Um Brexit que mantém a Irlanda do Norte no mercado único? É a nova proposta de Boris
A Irlanda do Norte permaneceria sujeita à maioria das regras europeias em termos de produtos agroalimentares e industriais, cujo controlo aduaneiro seria feito por meios tecnológicos, facilitando a circulação para a Irlanda, na única fronteira terrestre entre o Reino Unido e a UE.
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O Governo britânico vai propor um plano para o Brexit que mantém a Irlanda do Norte alinhada com o mercado único europeu durante quatro anos, mas fora da união aduaneira, noticia o jornal Daily Telegraph.
Segundo o jornal, a alternativa para o mecanismo de salvaguarda designado por 'backstop' no Acordo de Saída, chumbado anteriormente três vezes, e que o primeiro-ministro, Boris Johnson, considera inaceitável, cria uma "relação especial" entre a província britânica e a União Europeia (UE) até ao final de 2024.
"O plano significa na realidade que a Irlanda do Norte permanecerá em grande parte do mercado único da UE até pelo menos 2025 - mas deixará a união aduaneira da UE juntamente com o resto do Reino Unido", adianta o jornal.
Após quatro anos, acrescenta, a Assembleia da Irlanda do Norte terá a liberdade de escolher se permanece alinhada com a UE no futuro ou se volta a seguir as regras britânicas, que nessa altura já não serão as mesmas que Bruxelas.
Por outro lado, devido às diferenças em termos regulatórios, alguns produtos também teriam de ser submetidos a controlos na circulação entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido.
Denominado pelo Daily Telegraph como "duas fronteiras durante quadro anos", a proposta antecipa a possibilidade de o Reino Unido negociar um acordo de comércio livre com a UE até ao final de 2020, mas a Irlanda do Norte teria a possibilidade de ficar alinhada com o mercado único durante mais tempo.
Segundo o diário britânico, o plano foi avançado às principais capitais da UE na terça-feira e implica que Bruxelas ceda na sua exigência de uma fronteira completamente aberta na ilha da Irlanda, a exclusão de normas aduaneiras e de alguns dos princípios de funcionamento do mercado europeu.
Os detalhes deverão ser conhecidos ao final desta manhã, quando o primeiro-ministro, Boris Johnson, discursar no congresso anual do Partido Conservador, em Manchester.
Segundo o sucessor de Theresa May, esta é uma "proposta final" com o objetivo de concluir um novo acordo para o 'Brexit' "justo e razoável" até ao prazo de conclusão do processo de saída da UE, a 31 de outubro.
"Se Bruxelas não dialogar sobre esta proposta, então este Governo deixará de negociar até que deixemos a União Europeia", referiu o seu gabinete em comunicado.
O 'backstop' foi a principal razão invocada por eurocéticos e pelo Partido Democrata Unionista (DUP) da Irlanda do Norte para o chumbo por três vezes do Acordo de Saída, resultando no adiamento do 'Brexit' para além da data inicialmente estipulada de 29 de março.
O mecanismo consiste em criar um "território aduaneiro comum", abrangendo a UE e o Reino Unido, no qual não haveria quotas ou tarifas para produtos industriais e agrícolas que circulassem na ilha da Irlanda.
Esta solução só entraria em vigor após o período de transição, inicialmente previsto para durar até ao final de 2020, caso não fosse encontrado outro mecanismo, mas Boris Johnson considera que é "anti-democrática".