"Tudo voltou a funcionar." Maputo tenta retomar normalidade com reforço policial nas ruas
A avenida Joaquim Chissano foi o centro dos protestos, próximo do local onde na sexta-feira ocorreu o duplo homicídio de dois apoiantes de Venâncio Mondlane, incluindo o seu advogado, Elvino Dias
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A capital moçambicana tenta esta terça-feira retomar a normalidade, com transportes a funcionar e filas de trânsito pela cidade, apesar do reforço policial visível após os violentos confrontos do dia anterior com manifestantes, que provocaram destruição e feridos.
Em declarações à TSF, o repórter moçambicano Francisco Mandlate considera que, esta terça-feira, o ambiente está mais calmo na capital moçambicana. "Parece que a vida voltou à normalidade, as escolas, as instituições públicas, o comércio, os transportes públicos... tudo voltou a funcionar. Não há relatos de qualquer situação anómala nas ruas de Maputo, esta manifestação tinha sido agendada apenas para um dia, que era o dia de ontem [segunda-feira]. Apesar de todo o aspeto de violência que marcou no dia de ontem [segunda-feira], hoje [terça-feira] as pessoas voltaram à rua com algum receio, mas os primeiros que se fizeram à estrada deram garantias aos outros que a situação voltou à normalidade e por isso a vida voltou ao normal", conta à TSF Francisco Mandlate.
O repórter moçambicano descreve o dia de segunda-feira como "um dia de muita violência. "O dia começou tranquilo, sem movimentação nas estradas, parecia que o dia ia correr sem um ato de violência, até que houve aquela situação em que a polícia atirou para dispersar os apoiantes de Venâncio Mondlane no local onde ocorreram os assassinatos do advogado Elvino Dias e também do mandatário do Podemos, Paulo Guambe. A partir daquele momento que houve aquela dispersão com o uso de gás lacrimogéneo foi só violência", sublinha.
Numa ronda feita pela Lusa esta manhã era possível ver um forte dispositivo policial, incluindo com blindados da Unidade de Intervenção Rápida colocados estrategicamente nos locais mais críticos dos protestos de segunda-feira, mas também restos de pneus queimados nas ruas no dia anterior e contentores do lixo destruídos ainda na via.
A avenida Joaquim Chissano foi o centro dos protestos, próximo do local onde na sexta-feira ocorreu o duplo homicídio de dois apoiantes de Venâncio Mondlane, incluindo o seu advogado, Elvino Dias, e para onde o candidato presidencial tinha convocado a saída de uma manifestação para a manhã de segunda-feira, que nunca chegou a acontecer devido à forte intervenção da polícia.
Os apoiantes de Venâncio Mondlane, que contesta igualmente os resultados preliminares das eleições gerais de 09 de outubro, levaram os protestos para vários bairros, no centro da cidade e nos subúrbios, como Polana Caniço, Xiquelene e Maxaquene, onde a polícia também realizou disparos e lançamento de gás lacrimogéneo para dispersar qualquer concentração.
Durante a noite não houve registo de confrontos significativos em Maputo.
Esta manhã, e apesar do reforço policial visível nestes locais, a vida começou a retomar a normalidade, com estabelecimentos comerciais a começarem a reabrir e a chuva que cai a limpar os destroços dos confrontos, ainda visíveis nas ruas.
Durante os confrontos com a policia, que durante todo o dia realizou disparos de gás lacrimogéneo e tiros para o ar para desmobilizar qualquer grupo de manifestantes, que, por sua vez, respondiam com o arremesso de pedras e pneus queimados, mais de uma dezena de pessoas ficaram feridas, incluindo pelo menos três jornalistas, tendo o Hospital Central de Maputo convocado para esta manhã uma conferência de imprensa de balanço.
Além da capital, há registo de confrontos e manifestações durante o dia de segunda-feira em várias cidades moçambicanas.
Em Maputo, os confrontos de segunda-feira entre a polícia e os manifestantes começaram cerca das 07h30 (menos uma hora em Lisboa), com a força policial a dispersar os grupos que se começavam a juntar para participarem nas marchas pacíficas.
Mondlane acusou as forças policiais de dispararem "balas verdadeiras" contra manifestantes durante as marchas e afirmou que os moçambicanos juntaram-se para "salvar o país".
O candidato presidencial convocou as marchas no sábado, como forma de repúdio pelo homicídio de Elvino Dias e Paulo Guambe, mandatário do partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), que o apoia.
Mondlane classificou os líderes da polícia moçambicana como verdadeiros terroristas e prometeu continuar os protestos em mais três fases até à divulgação dos resultados finais das eleições pelo Conselho Constitucional.
A resposta policial às manifestações foi condenada pela comunidade internacional e houve vários apelos à contenção de ambas as partes, nomeadamente de Portugal, da União Europeia e da União Africana.
