UE e o fracasso na relação com a Venezuela: "Podemos enganar-nos com coisas novas, mas não com coisas que já tentámos"
É um fracasso a abordagem da União Europeia em relação à Venezuela, que vai ter eleições em julho. Quem o assume é um eurodeputado socialista espanhol Javi Lopez, que preside à Delegação do Parlamento Europeu na Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana.
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Entre não ir ao engano, atirar a toalha ao chão ou mobilizar quem, na região, terá mais capacidade por fazer pelo futuro democrático da Venezuela. Javi Lopez, em entrevista à TSF no Congresso da EuroRed, associação de editores europeus e latino-americanos, assume o falhanço daquilo que tem sido feito até agora. Mas Javi Lopez também pensa que "não é apenas a União Europeia, mas toda a comunidade internacional, a comunidade que tem sido incapaz de lidar com muitas crises.
O que é que experimentámos em termos de segurança ou de crises democráticas?
A Venezuela viveu uma crise democrática muito profunda nos últimos anos e nem a região, nem a América Latina, nem o Ocidente, nem o Conselho de Segurança, nem as Nações Unidas, nem a Organização dos Estados Americanos (a OEA), foram capazes de pressionar o país a regressar às liberdades e a eleições competitivas e justas, que não teremos, infelizmente este mês de julho na Venezuela.
Será por isso que diz que é importante que haja um envolvimento dos atores regionais?
Exatamente. Do meu ponto de vista, penso que a crise demográfica democrática que o país atravessa não pode ser resolvida a partir da Europa ou dos Estados Unidos, porque também, dentro da região, há uma relação muito profunda e histórica com a soberania dos Estados e devem ser os atores, os grandes atores regionais, que devem garantir que a América Latina, continua a existir na sua totalidade como um bloco democrático; e vemos, não só nesse país, mas na Nicarágua um forte risco. Vimo-lo na Guatemala, por exemplo, esse risco e, graças à comunidade internacional, houve uma transição de poder, respeitando a vontade do povo guatemalteco. Nos casos da Nicarágua e da Venezuela, a cumplicidade da comunidade internacional vai ser necessária.
O eurodeputado do PSOE pensa que os países que podem fazer esse trabalho de ajudar a fazer a Venezuela regressar para a esfera democrática, são "os grandes atores regionais, eu diria México, Brasil, Colômbia, os seus vizinhos". Mas não os Estados Unidos?
Penso que existe uma relação muito refratária. Os Estados Unidos tentaram tudo. Os Estados Unidos aplicaram sanções brutais contra a Venezuela que tiveram um enorme impacto na vida dos venezuelanos e como sabemos, reconheceram, um governo alternativo. E reconhecemos Guaidó e sabemos o que aconteceu, ou seja, que essa operação falhou, certo? Não deu frutos. Portanto, o que estou a dizer é que me parece que podemos enganar-nos com coisas novas, mas não com coisas que já tentámos.