Robert Charles, advogado e republicano, trabalhou na Casa Branca Reagan e os dois Bush. Apoia Trump porque "nestas eleições não temos escolha" e o ex-presidente "aprendeu com os erros". Diz que os EUA não devem escalar a guerra na Ucrânia e publicou Cherish America, um livro que rende homenagem a atos extraordinários.
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Robert B. Charles, 64 anos, é um advogado americano e figura política republicana. Foi secretário de Estado adjunto do Gabinete de Assuntos Internacionais de Narcóticos e Aplicação da Lei do Departamento de Estado dos EUA durante dezoito meses, de outubro de 2003 a março de 2005, liderado por Colin Powel. Trabalhou antes nas Administrações de Bush pai e Ronald Reagan. Natural do estado do Maine, obteve a formação para exercer advocacia na Columbia Law School em Nova Iorque, um mestrado em Filosofia, Política e Economia na Universidade de Oxford em Inglaterra e bacharelato no Dartmouth College em New Hampshire.
Leccionou cursos na Escola de Extensão da Universidade de Harvard, foi Oficial de Inteligência Naval (USNR) no Gabinete de Inteligência Naval (ONI) e no Pentágono.
Atualmente, Charles é Presidente e Membro Executivo do Charles Group, LLC, uma empresa de consultoria sediada em Washington, DC. e membro do Conselho de Relações Exteriores (CFR).
No livro Narcotics and Terrorism, um volume de 2004 explica as implicações para a segurança nacional e interna relacionadas com o tráfico de droga. Aparece também em diversos meios e programas na comunicação social, incluindo C-SPAN, 60 Minutes, e é colaborador de opinião da Fox News.
O seu anterior livro, Eagles and Evergreens (North Country Press, 2018), contém 45 histórias sobre o seu crescimento na zona rural do Maine sob a influência de veteranos da Segunda Guerra Mundial, celebrando os valores não partidários que esses veteranos lhe transmitiram.
Agora traz-nos Cherish America, Estimar a América (Histórias de Coragem, Carácter e Bondade).
Que livro é este Robert Charles?
Este livro é baseado e começou com uma ideia. Há um historiador famoso que escreveu que se juntássemos todas as bibliotecas do mundo, todas as bibliotecas de Portugal e da Grã-Bretanha e da França e da América e da Rússia e da China, elas representam menos de 1% do que realmente aconteceu. A única coisa que é lembrada é o que está escrito. E então comecei a pensar em todos os heróis. Pessoas realmente heróicas e de bom coração que na minha vida se cruzaram comigo e incluíam Buzz Aldrin, o astronauta que andou na lua e com que eu ainda trabalho. No livro incluí outros astronautas da Apollo e Colin Powell, com quem trabalhei durante anos. Incluí pessoas das quais ninguém nunca ouviu falar, que de repente se levantaram e salvaram a vida de alguém. Ou talvez tenham feito isso como mãe ou como enfermeira; há 56 histórias neste livro de pessoas que agiram de uma forma corajosa e bela. Muitos deles são americanos, embora nem todos tenham começado a vida nos EUA. Então, comecei na América. Portanto, o livro chama-se Cherish America porque é sobre o espírito americano de antigamente. E acho que tive muita sorte porque fui criado por pessoas, agora tenho 64 anos, que eram veteranos da Segunda Guerra Mundial.
Fui criado por pessoas que tinham uma verdadeira noção de que a família era importante, que eram muito voltadas para os negócios e muito vigorosas, mas também eram muito altruístas em vários aspectos, e essas são histórias verdadeiramente maravilhosas. Elas foram endossados pela revista People, pelo Washington Post e o prefácio do livro foi escrito por Buzz Aldrin, astronauta da Apollo 11 que caminhou na Lua com Neil Armstrong. E ele não escreve muito.
Ficou orgulhoso por aquilo que ele escreveu no prefácio?
Fiquei muito porque sinto que numa época em que todos estão cheios de más notícias e preocupações, cada uma dessas histórias lembra-nos que existe uma grande bondade no coração do ser humano e que é preciso procurar por essa bondade. Todos os dias se espera algo de nós, e as pessoas que acordam de manhã a pensar nas outras, pessoas que vão dormir à noite a pensar no que podem ser capazes de fazer pelas outras, gente que quando há momentos de grande stress e tensão, apresentam-se e mostram o que é a liderança de uma forma pessoal, nacional e internacional. Tive a grande bênção de trabalhar todos os dias com Colin Powell. Fui seu secretário de Estado adjunto. E direi que o que aprendi com aquele homem excede em muito a minha capacidade de expressar em palavras.
Era um homem que se preocupava profundamente com as outras pessoas, e se pudéssemos acordar todos nós, na Europa, na Rússia e no Médio Oriente, no Extremo Oriente, na América, se pudéssemos acordar e apenas sermos medidos por aquilo que eu faço pelas outras pessoas, você ficaria surpreendido. Quero dizer, Abraham Lincoln neste país é obviamente icônico e houve muitas coisas importantes que disse e fez. Mas entre as suas muitas referências, a ideia é que se pudermos apenas ouvir os nossos melhores anjos como indivíduos, se pudermos apenas parar e ouvir a nossa consciência, o que acontecerá é que acabaremos a ser pessoas que movem montanhas. E é isso que Abraham Lincoln fez, e acontece que eu moro num estado chamado Maine, é um estado rural muito, muito tranquilo. Temos muitos alces. Temos muitos ursos. É muito sossegado. Mas ainda passo muito tempo em Washington, DC, e penso comigo mesmo, que na verdade, isto não se trata do que os média nos dizem, não se trata do que todos os políticos nos dizem. Na verdade, é sobre quem nós, as pessoas, do fundo do coração, escolhemos ser todos os dias. E isso muda o mundo. Abraham Lincoln mudou o mundo, o seu vice-presidente, era deste pequeno estado do Maine, era o Hannibal Hamlin.
Então, de qualquer forma, estou orgulhoso do livro, pode ser comprado através de towerpub.com, está escrito em inglês, é relativamente fácil de ler e, honestamente, já tive empresários que disseram: ‘’quero comprar isso para cada funcionário da minha empresa, para que eles entendam o que significa levantar-se e trabalhar duro, sentir-se bem por trabalhar duro, sentir-se bem por fazer coisas boas para outras pessoas, e foi por isso que escrevi o livro, para lembrar ao mundo e à América quem somos de melhor, numa época em que o resto dos média parecem querer que nos dividamos mais e critiquemos uns aos outros e façamos de tudo uma coisa muito má.
No livro menciona também dois ex-presidentes, Ronald Reagan e George H. Bush, Bush pai; …relacionados com eles ou com algumas outras pessoas corajosas, poderia contar-nos um ou dois desses atos extraordinários de coragem ou bondade?
Sabe, Ronald Reagan é frequentemente considerado um homem simples, mas na verdade ele era um homem muito complicado. Ele era um indivíduo que tinha uma fé pessoal, um homem muito engraçado, especialmente na forma como transmitia as lições. E às vezes penso que as lições que as pessoas realmente boas ensinam, não sei se um bom pai aprende como fazer as coisas como pai e depois as faz melhor como líder empresarial ou líder comunitário ou presidente ou primeiro-ministro. Mas as lições que ele dava, fazia-o com suavidade e humor, mas também era um homem gentil. E sabe, um exemplo disso é: tínhamos as conferências de imprensa no Rose Garden que é um pequeno jardim nos fundos da Casa Branca. Então, algumas dessas histórias estão no livro e, como sabe, muitos repórteres não têm um bom relacionamento com os atores políticos. São sempre hostis. Bem, Ronald Reagan nunca levou nada para o lado pessoal, nunca se ofendeu com algo que alguém disse. E literalmente, nem Colin Powell. É impressionante. Quer dizer, eu trabalhei com esses homens, eu estive na Casa Branca de Reagan em 1981-82 e 83. Trabalhei todos os dias com Colin Powell e encontrava-me com ele. Todas as manhãs tínhamos muitas coisas desagradáveis que eram ditas pelos média. Nenhum destes homens permitiu que isso os incomodasse. Na verdade, eles eram gentis com as pessoas, até mesmo com a imprensa. Um dia um tipo famoso da ABC, Sam Donaldson, foi muito rude com o presidente e arrastou o seu repórter de imagem ao passar pelo presidente numa situação em que basicamente isso não deveria ter acontecido, quando os outros repórteres foram todos muito respeitosos.
Bem, a conferência de imprensa terminou e Ronald Reagan estava a voltar para o Salão Oval, que fica mesmo ao lado do Rose Garden, na Casa Branca, ele estava a voltar e olhou para a relva e encontrou algo. Ele baixou-se e apanhou. Então, eu era um jovem funcionário e perguntei-me o que é que ele tinha apanhado e porque seria tão importante apanhar aquilo? Algo aconteceu e é claro que os outros funcionários, como James Baker, todos queriam que ele fosse para a Sala Oval e ele disse, ‘não, não, tenho de fazer alguma coisa’. Eu segui-o. Entrou na sala de imprensa e deu uma volta e encontrou o operador de câmara que estava a trabalhar com o repórter Sam Donaldson. E disse: ‘deixaste cair a tampa da lente da objectiva’. E deu-lhe a tampa da lente e pensei para mim, meu Deus, aqui está o presidente dos Estados Unidos. Ele não está a ser filmado. Ninguém está a olhar para ele. Nunca ninguém reportará esta história. Será completamente esquecida. Mas ele apenas sentiu que era a coisa certa a fazer, por isso pegou na tampa da lente e deu-a ao cameraman. Sabe, foi uma daquelas coisas que tens de estar lá para ver.
Mas o Colin Powell era igualmente gentil. A minha filha disse uma vez: ‘pai, vamos apanhar maçãs para o Colin Powell. Ela tinha cinco anos’. Eu fui colher as maçãs e entreguei-lhe no dia seguinte. E ele deixou um bilhete pessoal para a minha filha, nessa noite, a dizer “muito obrigado por aquelas maçãs. Eu gosto muito de maçãs”. Assinado: o teu amigo Colin Powell”. Assim o fez 10 mil vezes e algumas das lições deste livro não são apenas sobre coragem, mas também sobre bondade. Os nossos líderes são muitas vezes afastados do povo. E pensamos neles como se estivessem num pedestal ou talvez pensemos neles em termos não muito simpáticos. Mas o que nos esquecemos é que na verdade são pessoas muito humanas. Eles dão e vivem muitas das mesmas coisas que nós. Sentem-se mal de manhã. Eu podia contar-lhe muitas histórias. E há alguns no livro sobre a coragem que tiveram apenas para liderar num contexto ou num estado pessoal de saúde em que o resto de nós diria: ‘Oh meu Deus, vou ficar na cama’. Não, eles não fizeram isso. E, portanto, uma das coisas que este livro tenta fazer é tornar humanas muitas dessas pessoas. George Herbert Walker Bush, Bárbara Bush, eu conhecia a Nancy Reagan razoavelmente bem, e Ronald Reagan e Colin Powell, mas também pessoas que são famosas de alguma outra forma, como Buzz Aldrin, com quem ainda trabalho três ou quatro vezes por semana.
É um livro que pretende funcionar como um certo grito patriótico?
Sim, no bom sentido, sentido patriótico no bom sentido, dizendo… Nós podemos ser maus e podemos ser bons. Vamos identificar-nos nacionalmente como bons. Vamos trabalhar para curar as feridas e fortalecer quem somos como povo, sendo o que temos de melhor, sem cair no nível inferior onde nós nos retratamos para o mundo e também nos retratamos um com o outro, de uma forma que é mais ignóbil do que nobre.
Considera-se um patriota ou um nacionalista?
Sabes que eu, hmmm… meu Deus, nem sequer estou certo de qual é a diferença. Eu sou um internacionalista e um verdadeiro crente nos ideais da América. Ou seja, fui secretário de Estado adjunto de Colin Powell. Dirigi programas em 70 países. Ajudei a reconstruir a força policial iraquiana, a força policial afegã. Estive algum tempo a ensinar os chamados ‘intocáveis’ na Índia. Não tendo nada a ver com o Departamento de Estado, numa outra altura, estive na Universidade de Oxford e passei lá dois anos e, claro, viajei por toda a Europa e, sabe, os meus filhos são ambos internacionalistas. Para que conste, a minha filha está atualmente num programa de um ano em Pequim e fala chinês, russo, francês e sabe lá Deus o que mais. Por isso, acho que me considero aquilo a que se pode chamar um americano patriótico que também é internacionalista e acredita que a melhor forma de a América estar no mundo é ser um líder cooperativo no espaço global. O que é que isso significa realmente? Significa que não se pode fugir às responsabilidades. Colin Powell nunca o faria. Ou que nos afastássemos de qualquer responsabilidade, fosse ela a NATO ou um acordo de cooperação em qualquer parte do mundo, bilateral ou multilateral.
Por isso, tenho tendência para acreditar que, se pudermos escolher o nosso líder americano, que podemos gostar ou não. Quero dizer, desde Theodore Roosevelt. E de Franklin Delano Roosevelt a John F. Kennedy e Ronald Reagan. Havia a crença de que nos envolvíamos no mundo e que parte da nossa responsabilidade moral como americanos, e particularmente como líderes americanos. é reconhecer o. Acho que lhe chamaria a pluralidade de interesses que protegem a liberdade a nível mundial.
Estive em países onde tive de falar com os líderes do país, em particular os países comunistas, e falar sobre os problemas que tinham. Fiz apresentações a pessoas que visitavam o país. Eu, sabe, eu, cristãos, fui preso. Uma grande parte do meu trabalho consistia em viajar pelo mundo, por vezes com Colin Powell, mas por vezes sozinho. Tentar corrigir as coisas que estavam erradas. Tentar transmitir a ideia de que havia um objetivo mais elevado em que todos devíamos estar concentrados e, claro, o idealismo não vai muito longe quando se está num país que é, digamos, um estado de narcotráfico ou um país dominado pelo crime organizado, etc.
Por isso, tenho tendência para acreditar que, se pudermos escolher o nosso líder americano, quero dizer, desde Theodore Roosevelt e Franklin Delano Roosevelt a John F. Kennedy e Ronald Reagan, havia a crença de que nos envolvíamos no mundo e que parte da nossa responsabilidade moral como americanos, e particularmente como líderes americanos, é reconhecer o que lhe chamaria a pluralidade de interesses que protegem a liberdade a nível mundial. Estive em países onde tive de falar com os líderes do país, em particular os países comunistas, e falar sobre os problemas que eles apresentavam a pessoas que visitavam o país. Uma grande parte do meu trabalho consistia em viajar pelo mundo, por vezes com Colin Powell, mas por vezes sozinho. Tentar corrigir as coisas que estavam erradas. Tentar transmitir a ideia de que havia um objetivo mais elevado em que todos devíamos estar concentrados e, claro, o idealismo não vai muito longe quando se está num país que é, digamos, um estado de narcotráfico ou um país dominado pelo crime organizado.
Muito disto tem a ver com o facto de eu ser um patriota ou um nacionalista? Acho que não tenho a certeza de qual é a diferença, mas penso que diria que sou um patriota que acredita que os melhores interesses da América estão num envolvimento mútuo e abrangente no mundo.
Será que esse estatuto dos EUA de líder cooperante no espaço global está de alguma forma em causa?
Sim, penso claramente que sim. Penso que há forças geopolíticas a atuar hoje em dia que tornam o ambiente político altamente competitivo E nem sequer é preciso ser um estudante de Clausewitz para acreditar que, se a política não conseguir resolver os problemas, o resultado será a guerra. E estamos a ver isso em todo o mundo. Por isso, acho que a resposta é sim. Temos de nos empenhar politicamente em todo o lado e temos de nos empenhar de uma forma construtiva e proativa. O Colin Powell costumava dizer: ver à volta das esquinas. E se lhe perguntassem o que é que isso significava, ele teria dito qualquer coisa assim: para evitar problemas que podem ser desestabilizadores e talvez até debilitantes, é preciso antecipá-los. Temos de estar constantemente a pensar à frente. Se tivermos um compromisso algures no Médio Oriente, digamos com a Arábia Saudita, e estivermos a tentar pesar os prós e os contras e a forma como nos vamos envolver, temos de compreender que a decisão que tomarmos nessa região irá afetar a forma como o Irão pensa, que a decisão que tomarmos irá afetar a forma como a China pensa, que a decisão que tomarmos irá afetar a forma como a Rússia interage na Síria. É, sabe, um jogo de xadrez. É um jogo de xadrez multinível. Isso não significa que toda a gente não possa ganhar. Não significa que não se possa encontrar formas de toda a gente ganhar, mas há princípios imutáveis que a Europa tende a conhecer melhor do que a América, mas penso que pessoas como Reagan conheciam-nas muito bem porque ele viveu a Segunda Guerra Mundial. Ele fazia parte da geração da Segunda Guerra Mundial.
A dissuasão baseia-se nisto: se a nossa palavra é boa, estamos preparados para ir para a guerra se tivermos de o fazer; mesmo que seja num ambiente económico difícil, estamos preparados para cumprir as obrigações que assumimos perante nós próprios e faremos com que os outros cumpram as suas obrigações num acordo comercial ou em qualquer outra coisa. Apaziguamento é exatamente o oposto da dissuasão e não funciona. Tem tendência para se degradar com o tempo. Se eu faltar à minha palavra uma vez e depois duas vezes e depois três, na quarta vez não vão acreditar em mim, talvez nem mesmo na segunda, e com razão. Por isso, nós, americanos, temos de compreender que, para o bem e para o mal, desde a Segunda Guerra Mundial, temos sido procurados para definir, de certa forma, o que significa manter a nossa palavra, o que significa criar dissuasão. Isso significa criar laços honrosos entre os países e fazer com que esses laços sejam mantidos firmes, especialmente quando estão a ser ameaçados. A questão que se coloca é se eles se manterão firmes neste momento em que temos um conflito potencialmente significativo no Extremo Oriente. Já temos um conflito muito significativo na Europa de Leste. Temos um conflito muito significativo no Médio Oriente. E temos conflitos nos nossos próprios países e nos nossos blocos aliados. Por isso, se Colin Powell estivesse vivo hoje, e não quero falar por ele, mas penso que ficaria desiludido, porque diria que estes eram problemas que podíamos ter previsto e trabalhado. Por razões que podem ter a ver com a política interna, ou talvez tenham a ver com o facto de acreditarmos que a liderança mundial não é importante, não sei, há diferentes motivações para falhar, mas creio que, neste momento, estamos a falhar às gerações futuras por não olharmos para os cantos e compreendermos que temos a obrigação de nos chegarmos à frente e darmos o nosso melhor e levarmos os outros a darem o seu melhor. Sabe, Reagan foi muito eficaz em levar Gorbachev a pensar melhor. E não sei se nos esforçámos muito para fazer com que Putin pensasse melhor. Portanto, são apenas alguns pensamentos nesse sentido.
É membro do Conselho de Relações Externas (CFR). Pensa que há uma solução viável para pôr fim a estas guerras na Ucrânia e no Médio Oriente?
Bem, a verdade é a seguinte. A Guerra dos Cem Anos, a guerra das Rosas, os conflitos que rodearam o Império Romano, todas as guerras acabam por terminar. Podem acabar mal, podem terminar com algum grau de reciprocidade e podem terminar de formas que mudam o mundo para pior. Se a Segunda Guerra Mundial tivesse terminado de uma forma que não terminou, teria mudado fundamentalmente o mundo para pior. Creio que parte da missão aqui, ao lidar com a Rússia, é... e aí, sabe, a Ucrânia tem problemas de corrupção e há problemas endémicos e indígenas dentro do país, mas a Rússia é um processo tão longo e complicado de discutir... Mas digo-vos isto: penso que temos de encontrar uma forma de pôr fim a este conflito. Uma das razões para isso é o facto de o governo dos Estados Unidos ter investido mais de 100 mil milhões de dólares na defesa da Ucrânia. Cada um dos países da NATO, para o bem e para o mal, contribuiu com uma média de 3,2 mil milhões. Se estivermos unidos como uma aliança, não creio que devamos acionar o artigo 5º. Não creio que devamos estar a tentar encontrar uma forma de entrar em guerra. Não creio que devamos estar a escalar este conflito. Penso que deveríamos estar a tomar em consideração a situação atual, em que os inventários dos Highmars, os nossos inventários de mísseis Javelin, estão a ser esgotados. Países de toda a Europa estão a ter de desembolsar enormes somas de dinheiro. Os polacos, por amor de Deus, estão a alojar muitos dos ucranianos nas suas próprias casas. Temos de encontrar uma forma de chegar a algo que, em última análise... pode até ser apenas um primeiro passo. O que é que Winston Churchill disse a certa altura? ‘Isto não é o fim. Nem sequer é o princípio do fim, mas pode ser o fim do princípio’. E o que precisamos de fazer é começar a pensar dessa forma. Neste momento, há muito pouco pensamento criativo a ser posto na diplomacia. E eu andei na escola com o Tony Blinken. Conheço-o muito, muito bem e, na minha opinião, o Tony não está a ter muito pensamento criativo neste momento. Há uma tendência para acreditar que é preciso manter uma estratégia atual. Por vezes, essa estratégia tem de ser repensada porque não está a chegar a nenhuma conclusão.
É um militante republicano registado, certo?
Sou um republicano registado e considero-me mais... Sabe, quando dizemos a palavra republicano aqui, sou mais aquilo a que chamaria um conservador centrista. Mas, sabe, temos dois grandes partidos aqui. Por isso, ou nos registamos num ou noutro. E, claro, apoio-me nos paradigmas da liderança republicana. Abraham Lincoln, os Pais Fundadores, na verdade, em muitos aspectos, tinham esses princípios da Declaração de Direitos, a nossa Constituição, que, claro, acaba por se basear na Carta Magna. Mas acho que os nossos fundadores eram republicanos na sua orientação. Abraham Lincoln era, Theodore Roosevelt era, acredite ou não, acho que até pessoas como Harry Truman e John F. Kennedy eram. Embora fossem democratas, subscreviam muitos dos princípios que hoje definem o Partido Republicano. E, claro, Colin Powell era e Ronald Reagan era e eles, sabe, eles... Gosto de pensar que eles encarnam a melhor atuação ou implementação dos princípios que temos na nossa Constituição.
Será que esse Partido Republicano ainda existe?
Ah, que óptima questão. Acredito que no fundo sim, e acredito que há partes dos Estados Unidos onde isso acontece de facto. Talvez, sabe, até mesmo se alguém se regista como democrata ou se regista como republicano ou se pode fazer isto como independente, penso que 85% dos americanos acreditam em muitos dos mesmos valores. Há forças que irritam a discussão pública e, infelizmente, nos últimos 10 anos, mais ou menos, temos tido muitas destas questões que irritam a discussão pública. E o que acontece é que as pessoas esquecem-se dos seus melhores anjos, esquecem-se do melhor de si próprias e caem para o nível mais baixo e entram numa luta de gritos ou não querem falar umas com as outras. Ou não subscrevem os princípios que sabem no seu íntimo que deveriam subscrever. Por isso, o meu sentimento é que o Partido Republicano ainda existe no sentido em que se pode tornar um partido unificado.
Ronald Reagan, como se costuma dizer, foi eleito com 6 palavras. Defesa forte. Governo pequeno. Impostos baixos. Portanto, ele queria um governo fiscalmente responsável, centrado na segurança nacional e que precisasse de ser limitado. Toda a nossa Constituição se baseia num governo limitado e não em níveis mais elevados de poder centralizado. Temos tendência a pensar que o poder centralizado, com o tempo, se torna um abuso. E, na verdade, penso que, quer se trate da Europa, dos Estados Unidos ou de qualquer outra parte do mundo, penso que é uma espécie de princípio que se provou ser verdadeiro, que quanto mais se centraliza o poder, menos responsabilidade há para quem está no poder. E por isso, penso que o Partido Republicano deve essencialmente defender um governo limitado. E penso que é algo que é consistente com a maior quantidade de liberdade para cada pessoa que vive numa República. E foi isso que tentámos fazer mas penso que nos afastámos um pouco disso. Penso que nos distraímos com uma série de questões secundárias. E, infelizmente, digo-lhe o que mais me preocupa, Ricardo, preocupa-me na Europa e preocupo-me com isso nos Estados Unidos, é que a violência política substitua de alguma forma o diálogo político e, e penso que isso pode acontecer.
Então, vai votar em Donald Trump?
Nestas eleições não temos muita escolha. Quer dizer, é uma coisa ou outra, certo? É binário. Penso que a liderança Biden-Harris tem sido abismal. Penso que, honestamente, apoiaram o apaziguamento como uma estratégia com o Irão, algo que simplesmente não funcionou. Inicialmente, em muitos aspectos, criaram o efeito dominó com o Afeganistão e algumas outras decisões que, na minha opinião, encorajaram erradamente Putin a fazer as coisas que fez e que continua a fazer. Penso que provaram ser essencialmente reativos e não proactivos. Penso que Donald Trump aprendeu algumas lições; nunca trabalhei para ele, mas olhando para ele e para a forma como interage… penso que esta escolha para vice-presidente, JD Vance, é um jovem muito credível, inteligente, muito bem educado e atencioso. Tem cerca de 40 anos, é uma espécie de John F. Kennedy do tipo conservador e penso que, sim, penso que votarei em Trump-Vance, e digo isto porque estes dois são, de facto, a única forma de preservar a República. Estamos numa situação muito perigosa, porque se a violência política irrompesse em grandes quantidades neste país ou em qualquer parte da Europa, seria muito desestabilizadora. Quero dizer, já estamos a ver isso em alguns pontos. Portanto, penso que…
Não foi violência política o que aconteceu a 6 de janeiro de 2021?
Há dois pontos muito importantes sobre o dia 6 de janeiro. Havia cerca de 300.000 pessoas no Capitólio e cerca de duzentas ou trezentas, talvez, dizem eles, até 700 das 300.000 cometeram estes actos. Acontece que Donald Trump tinha pedido a Nancy Pelosi, a nossa Presidente da Câmara, e ao Presidente da Câmara da cidade para mobilizarem a Guarda Nacional no dia anterior, e eles não o fizeram. Não o fizeram por razões que são bastante misteriosas. Se foi a ideia foi porque não queriam, não sei o que lhes passou pela cabeça. Mas nunca deveríamos ter violência na nossa capital, nem nenhum país civilizado deveria ter violência na sua capital. Também não devemos ter violência em qualquer parte do país. O marxismo tende a ser mais… lidei com pessoas marxistas, leninistas e maoístas em todo o mundo, no Laos e em todo o lado onde estivemos há dessas pessoas. Infelizmente, o comunismo, ou à medida que se passa do poder difuso para o poder concentrado, quer esse poder concentrado seja fascista ou comunista ou uma versão mais leve dessas duas coisas, o que acontece é que há uma tendência crescente para a violência, como a violência a nível nacional, e penso que uma das coisas que Donald Trump aprendeu nos últimos cinco anos ou pelo menos quatro anos, é que esta não é a resposta. Não sei se ele alguma vez pensou que era a resposta, mas creio que agora compreende a importância de manter o controlo sobre o comportamento das pessoas.
Duas tentativas de assassínio muito rapidamente fazem-nos acordar. Na década de 1960, perdemos um presidente, JFK, perdemos um líder dos direitos civis – Martin Luther King - e perdemos um candidato presidencial, Robert Kennedy, que provavelmente teria sido o candidato democrata e poderia muito bem ter-se tornado presidente. Por isso, estamos numa situação em que temos de nos perguntar quem somos. A situação de 6 de janeiro não foi tão má como é retratada, porque não acredito que Donald Trump quisesse que isso acontecesse. Penso que foi holiganismo político e não havia maneira de eles alguma vez tomarem conta do país. É uma ficção e, ao mesmo tempo, a realidade é que, tanto à esquerda como à direita, existe um grande potencial para as pessoas se descontrolarem se os seus líderes não lhes disserem: não é isto que fazemos, não é assim que se fazem as coisas. E penso que uma das lições do 6 de janeiro, mas também dos motins de 2020 neste país, é que as pessoas digam: sabem que mais? Se queremos realmente proteger esta República para o futuro, temos seguramente de manter a violência política baixa e não, ao invés, encorajá-la. Estou a lembrar-me de um velho ditado. Não sei se isto vai ter eco junto do vosso público, mas há um velho ditado que diz que é preciso um carpinteiro para construir um celeiro, mas qualquer cara de cu pode deitá-lo abaixo. E a realidade é que, como Benjamin Franklin disse uma vez, esta é uma República. É preciso muito trabalho para manter uma República, isto se a conseguirmos manter. E a última coisa que as pessoas querem ou deveriam querer, é deitar abaixo uma República e tentar reconstruí-la. Isso não vai funcionar. Temos uma Constituição maravilhosa neste país. Temos uma maravilhosa Carta de Direitos. Só temos de as honrar e honrar as instituições que fazem cumprir o Estado de direito. E isso inclui a nossa legislatura, o nosso poder executivo e o nosso poder judicial, o nosso Supremo Tribunal.
No dia 5 de novembro, se o resultado não for o desejado, se Donald Trump perder, aceitará a derrota?
Sim, Sim, aceita. Mas digo-lhe que o que preocupa as pessoas neste país, mais do que qualquer questão individual, é a falta de confiança no próprio processo. As pessoas estão preocupadas com a imigração ilegal e com o facto de termos algures - nem sequer sabemos - entre 11 e 20 milhões de estrangeiros ilegais e de haver pessoas a encorajá-la ainda mais. Esta é uma das razões pelas quais não sou favorável ao Governador Walz. Ele encorajou a vinda de imigrantes ilegais para cá, não de imigrantes legais que passam até sete anos para se naturalizarem, mas simplesmente aparecem, tiram a carta de condução e votam. Bem, não é assim que a nossa Constituição está configurada. A cidadania do país é que deve votar. E se recuarmos no tempo e olharmos para o Império Romano, uma das razões pelas quais o Império Romano se afastou de uma República e acabou por se tornar uma ditadura foi o facto de a cidadania se ter diluído ao ponto de as pessoas não sentirem o dever cívico e todos se sentirem com direito. E depois, o resultado final foi o caos.
Sempre que se instala o caos, seja à esquerda ou à direita, o governo intervém para tentar restaurar a estabilidade. Por isso, a minha esperança é que nunca cheguemos lá. Temos eleições muito boas. As pessoas têm o cuidado de garantir que os votos ilegais sejam reduzidos ao mínimo. Há um entendimento consciente entre democratas, independentes e republicanos de que o futuro da República depende do respeito pelo resultado das eleições. Penso que JD Vance, que é o candidato a vice-presidente, disse isso muito claramente. Tal como Tim Walz na outra noite, quando debateram, disseram que, sim, o que é que perdemos ou ganhamos, respeitamos o processo republicano. Por isso, parte do nosso trabalho é, obviamente, manter isso. Vocês, aliás, têm isso muito melhor que nós.
Os países europeus não permitem a recolha de votos, não permitem votos não verificados, não permitem o tipo de coisas que acabámos por permitir em 2020 neste país, o que provavelmente não é sensato. E penso que foram instauradas cerca de 120 acções judiciais nos últimos dois ou três anos, tentando - agora que a COVID deixou de existir -, tentando restaurar um sentimento de confiança no governo estadual e também no governo federal, porque sem confiança não temos realmente nada.
Uma última questão. O seu outro livro, Eagles and Evergreens (North Country Press, 2018), contém 45 histórias sobre como crescer no Maine rural sob a influência de veteranos da Segunda Guerra Mundial, como alguém escreveu, celebrando os valores não partidários que eles transmitiram. Fale-nos um pouco sobre essa América...
Que óptima saída. Essa é a América que eu penso ser a de todos nós, quer sejamos europeus ou americanos, é a nossa melhor versão. Quando nos respeitamos uns aos outros, compreendemos que é melhor não travar guerras. Reconhecemos que o trabalho árduo é algo que os nossos pais e os nossos avós apreciam e que nos foi transmitido. Comecei a trabalhar aos 11 anos e esse livro contava histórias de como os jovens começavam a trabalhar e a pensar no que deviam. Para ir para a universidade, eu não tinha dinheiro, por isso contraí empréstimos. Não queria que o governo federal pagasse esses empréstimos, senti que era uma promessa que tinha feito a mim próprio de que iria honrar o investimento que outros tinham feito em mim e que iria trabalhar para recuperar esse dinheiro. E foi o que aconteceu. Levei vários anos a fazê-lo, por isso esse livro, Eagles and Evergreens, é uma combinação de histórias engraçadas e de histórias comoventes que têm a ver com o facto de a geração da Segunda Guerra Mundial, quando passou pelos horrores da Segunda Guerra Mundial, na Europa e nos Estados Unidos, ter saído de lá com uma espécie de maturidade intergeracional que tentaram arduamente transmitir aos jovens. Tenho agora 64 anos, mas já fui jovem e eles tinham a minha idade durante esse período do meu crescimento e o que eles fizeram foi ensinar-nos que a nossa palavra é importante.
Ensinaram-nos a respeitar o país. Ensinaram-nos a respeitarmo-nos uns aos outros porque criaram expectativas em relação a nós. Começámos a ter expectativas em relação a nós próprios, e eu tenho irmãos. A minha mãe era professora, uma professora de escola, e criou quatro filhos sozinha. E o que ela realmente nos ensinou foi: respeitem-se a vós próprios, trabalhem arduamente, andem com calma. Andem humildemente com o vosso Deus. Não acreditem que são os donos do universo. Apenas o vosso próprio destino e trabalhem arduamente para serem importantes para as outras pessoas. Os filósofos chamam-lhe ser O Outro em relação ao mundo. Os veteranos da Segunda Guerra Mundial eram O Outro em relação ao mundo. E preocupavam-se com as pessoas da comunidade em que cresci e, no fundo, criaram essa comunidade.
Por vezes penso que muitos dos veteranos da Segunda Guerra Mundial, em todo o mundo, foram à guerra para nos salvar dos horrores nazis e do Japão imperial. Mas quando regressaram a casa, nós, as pessoas que não partiram, nós, nas pequenas cidades, salvámo-los porque ajudaram a construir o tecido ou a fortificar o tecido dessas pequenas cidades para que não nos esquecêssemos de como a liberdade é preciosa. E esforçávamo-nos muito para sermos pacientes e disciplinados para preservar a paz pela qual eles tinham lutado. E acho que a minha verdadeira preocupação, Ricardo, e isso volta ao início desta entrevista, é que esquecemos a História. O meu livro, Cherish America, é de facto sobre História, mas é sobre histórias de pessoas individuais, tal como as histórias de pessoas que atravessaram a 2ª Guerra Mundial. E há algumas neste livro sobre a Segunda Guerra Mundial, e o que é que eles aprenderam? O que é que estes indivíduos que passaram pela vida e sofreram coisas difíceis e regressaram e depois construíram famílias... O que é que aprenderam que estavam realmente a transmitir-nos sem sequer usarem as palavras, estavam apenas a transmitir-nos os seus exemplos? Por isso, o meu sentimento sincero é que o livro Cherish America, e o livro Eagles and Evergreens, nos ensinam lições através de histórias. Ninguém quer um sermão. Ninguém quer que lhe digam o que é suposto pensar, mas histórias sobre pessoas reais, histórias verdadeiras, ensinam-nos coisas que nunca esqueceremos.
Muito obrigado.
Foi um grande prazer, obrigado Ricardo.