Turnos de 18 horas e condições "desumanas". Goldman Sachs alvo de denúncias de abusos laborais
Tem crescido a revolta entre os trabalhadores mais jovens do grupo internacional devido aos abusos laborais, que os impedem, por exemplo, de descansar, tomar banho e ir às compras, dada a carga excessiva de trabalho.
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O Goldman Sachs está a ser alvo de denúncias de abusos laborais, como turnos de 18 horas e salários baixos.
Os funcionários mais recentes no grupo internacional já trabalhariam durante horas a fio, mas a camaradagem anteriormente sentida nas instalações atenuava o cansaço. Agora, conta o jornal The Guardian, os funcionários veem-se forçados a gerir situações de esgotamento sozinhos e em casa, durante o teletrabalho imposto pela pandemia. O jornal britânico adianta que alguns colaboradores começaram a exigir mudanças, e outros planeiam mesmo deixar o emprego. Tudo terá começado com a denúncia de um trabalhador estabelecido nos Estados Unidos da América, onde se encontra a sede do Goldman Sachs, mas agora o problema estendeu-se também ao Reino Unido.
Um bancário que aceitou falar com o jornal The Guardian - e que pediu anonimato - garante que a equipa mais jovem tem receio de referir questões como os turnos de 18 horas, acompanhados de salários às vezes abaixo do valor mínimo, bem como justificar as baixas médicas com motivos de esgotamento. A publicação ainda revela que o funcionário, sob anonimato, não quis revelar o seu género, por medo de sofrer consequências.
Com a sede da Fleet Street (Londres) fechada, alguns funcionários começaram a trabalhar a partir de casa, mas o bancário, com pouco mais de 20 anos, e cuja identidade não é revelada, começou a trabalhar a partir de um apartamento de três quartos, partilhado com outros dois colegas. Nesse momento, o trabalho tornou-se ainda mais penoso, conta.
David Solomon, diretor-executivo do Goldman, já tinha reconhecido a carga suplementar de trabalho causada pela pandemia. Embora a procura por bancos de investimento tenha ajudado a elevar os lucros em 135%, para 3.786.922 euros no final de 2020, os trabalhadores foram afetados pela sobrecarga.
O bancário ouvido pelo jornal The Guardian afiança que há sempre três a seis pessoas de baixa médica devido ao esgotamento. Alguns funcionários chegam a ter de trabalhar até às 04h00 e 05h00, ou até no avançar da manhã.
David Solomon viu-se obrigado a responder a queixas de 13 bancários do grupo, no início desta semana. Os trabalhadores expuseram que trabalhavam ao longo de muitas horas, naquilo que designaram como condições "desumanas". As denúncias começaram a surgir em fevereiro, mas não são caso isolado. Em 2015, o analista do Goldman Sarvshreshth Gupta, de 22 anos, suicidou-se após acumular cem horas de trabalho numa só semana, incluindo durante a noite.
Numa mensagem enviada a toda a empresa na segunda-feira, o diretor-executivo prometeu que o banco aumentará os esforços para contratar mais bancários juniores, gerir melhor as equipas e proibir o trabalho aos sábados.
Bancos como o Goldman Sachs podem fazer cumprir mais horas de trabalho se adicionarem uma cláusula aos contratos que exclui os funcionários da regra da semana de trabalho de 48 horas. O bancário júnior que conversou com o jornal The Guardian reportou que, por vezes, nem chega a ter tempo para tomar banho, comer ou fazer as compras para a casa, depois de as exigências terem aumentado "sem qualquer controlo".
O colaborador refere que o Goldman Sachs tentou atenuar a situação com a oferta de ioga virtual ou webinars sobre saúde mental, mas, como os funcionários não têm tempo para a vida pessoal, também não o têm para aplicar em iniciativas desta natureza.
Os bancários a trabalhar há um ano no grupo recebem 10,39 euros por hora, um valor anterior ao abate dos impostos e que é menor do que o salário mínimo em Londres, e trabalham muitas vezes em turnos de 18 horas, seis dias por semana. O Goldman Sachs também não paga as despesas inerentes à utilização de equipamentos eletrónicos no teletrabalho, como computadores, telefone, cadeiras e secretárias. Os funcionários foram ainda privados de benefícios relativos a despesas de alimentação.
O banco não negou as denúncias, vincando apenas em comunicado: "Estamos ativamente empenhados em garantir que todos nas suas equipas, incluindo funcionários juniores, tenham o suporte de que precisam devido ao grande número de clientes, e aos elevados e contínuos desafios de trabalhar a partir de casa."