas também os apoios financeiros do Governo e mais dez que foram dispensados das seleções. Por isso começámos a angariar fundos para que eles possam treinar para os Jogos Olímpicos. Há ainda dez atletas que foram detidos.
Tenho essa recordação na minha mente, portanto não importa se é um equipamento, ou uma medalha. Se esses objetos podem ajudar, então não há problema.
Nessa angariação de fundos para esses atletas, vendeu alguma coisa dos seus equipamentos ou medalhas?
Sim. Temos três formas para angariar dinheiro. Doações privadas, temos também leilões, por exemplo o meu fato olímpico foi vendido por cinco mil euros. Agora criámos fundos individuais para dez atletas olímpicos.
Presumo que o equipamento com que ganhou a medalha olímpica em Londres tivesse um grande valor simbólico para si, portanto não lamenta tê-lo vendido?
Eu percebo o que quer dizer. Mas são apenas objetos, claro que para mim é uma memória muito forte. Tenho essa recordação na minha mente, portanto não importa se é um equipamento, ou uma medalha. Se esses objetos podem ajudar, então não há problema. Acredito que quem o receber vai ficar tão emocionado como eu nos Jogos Olímpicos. Até porque o meu fato vai para um museu nos Estados Unidos e esse também é um orgulho para mim.
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