"UE tem de agir agora." Eurodeputado alerta para escassez de profissionais de saúde
Em entrevista à TSF, o eurodeputado defende que a UE e os governos devem “antecipar soluções” para evitar uma crise de escassez de profissionais
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O eurodeputado social-democrata Sérgio Humberto alerta, esta quinta-feira, para a necessidade “urgente” do reforço da formação, atração e retenção de profissionais de saúde na União Europeia, sublinhando que os sistemas nacionais enfrentam um défice crescente de recursos humanos qualificados.
Em entrevista ao programa Fontes Europeias da TSF, o eurodeputado defende que os Estados-membros e a União Europeia devem “antecipar soluções” para evitar uma crise de escassez de profissionais, que poderá ter implicações na qualidade e acesso aos cuidados de saúde nos próximos anos.
Segundo o Sérgio Humberto, que cita dados da Comissão Europeia, “em 2023, já havia um défice de 1,2 milhões” de profissionais de saúde nos Estados-membros. E, em 2030, a escassez de médicos e enfermeiros pode “atingir os quatro milhões se não forem tomadas medidas estruturais".
“A União Europeia tem de agir agora. Não podemos chegar a 2030 e dizer: ‘Faltam-nos quatro milhões de profissionais de saúde’, sem termos trabalhado antecipadamente para evitar essa situação”, avisa o eurodeputado.
Entre as soluções que considera prioritárias, Sérgio Humberto destaca o aumento do número de vagas para estudantes de medicina e enfermagem, referindo que “Portugal já deu o exemplo nesse sentido, com o atual Governo liderado por Luís Montenegro a promover um aumento de 6% no número de vagas para o ensino da medicina”.
Segundo o eurodeputado, essa medida garantirá, já no próximo ano letivo, que “mais 130 alunos ingressem no curso”. No entanto, Sérgio Humberto salienta que este aumento, por si só, não será suficiente para suprir as necessidades futuras do setor.
Retenção de talento
Um dos desafios identificados por Sérgio Humberto é o reconhecimento de diplomas de profissionais de saúde estrangeiros que pretendem exercer na União Europeia. O eurodeputado defende a necessidade de “simplificar e acelerar os processos burocráticos” para a validação das competências de médicos e enfermeiros qualificados que imigram para os países europeus.
“Precisamos de acabar com burocracias desnecessárias que impedem profissionais altamente qualificados de exercerem na União Europeia”, alerta o deputado, frisando que “isto tem de ser feito sem comprometer a exigência dos critérios”. Considera ainda necessário assegurar “que, quem tem as competências, pode trabalhar de forma célere”.
Inteligência artificial
Nesta entrevista, o eurodeputado destaca ainda a importância da “inovação tecnológica” para melhorar a eficiência dos serviços de saúde e libertar profissionais de tarefas administrativas, apontando a inteligência artificial como um aspeto determinante para alcançar essa transição.
“Temos de apostar na inteligência artificial para libertar os profissionais de saúde de tarefas burocráticas e administrativas, permitindo que se concentrem no que realmente importa: cuidar das pessoas. Isto ajudará a reduzir o desgaste profissional e, ao mesmo tempo, melhorará a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos”, refere o deputado, defendendo que este tema seja tratado de forma prioritária no próximo quadro financeiro plurianual da União Europeia, para garantir verbas para a saúde.
Geopolítica e segurança nos hospitais
O eurodeputado reconhece “desafios” na União Europeia, na área da saúde, no contexto de instabilidade geopolítica global. No entanto, garante que o reforço do investimento na área não pode comprometer o financiamento destinado à saúde.
“A saúde continua a ser um pilar fundamental do modelo europeu e a União Europeia não pode descurar esse investimento, mesmo num cenário de novas prioridades estratégicas”, sublinha.
Questionado sobre a segurança dos hospitais perante possíveis ataques cibernéticos, Sérgio Humberto adianta que o Parlamento Europeu está a trabalhar para lidar com “o desafio”.
“A Comissão [parlamentar] de Saúde começou a funcionar há apenas dois meses e estamos ainda a definir prioridades, mas a segurança cibernética dos hospitais é um dos temas em agenda. A proteção dos dados dos pacientes e dos sistemas informáticos hospitalares é crucial, especialmente num contexto em que a digitalização dos serviços de saúde está em aceleração”, afirma.