
O casamento de Baiana e Deoclides no Lixão da Cidade Estrutural, em Brasília
© Myke Sena/Jornal de Brasília
Bodas de Baiana e Deoclides foi no Lixão da Cidade Estrutural, um lugar com montanhas de detritos de 55 metros a 15 quilómetros do Palácio do Planalto.
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No dia 20 de janeiro o maior depósito irregular da América Latina, o Lixão da Cidade Estrutural, em Brasília, foi fechado. A montanha de detritos, que chegava a 55 metros de altura e somava 40 milhões de toneladas, servia de local de trabalho a cerca de 1200 catadores de lixo.
Mas a notícia de que aqui se trata é de dois dias antes. Baiana, 63 anos, e Deoclides, 38, que trabalharam como catadores por quatro e dez anos, respetivamente, resolveram casar-se. E, românticos incorrigíveis, escolheram como palco da boda o lugar onde se conheceram. "A ideia partiu de um amigo comum, anos antes", conta Baiana, que tem um canal de youtube onde imita a cantora pimba Joelma e ainda sonha em participar de novelas, ao jornal Folha de S. Paulo.
O período de namoro foi rápido e prático: "Achei-o bonito e perguntei-lhe: você é solteiro? Ele disse que sim e eu respondi "hoje à noite é lá em casa"". Deu em casamento: ela de vestido de noiva, ele trajado a rigor, passadeira vermelha sobre o lixo, convidados a comer e a beber do bom e do melhor entre os detritos.
Deoclides lamenta o preconceito que sofrem os catadores e o agora ex-lixão. "O lixão faz parte da nossa vida, não dá para negar". Com o seu fecho teme o futuro. "Muita gente pagava até creche para os filhos com o dinheiro retirado do lixão, agora vamos para um retiro oferecido pelo governo para ex-catadores mas só Deus sabe o futuro".
Baiana e Deoclides, entretanto, farão os possíveis para viver felizes para sempre.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da Rádio a crónica Acontece no Brasil.