Na noite de 3 para 4 de junho de 1989, os tanques do exército chinês irromperam pela Praça Tiananmen e acabaram com sete semanas de protestos pró-democracia, liderados por estudantes.
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A União Europeia reclamou hoje a libertação das pessoas detidas há 30 anos durante "os protestos pacíficos pela democracia" na Praça de Tiananmen, em Pequim, e lamentou o silêncio das autoridades chinesas sobre os acontecimentos de 1989.
Na noite de 3 para 4 de junho de 1989, os tanques do exército chinês irromperam pela Praça Tiananmen e acabaram com sete semanas de protestos pró-democracia, liderados por estudantes.
Os protestos ganharam força durante maio de 1989, pouco após a morte do líder reformista Hu Yaobang, que dividiu a hierarquia do Partido Comunista (PCC) em fações.
A repressão sangrenta destes protestos, que poderá ter feito centenas ou até mesmo mais de mil mortos, continua a ser um assunto tabu na China.
Em comunicado, a Alta Representante da UE para a Política Externa sublinha que "os números exatos daqueles que morreram e foram detidos a 4 de junho (de 1989) e na repressão que se seguiu nunca foram confirmados e poderão nunca vir a ser conhecidos", lamentando que, ainda hoje, Pequim não reconheça os acontecimentos de há 30 anos.
"O reconhecimento desses eventos e dos mortos, detidos ou desaparecidos em ligação com os protestos de Tiananmen é importante para as gerações futuras e para a memória coletiva", sustenta Federica Mogherini no comunicado hoje divulgado em Bruxelas, por ocasião do 30.º aniversário da repressão sangrenta dos protestos de Tiananmen, em Pequim.
Mogherini aponta que "a UE espera a libertação imediata dos defensores dos direitos humanos e advogados detidos ou condenados por ligações a esses eventos ou às suas atividades em defesa do estado de direito e democracia, incluindo Huang Qi, Gao Zhisheng, Ge Jueping, o pastor Wang Yi, Xu Lin e Chen Jiahong".
"Continuamos hoje a assistir a uma repressão da liberdade de expressão e de associação e da liberdade de imprensa na China", observa a chefe de diplomacia europeia.
Lembrando que "os direitos humanos são universais, indivisíveis e interdependentes" e que "as leis e padrões internacionais contemplam o respeito das liberdades fundamentais", a Alta Representante termina advertindo que o compromisso com os direitos humanos "é e continuará a ser um pilar fundamental" da parceria estratégica UE-China.
Uma dura lição
Ouvida pela TSF, Raquel Vaz Pinto, autora do livro "A grande muralha e o legado de Tiananmen", tem um entendimento diferente. A investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais considera que Pequim tirou lições do que aconteceu em Tiananmen.
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"A China aprendeu imenso. O Governo chinês foi confrontado, da forma mais dura, com o poder da comunicação", refere Raquel Vaz Pinto.
A cobertura que os meios de comunicação internacionais deram ao caso foi um aviso para a China de que, se não contasse a sua história, outro alguém a contaria por ela. A partir daí, tornou-se claro para o Governo chinês de que teria de "encontrar uma narrativa em matéria de Direitos Humanos", afirma a investigadora.
"A China percebeu que tinha que ter mais gente consigo e começou aquilo a que alguns chamaram de 'ofensiva do charme', defende a especialista. "E, ao fim de 30 anos, a China é um ator político fundamental."
Notícia atualizada às 11h53